Na mesma semana em que Google anunciou sua reestruturação organizacional (com a criação da Alphabet), a Bloomberg (um império de mídia financeira, software e dados criado pelo ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg) publicou uma longa matéria sobre um cálculo errado do Google da ordem de US$ 6 bilhões. Embora a empresa não goste de discutir o assunto, trata-se de uma questão de defesa da concorrência (ou acordo antitrust) no âmbito da Comunidade Europeia-CE.

A matéria começa com a narrativa de uma tentativa de estabelecimento de um “acordo” entre um dos principais executivos do Google, Eric Schmidt (e mais quatro outros executivos da empresa) e o czar da defesa da concorrência da CE (ocorrido em 2014) acerca um fato relacionado ao Google antes que este czar perdesse o cargo. É que rivais do Google acusaram formalmente a empresa de abuso de poder de mercado (através de sua dominância no mercado de busca na web) afastando seus usuários dos serviços daquelas empresas. Por exemplo, quando alguém numa cidade europeia pesquisava pelos melhores restaurantes, os dentistas mais próximos, ou voos em aviões, Google o associava aos seus próprios mapas e outros serviços, ao invés de mostrar os links para os melhores conteúdos de outros lugares na web. No tal “acordo” acima referido, Eric Schimdt pretendia fazer ambos “links”.

Acontece que o tal czar foi sucedido na CE, e sua sucessora enfatizou que “empresas dominantes não podem abusar de suas posições dominantes para criar vantagens em mercados relacionados”, acusando formalmente Google de explorar sua supremacia no mercado de busca por produtos online, o equivalente a uma acusação formal conta Google. E foi além. Ela anunciou uma nova investigação sobre se Google tinha abusado de sua posição dominante com o sistema operacional Android para smartphones. Para Google isto foi um pesadelo pendente anos de escrutínio, uma multa de até US$ 6 bilhões; enfim, um cálculo errado do Google desta magnitude!

Google pensava que era adorada na Europa, mas ela começou a perder o continente pouco tempo atrás, logo depois do “Snowden affair”. Vários dos documentos vazados da NSA (National Security Agency, dos EUA) revelaram como Google e outras empresas permitiram o acesso dos espiões da NSA às contas de seus usuários. Google respondeu que estava seguindo a lei e que lutou contra a prática da NSA, mas o prejuízo estava estabelecido.

E quanto mais os europeus passam a depender do Google, mais (no entanto) eles passam a temê-la, tornando-a um alvo fácil para os políticos. Em novembro do ano passado, os membros do Parlamento Europeu votaram 384 a 174 por um propósito simbólico de quebrar o gigante de busca em duas companhias separadas – seu engenho de busca monolítico e o resto. Na Espanha, Google tem sido forçada a colapsar seu Google News por causa de questões de copyright. Na Alemanha, ela parou de coletar imagens para seu serviço de navegação Street View por conta de preocupações de privacidade. A memória da vigilância da polícia secreta Stasi da antiga Alemenha oriental tornam a questão especialmente sensitiva. Mais recentemente, Google foi forçada a cumprir uma regra da União Europeia sobre o “direito de ser esquecido”, e para remover itens embaraçosos do seu banco de dados de busca quando requerido pelos usuários. Este sentimento também tem se voltado para outros gigantes de tecnologia americanos, incluindo Apple, Facebook, e Amazon, que juntamente com Google foram o acrônimo GAFA.

Em resumo, estes fatos levam a concluir que a mudança organizacional do Google para se transformar em Alphabet não se deve apenas aos desafios de “inovações tecnológicas” de um gigante em processo de evolução; mas também aos “rastros” de comportamento competitivo que vai deixando ao longo de sua trajetória!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre comportamento do Google, não hesite em nos contatar!