Um Gargalo da Inovação no Brasil: a Estrutura Institucional de Análise da Inovação

publicado em 20.07.2009

 

Se um marciano tivesse visitado o Brasil no início da década de 90 do século passado, e tivesse retornado nos dias atuais, perceberia que houve uma mudança substantiva no ambiente em que se desenvolvem as idéias e as práticas da ciência, tecnologia e inovação deste país. Àquela época, o país estava mergulhado num mar de incertezas, num contexto de abertura econômica com hiper-inflação, política cambial inconsistente, e crise fiscal aguda, com problemas sociais ainda muito profundos, e com um debate científico-tecnológico (a palavra inovação não estava no vocabulário dominante) muito atrelado à escassez de recursos financeiros (estes eram vistos como exclusivos dos parcos orçamentos federais e estaduais) e recursos  humanos  qualificados,  já  que   o   país   detinha   um   baixo   “contingente intelectual de reserva” (parafraseando Karl Marx, com seu “exército industrial de reserva”).  Por incrível que possa parecer, pouco se referia (naquele ambiente) ao hiato   institucional,   o   que  parecia  dar  a  entender  que  as  instituições  existentes

Próxima edição:

 

Pesquisa e Inovação no setor privado

publicada em 27.07.2009

A OECD- Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento acaba de lançar um relatório intitulado "Policy Responses for Economic Crisis: Investing in Innovation for Long-Term Growth" (junho, 2009, que pode ser baixado aqui), cuja tradução é o título desta letterícia. O recado do relatório é simples e objetivo, e serve sobremaneira para países não-membros como o Brasil...

 

Edição anterior:

 

Respostas de Políticas para Crise Econômica: Investir em Inovação para Crescimento de Longo-Prazo (OECD)

publicada em 13.07.2009

A OECD- Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento acaba de lançar um relatório intitulado "Policy Responses for Economic Crisis: Investing in Innovation for Long-Term Growth" (junho, 2009, que pode ser baixado aqui), cuja tradução é o título desta letterícia. O recado do relatório é simples e objetivo, e serve sobremaneira para países não-membros como o Brasil...

 

estavam “dando conta do recado”.

 

Mais de uma década depois, o Brasil se vê hoje com uma economia mais organizada (e mais resistente às crises), com inflação de país de primeiro mundo, com uma política cambial clara e com controles fiscais mais rígidos, com uma rede de proteção social mais sólida e mais disseminada na sociedade, e com uma estrutura de fomento à inovação (palavra já arraigada no discurso dominante) mais desenvolvida, baseada em fundos de recursos financeiros específicos, e uma legislação de incentivos financeiros e fiscais mais aderente (Lei de Inovação e Lei do Bem, dentre outros mecanismos), bem como uma geração de novos mestres de doutores numa proporção pouco pensada anteriormente (mais de 33 mil novos mestres/ano e mais de 11 mil doutores/ano). E, por mais incrível que possa parecer, não se vê no discurso dominante muitas referências a mudanças institucionais.

 

Apesar de mais organizada, a economia brasileira não parece estar plenamente preparada para enfrentar os enormes desafios do século 21, dentre os quais se destaca a necessidade de concorrer (para oferecer bens e serviços) num contexto de forte competição baseada em tecnologia e inovação.  Em outras palavras, ainda enfrentamos um agudo paradoxo tecnológico (excelência e pujança em pesquisa básica e fundamental que não se translada, ou se transforma, em excelência e sucesso comercial), questão que tratamos na letterícia 23/2009

 

A questão que não quer se calar é a seguinte: se hoje temos mais dos insumos necessários à inovação, ou seja, recursos humanos qualificados e recursos financeiros e fiscais (como defendem as autoridades federais, “nunca na história do país contamos com tantos recursos!”), por que ainda não transformamos estes insumos nos produtos que tanto o país precisa (empresas de base tecnológica e negócios a elas associados)? Nossa resposta é que um gargalo da inovação do Brasil se encontra não mais nos insumos, mas sim na sua estrutura institucional de análise da inovação.  E a forma que encontraremos para defender este argumento é observando um item fundamental a um fluxo de geração de inovações mais consoante com as necessidades do país: a análise de projetos de inovação!

