A decisão do Google de separar seus negócios lucrativos daqueles considerados inovadores (porém, ainda com sucesso econômico não garantido), que deu origem à Alphabet (ver mais detalhes newsletter da semana passada) está também relacionada a uma questão econômica crucial para o futuro da economia dos EUA: a produtividade econômica daquela nação (ver também a newsletter de 09-08-2015).

Como apontado pelo jornalista Greg Ip em recente matéria em The Wall Street Journal, as coisas em que Google e seus pares brilham, do engenho de busca ao software mobile, que estão mudando a forma como trabalhamos, divertimo-nos e nos comunicamos, ainda têm pouco impacto econômico discernível.  A produtividade – os bens e serviços que um trabalhador produz por hora – cresceu nos EUA apenas 0,4% por ano nos últimos cinco anos, um dos menores registros no período desde a II Guerra Mundial.  Isto é preocupante, uma vez que no longo prazo a produtividade determina o nosso padrão de vida.

E o que explica este paradoxo? De um lado, há uma corrente de economistas (os apelidados “tecno-pessimistas”) acreditam que os benefícios da Internet e mídia social estão superestimados; por outro lado, os “tecno-otimistas” acreditam que as estatísticas da produtividade não capturam tais benefícios (vide newsletter da semana passada).  Mas, segundo Greg Ig, há uma explicação alternativa: a inovação transformadora realmente “só está ocorrendo na Internet”, e não fora dela.

Google, por exemplo, tem injetado “zilhões” de dólares em iniciativas envolvendo lentes de contato, drones e carros sem motoristas, mas nenhuma delas tem rendido negócios comercialmente viáveis.  A reorganização da empresa, como salientou Greg Ig, teve como objetivo aqueles acionistas impacientes que queriam identificar quais dos negócios do Google realmente estavam gerando “caixa”.

Num recente estudo, o economista Michael Mandel, do Progressive Policy Institute, notou que as ondas de inovação do passado abrangeram numerosas disciplinas: processamento de informação, transporte, medicina, energia e materiais. Greg Ig cita que havia uma razão pela qual no filme “The Graduate”, conhecido no Brasil como “A Primeira Noite de um Homem” (de 1967), o personagem de Dustin Hoffman é informado que “há um grande futuro em plásticos”.  Na realidade o desenvolvimento dos termoplásticos nos anos 30s e 40s tornou possível produtos que agora são ubíquos nos negócios e na vida cotidiana.

Mas onde estão os avanços comparáveis àqueles “novos” materiais (como plásticos) nos dias de hoje? As vastas somas investidas em biociências não têm rendido avanços comparáveis aos antibióticos dos anos 1930 e 1940. O genoma humano foi sequenciado mais de uma década atrás.  Mas, como aponta Michael Mandel, ainda não existe qualquer terapia de genes à venda. Ele aponta que quantificar inovação é difícil: as estatísticas do governo não medem adequadamente atividades que somente recentemente passaram a existir.

Michael Mandel contorna este problema ao apontar que a inovação deixa sua marca nas categorias de habilidades que os empregadores demandam.  Por exemplo, a revolução do shale oil and gas (xisto de petróleo e gás) está aparentemente nos crescentes números de engenheiros de petróleo, de minas e geólogos, enquanto que os ranks demandas de cientistas em biológicas, medicina, química e materiais têm caído desde 2006-07. Ou seja, a economia de hoje é desbalanceada em termos de inovação.

Em resumo, como aponta Greg Ig, a inovação é imprevisível. O boom da Internet foi uma surpresa, e avanços similares em terapia de genes, nanotecnologia, drones e carros sem motoristas podem estar aí na esquina.  E a Alphabet pode ainda fazer render uma de suas novas iniciativas. Mas, por enquanto, não espere que a cruel tendência da produtividade dos EUA seja mudada, profetiza Greg Ig!

Aqui na Creativante nós nos mantemos numa posição alinhada com os “tecno-otimistas”, mas reconhecemos que não será fácil fazer com que as atuais instituições (desenhadas nos séculos 19 e 20) reconheçam que o mundo mudou, e que elas também precisam se adaptar aos novos tempos!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre questões ligadas à produtividade da economia americana, e como isto vai afetar a nossa economia, não hesite em nos contatar!