Que bicho é este? A produtividade é uma das mais importantes variáveis da Economia, mas ao mesmo tempo, é uma das menos entendidas. Ela é, de forma resumida, uma medida de quão eficientemente uma pessoa, máquina, fábrica, região ou país está convertendo seus insumos em produtos úteis. Uma frase do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, enunciada em 1994, sacramentou popularmente sua importância para a Economia: “A produtividade não é tudo, mas no longo prazo ela é quase tudo. A habilidade de um país melhorar seu padrão de vida depende quase que inteiramente de sua habilidade de aumentar sua produção por trabalhador”!
Mas por que tratar da produtividade nos EUA nesta humilde newsletter! Simplesmente porque mesmo lá nos EUA há um grande desentendimento sobre o que, de fato, está ocorrendo com a produtividade da economia americana. Vários economistas americanos de renome internacional vêm alertando para o baixo crescimento da produtividade da economia, e a imprensa é pródiga em reverberar os debates entre os mesmos economistas.
No entanto, um novo foco de interpretação sobre a produtividade da economia está emergindo; e ela está emergindo no “furacão” das mudanças estruturais que estão ocorrendo mesmo nos EUA, e também no mundo; ou seja, esta nova interpretação está emergindo do Vale do Silício, o espaço/hub de inovações mais famoso do momento.
Para o economista Hal Varian, Professor de Economia aposentado da Universidade da Califórnia (em Berkely) e já há algum tempo Chief Economist Officer do Google, e para outras cabeças iluminadas do Vale do Silício, a produtividade significa dar para as pessoas e empresas ferramentas para fazer coisas melhores e mais rápidas. Por esta medida, há uma explosão em curso, graças aos gadgets, apps e outras maravilhas digitais que saem do Vale.
No entanto, as estatísticas oficiais americanas contam uma estória diferente. Por uma década, a produção econômica por hora trabalhada – a fórmula do governo federal para a produtividade – foi praticamente detectada. Nos últimos dois trimestres, de fato, ela caiu. E isso levanta preocupações, porque a uma taxa de crescimento anual de 2%, leva-se 35 anos para dobrar o padrão de vida; a 1%, leva-se 70 anos. O baixo crescimento da produtividade desacelera a economia e mantém os salários baixos.
Mas para Hal Varian os EUA “não têm um problema de produtividade; têm sim um problema de medição da produtividade”. Segundo ele, “há um hiato de apreciação pelo que está ocorrendo no Vale do Silício porque nós não temos uma boa maneira de medir o que está acontecendo”!
Um problema de medição é que muito do que se origina no Vale do Silício é free (gratuito) ou quase free. Tome-se, um exemplo com o próprio Hal Varian. Segundo ele (em relato para um importante jornal econômico) numa caminhada com amigos, para achar um ao outro num parque nas vizinhanças, ele e seus pares usaram um aplicativo que traçava suas localizações, permitindo-os se encontrarem rapidamente. A mesma ferramenta pode traçar o movimento de trabalhadores em um armazém, escritório ou shopping center. Obviamente há um aumento da produtividade, como aponta Hal Varian. Mas ele duvida que tal aumento seja medido em algum lugar.
Segundo Hal Varian a única maneira pela qual os bens e serviços atravessam a “agulha” oficial da produtividade dos EUA, é quando consumidores e empresas pagam por eles. Qualquer coisa “free”, não importando o quanto melhora nossa vida cotidiana, não é incluída.
Existem outras nuances muito interessantes sobre este novo argumento sobre a produtividade, e que certamente deverão ser mais compreendidas por aqueles que insistem em ignorar as rápidas e profundas mudanças que o setor de tecnologias de informação e comunicação - TICs vêm proporcionando (muitos deles encastelados no Brasil). Por ora ficaremos apenas com as linhas acima!
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