Eis aí um livro interessante. Startup Brasil, produzido por Pedro Mello (mais conhecido por ser o autor do Blog do Empreendedor no Portal Exame: exame.abril.com.br/rede-de-blogs/empreendedor) e Marina Vidigal (publicitária especializada em trajetória de empreendedores), lançado há pouco pela Agir, um selo da Nova Fronteira Participações S.A., é um livro que conta histórias; histórias dos fundadores das seguintes empresas: Boticário, Buscapé, Cacau Show, Arizona, Flytour, GranSapore, AGV Logística, AgênciaClick, Locaweb, e Turma da Mônica.

O livro é dedicado a todas as pessoas que de alguma maneira incentivam o empreendedorismo em nosso país (o Prof. Silvio Meira é um dos citados). Ele surgiu dos estudos sobre o comportamento do empreendedor brasileiro que Pedro Mello desenvolveu ao longo de suas 73 entrevistas com empresários para o programa Fiz do Zero, que ficou no ar por três temporadas na extinta IdealTV, canal de negócios da editora Abril. O trabalho de coleta do material foi ajudado por pesquisas feitas por Marina Vidigal.

Os autores do livro identificam algumas características marcantes nos empreendedores. Uma que eles apontam é a dedicação total aos seus negócios. Apesar disto, eles indicam que vários dos empreendedores têm um perfil mais humano, conseguindo lidar com um intenso volume de trabalho sem deixar de lado a família. Outra característica entre os empreendedores é a ausência de planejamento no início dos negócios. Nas palavras dos autores, “Muitos decolaram sem planos de negócio detalhados, análises de mercado ou planilhas de fluxo de caixa. Foram empreendedores que começaram com a alma e a mais pura intuição, inserindo só mais tarde o planejamento em suas rotinas.”

Este é o tipo de livro que não se faz revisão (no estilo book review da academia), mas sim, “mergulha-se”, “digere-se”, e “deleita-se”. São histórias apaixonantes de pessoas realmente empreendedoras. Seu grande mérito está em narrar, contar histórias. Num país de pouca tradição em enaltecer seus bons empresários/empreendedores, é cada vez mais gratificante ver que mais livros estão surgindo nesta direção (numa outra perspectiva, mas tratando livros sobre executivos brasileiros de sucesso, ver a newsletter de 24/10/2011). Nada contra os demais estilos, mas para um país que não tem seus Bill Gates, Steve Jobs, Larry Elisson, Sergey Brin, Larry Page, dentre tantos outros, é sempre bom ter referências para procurar entender quais são os fatores considerados críticos do sucesso.

Outro problema que constatamos, é que na academia (marcadamente nas áreas de Economia e Administração) tudo parece indicar que os artigos e livros procuram tratar de empresas já existentes (e principalmente as mais maduras). Ou seja, ainda há pouco acerca dos determinantes da emergência das empresas, porque e como elas nascem, porque só algumas crescem, e muitas sequer duram mais que cinco anos.

Felizmente este quadro está mudando. Além de novos livros internacionais tratando a questão do empreendedorismo, como os best-sellers Four Steps to the Epiphany: Successful Strategies for Products that Win”(Quatro Passos para a Epifania: Estratégias de Sucesso para Produtos Vendedores), de Steve Blank, “The Lean Startup: How Today's Entrepreneurs Use Continuous Innovation to Create Radically Successful Businesses” (A Startup Enxuta: Como os Empreendedores de Hoje Usam Inovação Contínua para Criar Negócios Radicalmente de Sucesso), de Eric Ries, dentre outros, como os relacionados com inovação, tais como o “The Innovator's Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail” (O Dilema do Inovador: Quando Novas Tecnologias Causam Falhas em Grandes Empresas), de Clayton M. Christensen, e alguns nacionais, como “Pioneiros e Empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil”, de Jacques Marcovitch, “O Segredo de Luísa”, de Fernando Dolabela, algumas instituições estão se dedicando especificamente a este assunto, como A Fundação Kauffman, criada em 1966 pelo bilionário americano Ewing Kauffman, tratada aqui na newsletter de 17/09/2011.

Neste sentido, tanto livros como o “Startup Brasil”, como entidades como a Fundação Kauffman nos ajudam a entender algumas regularidades acerca das empresas nascentes (startups), acerca do seu crescimento, e do crescimento das empresas em geral. Para que se tenha uma ideia de como desconhecemos a dinâmica das empresas, há uma regularidade interessante que ainda não foi devidamente explicada.

Nos EUA, apesar do emprego nas empresas individuais ter uma tendência de ser altamente não-estacionário (ou seja, muda muito), a distribuição do emprego em todas as empresas nos EUA parece ser estacionária. Ou seja, uma grande fatia do emprego agregado nos EUA está associada a um relativamente pequeno de grandes empresas. Há nos EUA 6 (seis) milhões de empresas empregadoras. Cerca de metade da força de trabalho destas empresas está empregada em basicamente 18.000 empresas com mais de 500 empregados, e algo como 25% está em 1.000 e poucas empresas com mais de 10.000 empregados. Este padrão de extrema distorção parece ser bastante estável ao longo do tempo. A questão é: por que? Será que no Brasil é a mesma coisa?

Se você deseja saber mais sobre a dinâmica das empresas nascentes (startups), fique a vontade para nos contatar!