A pujança do movimento das empresas emergentes (startups) globais, marcadamente as de tecnologia, dos Estados Unidos (particularmente as do Vale do Silício) é observada com grande atenção pelo mundo, para não citar também uma pitada de inveja. Não sem sentido, afinal de lá surgiram empresas startups que passaram a mudar o mundo, como o Google, Facebook, Uber, Airbnb, Tesla, dentre tantas outras.
O que gostaríamos de argumentar nesta newsletter é que nós no Brasil deveríamos prestar um pouco mais de atenção (também) para a cena das startups na Europa. E a razão é simples: nós do Brasil temos mais semelhanças com o contexto das startups europeias do que com o contexto norte-americano. Para dar suporte a este argumento, basta que observemos a motivação para a criação, na Comunidade Europeia (com seus 28 Estados-Membros), da iniciativa denominada “Startup Europe Partnership - SEP” (Parceria Startup da Europa).
A SEP partiu da constatação do seguinte problema: “a Europa Continental não cria novos negócios destinados ao crescimento como em outras partes do mundo, Vale do Silício em particular. Gigantes high tech não moram na Europa e nem mesmo nascem aqui, eles crescem em outros lugares. A boa nova é que nos últimos poucos anos, ecossistemas de startups têm crescido em quase todos os países europeus. Mas eles permanecem desconectados, fragmentados. Nós necessitamos avançar na direção de um único ecossistema europeu”.
Neste sentido, os europeus criaram a SEP com o objetivo de oferecer uma plataforma integrada pan-europeia para ajudar as melhores startups a emergirem destes ecossistemas, bem como a escalarem. E como pensaram isto? Conectando as Top Startups Europeias às Grandes Corporações. A SEP é uma plataforma onde as melhores startups encontram as melhores corporações com um objetivo: fazer as coisas acontecerem, se isto significar procurement (as corporações comprarem produtos e serviços das startups), investimentos estratégicos, ou eventualmente aquisições/contratações.
No âmbito da SEP foi criado o SEP Investors Forum, fórum que reúne os investidores e aceleradores top de todas as partes da Europa com o objetivo de fomentar um ecossistema mais escalável e amigável. Este fórum atua como um canal interno de conversação para o European Investment Fund e a Comissão Européia, e com os investidores Europeus e internacionais.
Apesar destes esforços, que já têm mais de um ano de existência, neste mês de maio foi realizado o “SEP Policy Workshop: European Startup Scene”, onde um painel de especialistas discutiu sobre os desafios ainda enfrentados pelo ecossistema de startups europeu. A mensagem do evento foi a seguinte: “as startups e as corporações permanecem, em sua maioria, fragmentadas e desconectadas umas das outras”. Neste sentido, o evento serviu como um reforço à SEP junto à Comissão Europeia, que foi aconselhada a:
- Promover e dar suporte às atividades coordenadas com o objetivo de mútua colaboração entre os players, com um grande potencial de acelerar o processo de criação de players globais a partir das empresas europeias;
- Educar jovens mentes, aqueles que estejam mais inclinados a assumir riscos e tomar decisões informadas de forma a promover mais e melhores startups;
- Alocar e distribuir recursos para aquelas iniciativas que promovam ecossistemas de startups no nível pan-europeu, uma vez que tais iniciativas recomeçam e alimentam a economia europeia como um todo, mais do que focalizar em ações com foco local.
Alguns poderiam argumentar que aqui no Brasil nós já temos iniciativas semelhantes, como a Startup Brasil, iniciativa liderada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e que foi criada em agosto de 2012. Caminhando para o seu terceiro ano de atividades, o programa anuncia na página do MCTI que apoiou 183 startups no Brasil. É muito ou pouco?
Quando se observa pelo documento “Estatísticas de Empreendedorismo 2011” do IBGE (o documento mais recente, de 2013, só será divulgado em novembro deste ano), que aponta que no Brasil estavam registradas 4,5 milhões de empresas ativas no nosso território (*), e que destas 34,5 mil eram empresas de alto crescimento, ou seja, 0,8% do total das empresas ativas, constatamos que o universo das startups apoiadas pelo programa Startup Brasil é desprezível (em relação ao número total de empresas), e representa apenas 0,5% das empresas que mais crescem no país (empresas que não sabemos quem são, mas que certamente estão contribuindo para o país mas não estão sendo alvo de qualquer iniciativa representativa).
Em resumo, admiramos muito os ecossistemas norte-americanos de startups, mas acreditamos que temos mais identificação com os problemas dos ecossistemas de startups europeus. Resta-nos aprender um pouco com as soluções que eles têm buscado para resolver seus problemas!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre os ecossistemas de startups europeus, fique a vontade para nos contatar!
--------------------------------------------------------------------------
(*) Segundo o Sebrae-Nacional, no Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos empresariais.