Como avaliar uma empresa de software e seus produtos e serviços (IV)

publicado em 16.03.2009

 

Nas três últimas letterícias, tratamos sobre avaliação de empresas (e, particularmente, empresas de software). Vimos como o bem software é identificado na sua cadeia de produção, bem como alguns detalhes sobre a estrutura de oferta do mercado de software, e iniciamos uma abordagem sobre o lado da demanda de software.  Hoje vamos tratar de um aspecto importante na avaliação da demanda de software: os bens em rede.

 

Os mercados que incluem bens e serviços tais como telefones, e-mail, Internet, hardware de computadores, software de computadores (e de celulares, palms, PDAs-personal  digital  assistants,  Ipods), tocadores de música, vídeo players (como vídeo-games), vídeo movies, serviços bancários, serviços de aerolinhas, serviços legais, e muitos mais, são denominados de bens e serviços em rede.

Próxima edição:

 

Como avaliar uma empresa de software e seus produtos e serviços (V)

publicada em 24.03.2009

Hoje, daremos um "ponta-pé" inicial na definição de um "modelo de valoração de empresa de software" a partir de um "modelo de valoração de software". Este modelo de valoração de software é baseado na "disposição a pagar dos consumidores" como sendo o definidor do valor final do produto, acima do seu valor básico, e que reflete a percepção dos consumidores quanto ao valor adicionado pela empresa ao produto...

 

Edição anterior:

 

Como avaliar uma empresa de software e seus produtos e serviços (III)

publicada em 09.03.2009

Hoje vamos tratar um pouco sobre o lado da demanda de software.
Partindo-se para a análise econômica do lado da demanda, o desenho de um software deve atentar para os custos do seu uso pelo consumidor.  Primeiramente, é necessário entender que o consumidor deve aprender como usar um software, ou sistema de informação, em...

 

 

As principais características destes mercados, que os distinguem dos mercados de bens agrícolas, de bens divisíveis da indústria (como bebidas, carros, etc.) e de títulos do Tesouro Nacional são ([1]):

 

Complementaridade, compatibilidade e padrões;

Externalidades de consumo;

Custos de mudança e aprisionamento; e,

Significativas economias de escala na produção.

 

Complementaridade, compatibilidade e padrões

 

Computadores não são úteis se eles não tiverem monitores acoplados, ou se eles não tiverem software instalado.  CD players não são úteis sem os CD’s físicos, da mesma maneira que as canetas não são úteis se não contiverem tinta.  Na literatura econômica tais bens são chamados complementares.  Complementaridade significa que consumidores nestes mercados estão comprando sistemas (por exemplo, computadores e software, music players and CD’s, vídeo players e DVD’s), mais que produtos individuais. 

 

O fato dos consumidores estarem comprando sistemas de componentes complementares permite às empresas estabelecerem todas as sortes de estratégias competitivas com outras empresas.  Neste sentido, uma pergunta natural é se as empresas se beneficiam ao produzirem equipamentos que possam funcionar com equipamentos produzidos por outras empresas ([2]).  A próxima pergunta seria como complementos são produzidos.

 

Para que sejam produzidos bens complementares é necessário que eles sejam compatíveis.  Um álbum de CD deve ter a mesma especificação dos CD players, ou não poderá ser visto ou ouvido.  Uma porta paralela na parte posterior de cada computador deve gerar a mesma voltagem que aquela requerida para inserir os dados em uma impressora acoplada a esta porta.  Isto significa que produtos complementares devem operar com o mesmo padrão.  Isto cria um problema de coordenação de como as empresas concordam em termos dos padrões. 

 

Complementaridade também se torna um fator crucial nos mercados de bens de informação.  Por exemplo, pessoas que são assinantes da Revista Cláudia (http://claudia.abril.com.br/index.shtml) são provavelmente interessadas em catálogos de moda, assim como as pessoas que lêem o Estado de São Paulo são interessadas em revistas de imóveis e decoração de interiores.

 

Externalidades

 

Quem faria uma assinatura de um serviço de telefone sabendo que ninguém assinaria para o mesmo serviço?  Quem compraria máquinas de fax sabendo que ninguém tem uma máquina como essa?  Estes exemplos demonstram que a utilidade derivada do consumo desses bens é afetada pelo número de outras pessoas usando produtos similares ou compatíveis.  Este tipo de externalidade não acontece em mercados como os de tomate, ou de sal, na medida em que o consumo destes bens não requer compatibilidade com outros consumidores.  Tais externalidades são muitas vezes referidas como externalidades de rede

 

Um exemplo ([3]) que pode revelar os detalhes de mercados com externalidades positivas de redes é o que se encontra demonstrado pela Figura 1, à frente. O gráfico apresenta um conjunto de curvas de demanda de mercado para conexões com a Internet.  Nesse exemplo, assume-se que uma conexão com a Internet representa uma assinatura com o provedor de acesso à Internet, como a American Online ou Microsoft Network.  A curva D30 representa a demanda, se os consumidores acreditarem que 30 milhões de assinantes têm acesso à Internet.  A curva D60 representa a demanda, se os consumidores acreditarem que 60 milhões de assinantes têm acesso à Internet.  Supõe-se inicialmente que o acesso à Internet custe US$ 20,00 por mês e que existam 30 milhões de assinantes (ponto A no gráfico).

