Pesquisa e Inovação no setor privado publicado em 27.07.2009
Há cerca de oito anos o editor desta newsletter publicava um artigo no jornal Gazeta Mercantil, intitulado “Pesquisa e Inovação no Setor Privado” (baixar aqui). Àquela época o artigo apontava para o paradoxo tecnológico brasileiro, em que “... o país detém uma capacitação científica expressiva, mas isto não transborda em um competitivo desempenho tecnológico”.
Neste sentido, era comum advogar-se na época uma maior participação do setor produtivo privado no esforço nacional de pesquisa e desenvolvimento (P&D), já que, historicamente, tal papel tem sido majoritariamente exercido pelo poder público. O argumento que foi defendido naquele artigo era o de que:
“... esta maior participação do setor privado não se processará tão rapidamente como alguns desejam. Por duas razões: a) o ambiente institucional ainda não está posto (é |
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publicada em 03.08.2009 Desde o final de 2007 o mundo vem enfrentando uma séria crise financeira, a qual se iniciou no mercado imobiliário dos Estados Unidos da América e se espalhou pelo mundo. Muito se tem escrito e comentado sobre o quê causou esta crise financeira, o quê a prolongou, e porque ela se intensificou tão dramaticamente um ano após ter iniciado...
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Um Gargalo da Inovação no Brasil: a Estrutura Institucional de Análise da Inovação publicada em 20.07.2009 Se um marciano tivesse visitado o Brasil no início da década de 90 do século passado, e tivesse retornado nos dias atuais, perceberia que houve uma mudança substantiva no ambiente em que se desenvolvem as idéias e as práticas da ciência, tecnologia e inovação deste país. Àquela época, o país estava...
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bem verdade que a nova Lei de Inovação, proposta pelo MCT, contribuirá neste sentido); b) existem distorções básicas na alocação de recursos para P&D quando estes são deixados ao sabor do mercado. Duas delas contribuem para o sub-investimento, e as outras duas levam ao desperdício no investimento”.
Reproduzindo aqui as duas categorias de distorções que foram apontadas no artigo, vamos relembrar a primeira categoria. Numa economia de mercado os inovadores não apropriam inteiramente o excedente do consumidor (que corresponde à diferença entre o montante que o consumidor estaria disposto a pagar por determinada quantidade de um bem e o montante que ele efetivamente paga) associado aos bens que eles criam. Ao lado disto, os pesquisadores de hoje dependem, de alguma forma, dos pesquisadores do passado, ou seja, parcela do produto oriundo de P&D é conhecimento que contribui para a capacidade de inovar.
Na segunda categoria de distorções, duas são significativas. A primeira é o que os economistas chamam de “externalidade negativa de congestionamento”. O economista Charles Jones, da Stanford University, nos Estados Unidos, refere-se a isto como sendo o “stepping on toes effect” (efeito de “andar nos dedos dos pés”). Este efeito surge em função das corridas por patentes (e outras formas de proteção à propriedade intelectual), em que múltiplas empresas desenvolvem programas paralelos de pesquisa na esperança de ser o primeiro a ter sucesso e a patentear um novo bem ou processo. O resultado pode levar à replicação de esforços de pesquisa e à redução da produtividade do P&D na economia. A outra distorção é o efeito da redistribuição das rendas dos pesquisadores do passado para os atuais através do processo de destruição criativa. Em outras palavras, um novo bem pode substituir um bem existente possibilitando a que o inovador do presente receba todo o fluxo de rendas, e o antigo é literalmente afastado.
Em resumo, o artigo apontava que:
“... é possível aspirar uma maior participação do setor produtivo privado no nosso esforço de P&D, mas será fundamental estabelecer uma boa estrutura para se aferir quando é que os retornos privados dos investimentos em P&D podem ser confrontados com os retornos sociais. Deste modo, o poder público ficará mais consciente para agir pelo bem comum.”
Passados oito anos, percebe-se que ainda hoje há no país um certo “wishful thinking” ([1]) entre os que gravitam no ambiente de ciência, tecnologia e inovação no país, achando que o setor privado irá aumentar sua participação no bolo de investimento destas áreas ([2]) ignorando as distorções acima apontadas.
Ou seja, enquanto não tivermos no país uma boa estrutura analítica que demonstre efetivamente quais são os retornos privados e os retornos sociais dos projetos de investimentos em ciência, tecnologia e inovação ([3]), vamos ouvir muita ladainha de gente clamando que o setor privado deve ampliar sua participação nestes investimentos! Só não dizem como!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a análise de retornos privados e sociais de projetos de inovação, fique a vontade para nos contatar!
[1] Wishful thinking é a formação de crenças e tomadas de decisões de acordo com o que seria interessante imaginar ou obter, ao invés de se apelar para a evidência dos fatos. [2] Pelos dados mais recentes do Ministério da Ciência e Tecnologia- MCT (que são do ano de 2007), a participação do setor privado em C&T no país nos últimos 8 (oito) anos tem sido de 0,62% do PIB ao ano, enquanto a participação do setor público tem sido e 0,69% do PIB ao ano, numa média total de 1,31% do PIB ao ano, considerada medíocre para os padrões dos países da Fronteira Tecnológica Global-FTG. [3] O que requer clareza na definição de como são analisados os projetos nestas áreas e quais são as metodologias aplicadas.
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