Na semana passada apontamos que o Jornal Valor Econômico estabeleceu uma parceria com a empresa Strategy& para fazer uma pesquisa inédita sobre a inovação no Brasil (cuja edição se intitula “Inovação Brasil: As 100 empresas mais inovadoras”). Como resultado deste trabalho, a Strategy& montou um ranking com as 100 empresas mais inovadoras do país e as companhias que se destacaram em nove setores. Nesta newsletter vamos comentar brevemente sobre a metodologia e os resultados desta pesquisa.
Um primeiro comentário a fazer é congratular o jornal Valor Econômico pelo desenvolvimento da pesquisa e seu ineditismo. No Brasil temos há alguns anos a PINTEC- Pesquisa de Inovação realizada pelo IBGE, que tem por objetivo a construção de indicadores setoriais das atividades de inovação das empresas brasileiras, e seu foco são os fatores que influenciam o comportamento inovador das empresas e outras questões relacionadas com inovação. Logo, a PINTEC não tem a preocupação com um ranking de empresas inovadoras (*)
No entanto, como em todo e qualquer processo pioneiro, existem as virtudes e as limitações. Uma primeira observação relevante a fazer é o caráter restritivo da pesquisa. Pelo que foi informado no encarte especial revelador da pesquisa (**), somente empresas com faturamento superior a R$ 750 milhões foram pesquisadas a partir, marcadamente, de questionário pré-estabelecido aplicado às empresas respondentes. Este primeiro critério revela uma limitação importante da pesquisa: qual foi o referencial analítico para o estabelecimento deste critério? Este aspecto é relevante em se tratando de um país como o Brasil, que não está na Fronteira Tecnológica Global, e, daí, a necessidade de se saber se o conceito de inovação está sendo tratado junto com o de inovatividade, uma medida do grau de inovação (***).
Há hoje nas literaturas acadêmica e profissional um enorme capital de conhecimento acumulado ao longo de anos em torno da Economia da Inovação (****). Ao estabelecer tal recorte sem apontar uma razão específica, a pesquisa incorre em sério erro analítico (afinal: só as empresas que faturam a partir de um determinado patamar é que são inovadoras? e, em que medida as empresas estão sendo efetivamente inovadoras?). Segundo o encarte do jornal, a metodologia de avaliação das empresas participantes do Ranking Inovação Brasil teve como base quatro grandes critérios: intenção de inovar, esforço para realizar a inovação, resultados obtidos e avaliação de mercado. No mesmo encarte é possível observar uma figura onde se aponta o que cada um destes critérios representa: a) Intenção de inovar (Estratégia e visão, além de Cultura e valores); b) Esforço (Recursos, Processos e Estruturas); c) Resultados (Gerais e Específicos). Há ainda o quarto critério (Citações), que é entendido como a avaliação do mercado, obtido por meio da análise das empresas mais citadas como inovadoras pelas outras empresas que participaram da pesquisa. Pela figura os três primeiros critérios (capturados através do questionário) representam 70% do conceito da empresa, e as citações (a avaliação do mercado) representam os restantes 30% que compuseram a nota final da empresa.
Como já referido, como não foi apresentado qualquer referencial analítico da pesquisa, fica difícil estabelecer comentários mais aprofundados, marcadamente sobre os resultados. Tal dificuldade se agrava ainda mais, sabendo-se que a metodologia da pesquisa foi criada para “entender como as empresas instaladas por aqui investem em inovação”, como afirmado por representante da Strategy& na página 10 do encarte. Como a atividade de inovação no país depende fortemente da articulação com as políticas públicas de inovação (*****), cremos que a pesquisa Inovação Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer (se o seu propósito foi realmente este acima revelado), assim como o próprio estímulo à inovação no país, conforme apontado pelo editorial do jornal Valor no dia 14/04/2015!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre as empresas inovadoras no Brasil, fique a vontade para nos contatar!
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(*) A PINTEC nunca foi avaliada de forma criteriosa. No início de 2011 o BNDES abriu um edital para que fosse possível fazer um diagnóstico aprofundado sobre a PINTEC (comentado na newsletter de 20/03/2011). Até hoje não se tem notícia deste diagnóstico!
(**) A pesquisa Inovação Brasil não apresentou um anexo metodológico, onde fosse possível observar todos os critérios estabelecidos na mesma e os padrões seguidos. Os comentários aqui estabelecidos são inferências a partir de informações contidas especialmente nas páginas 34 a 36 do encarte, e de leitura nas demais páginas.
(***) Ou seja, inovatividade é saber se a inovação é nova para: o mundo, o setor, a comunidade científica, o mercado, a empresa, o consumidor; ou o que é tomado como novo: a tecnologia, a linha de produto, o processo, o serviço, o marketing, etc. (ver newsletter de 08/04/2011).
(****) Para uma breve leitura sobre fatos estilizados reconhecidos internacionalmente acerca de empresas inovadoras, ver a newsletter de 05/12/2010. E para uma breve síntese destas literaturas, sugere-se uma leitura ao capítulo 12 do livro “Effects of IT on Enterprise Architecture, Governance and Growth” (publicado pelo editor desta newsletter), intitulado “The Role of Innovation Management”.
(*****) Ver newsletter de 08/04/2012, que trata sobre “se os recursos/incentivos públicos alocados para atividades de P&D/inovação são um complemento dos recursos/incentivos privados para estas atividades, ou simplesmente os primeiros substituem os segundos, e qual a evidência substantiva a respeito disso”.