Na semana que passou o Prof. Silvio Meira, líder nacional da indústria de tecnologias de informação e comunicação- TICs, publicou um artigo (na Folha de São Paulo com o título "Software: commodity no .BR?" e no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social- CDES, onde é Conselheiro, com o título “Software pouco competitivo”: ver em http://bit.ly/pvq7Ov) alertando para fragilidades no nosso mercado software e serviços.
O artigo, além de revelar um diagnóstico do baixo desempenho das empresas de origem brasileira que atuam neste mercado, sinaliza para um futuro de sua irrelevância caso não seja percebida a mudança dos ventos no cenário internacional da indústria de TICs, onde o mercado de software e serviços é um componente importante (a discussão sobre o setor de hardware ficou ausente no artigo).
O Prof. Meira começou seu artigo apontando que, apesar do nosso mercado de software e serviços estar caminhando para os seus R$ 63 bilhões em 2011, 97,3% das 75 mil empresas do setor empregam de 05 a 19 pessoas, que só 0,5% do total tem mais de 50 colaboradores, e que as margens do setor – no país – vêm diminuindo ano a ano. Ou seja, o setor não vem sendo importante para a geração de empregos nem, ao que se indica, para geração de valor.
Analisando este tema sob a ótica de um planejador central qualquer, poderia ser levantada a seguinte questão: afinal, se este setor não vem contribuindo muito para a geração de empregos e, ao que se indica, de valor, será que ele merece continuar recebendo apoio da sociedade e do governo? O argumento que aqui se pretende defender é um sonoro SIM!
Primeiramente, quanto à geração de empregos. O Brasil tem, guardadas as devidas especificidades, uma estrutura recente do mercado de emprego semelhante à dos EUA. Como já tratado nesta newsletter, a partir de trabalho do Prof. Michael Spence, Prêmio Nobel de Economia de 2001,98% dos 27,3 milhões de novos empregos líquidos criados nos EUA desde 1990 foram gerados no non-tradable sector (setor de não-comercializáveis) – dominado pelo governo, cuidados da saúde, varejo, hospitalidade, e imobiliário.
Do lado do tradable sector (setor de comercializáveis) o valor adicionado cresceu, mas o emprego não. No interior deste setor um número de setores de alto valor adicionado por empregado subiu: finanças, projetos de computadores e engenharia, administração de empresas, e consultoria. O restante do setor, consistindo de setores manufatureiros, que têm longas e complexas cadeias de valor adicionado, experimentou aumentos de valor adicionado, mas o emprego declinou (ver Figura 1).
O efeito líquido disto foi o rápido crescimento do valor adicionado por pessoa no setor de tradables combinado com crescimento líquido negligenciável do emprego.A tendência subjacente a este fato é o movimento offshore (para fora dos EUA) de um crescente sub-conjunto das cadeias de suprimento no setor manufatureiro e alguns tradable services (serviços comercializáveis). Na camada no topo está um padrão de rápido avanço tecnológico, em que as atividades são poupadoras de mão-de-obra por natureza.
Em resumo, os EUA não têm mais margens para expandir empregos no seu setor non-tradeables e enfrenta grandes dificuldades de empregar no seu pouco seu setor pouco empregador de tradeables, em função da grande competição internacional.
Observando-se as mesmas dimensões para o mercado brasileiro, tem-se que o Brasil mimetizou, entre os anos de 2003 e 2010, a dinâmica da economia americana, tal como pode ser visto na Figura 2 à frente, quando foram gerados mais empregos em non-tradeables do que em tradeables (deixaremos para outra oportunidade a confirmação dos dados sobre quem contribuiu mais para o valor adicionado no período, se non-tradeables ou tradeables). Da mesma forma da análise acima para os EUA, cremos que as margens para o Brasil expandir empregos no seu setor non-tradeables não são tão grandes, e que, como consequência, a expansão de empregos do país deverá necessariamente provir do seu setor de tradeables.
Se a indústria brasileira de TICs (com seu segmento de software e serviços)está no setor de tradeables, mas ela não vem gerando empregos suficientes, sua contribuição econômica futura deverá vir, necessariamente, da adição de valor à economia. Logo, quais seriam os potenciais segmentos econômicos mais atrativos para se pensar o foco futuro de nossas empresas, de modo que elas pudessem gerar mais valor à economia?
Observando simplesmente as taxas de lucratividade (relação dos lucros operacionais/ganhos para as vendas/receitas) de 03 (três) grandes empresas globais de diversificada produção de produtos/hardware, tais como GE, Whirlpool, e Toyota, que são, respectivamente, de 10,10%, 5,44%, 2,47%, e compararmos com 03 grandes empresas globais de software e, predominantemente, de serviços, tais como Microsoft, Google, Oracle, cujas taxas de lucratividade são respectivamente 38,79%, 35,40%, e 33,71%, verificaremos que a modalidade de produção e vendas de software e serviços se mostra muito mais lucrativa do que as de vendas de produtos/hardware da indústria. Se observarmos 03 empresas de commodities de referência global, por exemplo, Vale, Petrobras, e BRFoods, cujas taxas são, respectivamente, 46,6%, 22,6%, e 21,1%, vemos que software e serviços são mais lucrativos do que produtos/hardware/indústria e do que commodities.
Logo, se tivermos que pensar o futuro da nossa indústria de TICs (e software e serviços em particular), seu foco mais atrativo é sem dúvida a própria indústria de TICs, só que na sua dimensão global. Ou seja, contrariamente a uma visão “xenofobista” e atrasada de alguns, que temem a “invasão de empresas internacionais” no território nacional, cremos que o futuro de nossa indústria, em função de suas fragilidades, é cada vez mais aproveitar as oportunidades de sinergias com empresas internacionais que optam, ou não, por aqui se instalarem. Além do mais, com os segmentos econômicos Não-TICs comprando mais TICs desta indústria mais sinérgica, mais empregos serão gerados no país, e fora dele. E este é o entendimento que garantirá os apoios tanto da sociedade quanto do governo! E aí sim, nossa indústria de TICs tem futuro!
Se sua empresa, organização ou instituição desejam saber mais sobre os aspectos econômicos da indústria de TICs, fique a vontade para nos contatar!