 

Como é feita a análise projetos de inovação no Brasil? Quais instituições fazem estas análises? Quem são as pessoas que fazem essas análises? Quais são as metodologias e critérios de suas análises?  Para responder a estas questões seria necessário investigar como pelo menos duas das principais instituições nacionais de fomento à inovação fazem suas análises: a Financiadora de Estudos e Projetos- FINEP, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia- MCT, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social- BNDES, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC.  Quanto à primeira instituição, procuramos nas principais fontes de informação existentes e não encontramos indicações disponíveis sobre como ela faz suas análises de projetos. Já em relação ao BNDES, encontramos uma sólida literatura disponível que aponta como este banco procede em relação aos projetos que lhe são submetidos.

 

Em 2002, ao celebrar 50 anos de sua existência, o BNDES publicou um livro intitulado “BNDES: Um Banco de Idéias, 50 anos refletindo o Brasil”, organizado por Dulce Corrêa Monteiro Filha e Rui Lyrio Modenesi, funcionários do banco.  Este livro, que pode ser baixado na íntegra no site do banco (aqui), contém 17 artigos, dentre os quais destacamos um, intitulado “Metodologia de Análise de Projetos”.  Este texto do livro contém uma apresentação do ano de 2002 por parte de um de seus organizadores (Rui Lyrio Modenesi), mas o trabalho em si foi publicado em 1986. Portanto, é uma re-edição!

 

Apesar de ser apresentar uma metodologia com 23 (vinte e três) anos de idade, reeditada em 2002 como uma espécie de referendum ao público externo de que tal metodologia ainda prevalecia, o artigo é uma clara demonstração da robustez da análise que o Sistema BNDES faz dos projetos que lhe são submetidos, em sua função de banco público de desenvolvimento.  Desde o início o artigo coloca que:

 

“... a alocação de recursos do Sistema BNDES é determinada por meio de um processo compreendido por três atividades intimamente relacionadas entre si: o planejamento, a avaliação de prioridade e a análise de projetos. Todas procuram integrar as questões macroeconômicas às microeconômicas. O planejamento parte da visão agregada da economia para formular diretrizes de ação, definir objetivos e estabelecer metas. Essas definições são traduzidas em critérios que deverão integrar a análise de cada projeto específico. A aferição de prioridade e a análise de projetos partem de cada projeto específico para, em paralelo à análise de viabilidade sob a ótica microeconômica, avaliá-lo a partir dos critérios que foram definidos no planejamento, enquanto vetor componente do esforço para realização dos objetivos macroeconômicos estabelecidos. A avaliação de prioridade antecede a análise de projetos, diferenciando-se desta última atividade na medida em que se preocupa basicamente com a compatibilização entre as especificidades de cada projeto e as diferentes diretrizes de natureza setorial, regional, orçamentária etc.

 

Apesar de considerarmos que é importante uma leitura geral do artigo, destacamos o seguinte trecho:

 

A análise de projetos deverá considerar, tomando por base o definido no processo de planejamento, as questões relativas aos seguintes aspectos:

. o padrão de concorrência do mercado do projeto;

. a avaliação da empresa/grupo e de sua estratégia;

. o projeto e seus impactos micro e macroeconômicos;ssystem@uol.com.br

. a avaliação do projeto sob a ótica da política de alocação de recursos do Sistema BNDES; e

. as conclusões e recomendações da análise.”

 

Recentemente tem sido noticiado na imprensa nacional que o BNDES está desenvolvendo uma nova metodologia na sua análise de projetos de modo a incorporar a importância dos ativos intangíveis na análise de risco das empresas. 

Se estes critérios são necessários e suficientes para a análise projetos de inovação que tanto o país precisa, cremos que a nação conta com uma instituição que está à altura dos desafios postos pelo nosso paradoxo tecnológico.  Caso contrário, resta saber como a FINEP realiza suas análises de inovação!

 

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o gargalo da inovação no Brasil, sinta-se a vontade para nos contatar!

 

 

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