 

O quê acontecerá se o preço mensal de acesso diminuir para US 10,00?  Se não existissem externalidades de rede positivas, a quantidade demandada simplesmente variaria à medida que se movesse ao longo de D30.  A quantidade de assinaturas cresceria para 38 milhões de linhas (ponto B da figura).  Entretanto, existem externalidades de rede positivas.  À medida que mais pessoas utilizam e-mail e outros serviços fornecidos pela Internet, mais pessoas farão assinaturas.  Desse modo, a um preço mais baixo, o número de consumidores que deseja acessar a Internet será inclusive maior do que um movimento ao longo da curva D30 para o ponto B indicaria.  O número total de assinaturas demandadas ao preço mensal de US$ 10,00 crescerá para 60 milhões (ponto C na figura).  O efeito total da redução no preço é um aumento de 30 milhões de assinantes.  O efeito total é a soma do efeito puro de 8 milhões de novos assinantes (movimento do ponto A para o ponto B), com o efeito imitação de 22 milhões de novos assinantes (movimento do ponto B para o ponto C).  Um efeito imitação se refere ao aumento da quantidade demandada, quando maior número de consumidores está conectado à Internet.  Portanto, a curva de demanda observada com externalidades de rede positivas é mais elástica do que uma curva de demanda sem externalidades de rede (como a D30).

 

Custos de mudança e aprisionamento

 

Aprender a dominar um sistema operacional em particular, tais como Windows, Linux, ou Macintosh, leva tempo (dependendo do nível do usuário).  É um fato estabelecido que usuários ficam “chateados” por terem que trocar de sistema operacional.  Para alguns consumidores, trocar de sistema operacional é tão difícil quanto aprender uma nova língua.  Do lado da produção, os produtores dependem fortemente de padrões usados na produção de outros componentes do sistema.  Por exemplo, companhias aéreas dependem de partes componentes e serviços providos pela indústria de aviões. 

 

Custos de mudança são também significativos nas indústrias de serviços.  Estimativas mostram que o custo associado com mudança entre bancos (exemplo, o fechamento de uma conta em um banco e a abertura e troca de atividades para outro banco) pode atingir 6% em média do balanço da conta. 

Em todos estes casos, é dito que os usuários estão aprisionados.  O grau de aprisionamento é determinado ao calcular o custo de mudança para um diferente serviço ou pela adoção de uma nova tecnologia, desde que esses custos determinem o grau em que os usuários estejam aprisionados a uma dada tecnologia.  Estes custos são chamados custos de aprisionamento.

 

Significativas economias de escala na produção

 

Software, ou mais genericamente qualquer informação, tem a característica altamente observável de que a produção da primeira cópia envolve altos custos (custos que não podem ser recuperados), enquanto que a segunda cópia (terceira, quarta, e daí por diante) custa quase nada para reproduzir.  O custo de coletar informação para a Enciclopédia Britânica envolve mais de cem anos de pesquisa bem como o tempo de vida de um bom número de autores.  No entanto, o custo de reproduzi-la em um conjunto de CD’s é menor que cinco dólares. 

 

 

O custo de desenvolver um software avançado envolve milhares de horas de tempo de programação, no entanto, o software pode agora ser distribuído sem custo pela Internet. Em termos econômicos, um alto custo fixo junto com um custo marginal quase negligenciável, implica que a função de custo médio declina fortemente com o número de cópias vendidas aos consumidores.


Se sua empresa, organização ou instituição, deseja saber mais sobre avaliação de software, sinta-se a vontade para nos contatar!


 

[1]   A essência da discussão dessas características pode ser observada no livro “The Economics of Network Industries”, de Oz Shy.  Cambridge University Press. 2001.

[2]   Um exemplo clássico do mercado de sistemas de hardware e software de PCs é aquele expressado pelos das plataformas Windows e da plataforma Macintosh, que por décadas foram rivais sem funcionamento mútuo compatível.

[3]    Retirado do livro “Microeconomia: Uma Abordagem Completa”, de David Besanko e Ronald R. Braeutigam.  LTC, 2004.

 

 

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