A história recente do Brasil aponta para o seguinte “mistério” acerca do crescimento do nosso PIB - Produto Interno Bruto. Depois de se manter em cerca de 7% em média ao ano entre 1940 e 1980, a taxa de crescimento do PIB caiu drasticamente desde 1980, começou a se recuperar a partir do Plano Real, mas não conseguiu ultrapassar do patamar de 4% ao ano desde então. Segundo o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, e um observador deste mistério, dadas as condições estruturais da nossa economia, 4% de crescimento do PIB é o nosso “novo normal”. A pergunta a se colocar é: será que dá para crescer mais?
A resposta é que sim, desde que o país aumente sua competitividade (tema da newsletter da semana passada) investindo mais em inovação. A inovação é hoje entendida como um dos principais vetores para dinamização do crescimento econômico. Em particular, políticas econômicas e instituições afetam crescimento ao influenciar os incentivos aos empreendedores e/ou a habilidade de fazer investimentos inovadores. Ou seja, o crescimento econômico decorre da capacidade de realizar investimentos inovadores, os quais, por sua vez, dependem de ambiente, de infraestrutura, e acima de tudo, capital humano voltado para a geração de inovações.
O Brasil tem feito o seu “dever de casa”? Sim, mas de forma ainda muito tímida! Apesar de alguns avanços recentes, tais como o aumento do número de mestres e doutores, o incremento do número de artigos científicos, a criação de alguns mecanismos de apoio à inovação, tais como os Fundos Setoriais, a Lei de Inovação, a Lei do Bem, entre outros, o dispêndio nacional em termos de Pesquisa e Desenvolvimento- P&D (segundo os dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação- www.mct.gov.br) saltou de 1,02% do PIB em 2000 para 1,19% do PIB em 2009, i.e., apenas 0,017% ao ano. Isto é muito pouco, quando se observa que o Japão investe 3,44% do PIB em P&D, os EUA 2,68%, a Alemanha 2,54%, a Coréia do Sul 3,22%, Taiwan 2,63%, e Cingapura 2,61%.
Apesar deste baixo patamar de investimento em inovação, entendemos que um crescimento econômico para além do “novo normal” não dependeria simplesmente do incremento nos dispêndios em P&D. Três razões podem ser colocadas. Primeiramente, mesmo uma economia como a dos EUA, o crescimento ainda depende da incorporação de insumos no processo produtivo – capital físico e humano- e da incorporação de tecnologias já existentes (este tema foi tratado nesta newsletter em 25/07/2011). Em segundo lugar,ao contrário do que o governo federal vem privilegiando (com políticas voltadas marcadamente para a indústria, tais como a PITCE- Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior -2003/06, o PDP- Plano de Desenvolvimento Produtivo- 2008/10, tratado nas newsletters de 18/05/2008, e de 26/05/2008, e o recente Plano Brasil Maior, discutido na newsletter de 08/08/2011),uma política de promoção de competitividade para o crescimento de um país precisa focar no crescimento de produtividade da economia em todos os setores e empresas, e não apenas no setor industrial. Finalmente, no caso específico do Brasil, temos um agravante adicional que é o nosso baixo investimento em infraestrutura: a percepção geral é que hoje temos menos estradas, aeroportos, ferrovias ou estações de metrô do que tinhamos 10 anos atrás.
Em resumo, precisamos de “menos discurso” (de que o Brasil vai “muito bem”) e mais inovação para voltarmos a crescer como crescíamos no passado!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber um pouco mais sobre inovação no Brasil, fique a vontade para nos contatar!
PS: Esta newsletter, que foi elaborada a partir de um artigo-convite produzido para a Revista Negócios PE (ver http://bit.ly/sTlXAl), é a última deste ano. Em janeiro de 2012 retomaremos o contato com nossos leitores. Muito obrigado pela atenção dispensada ao longo de 2011!