O Uber, a empresa de tecnologia cujo aplicativo de smartphone permite conectar passageiros (demandando transporte urbano) a motoristas, é uma das plataformas online mais reconhecidas hoje no mundo. Criada em 2009 por Travis Kalanick e Garret Camp, e com sede na Califórnia nos EUA, é hoje uma empresa que opera serviços em mais de 66 países e em mais de 507 cidades mundo afora, segundo dados de agosto de 2016 (1).
A emergência de empresas como Uber, e as mudanças que elas catalisam, têm proporcionado uma discussão sobre a transição geral para transações peer-to-peer entre setores econômicos. O surgimento paralelo de plataformas tais como Netflix, Apple TV, AirBnb e outras, tem levado à comparações com a emergência do Uber, e ao debate de se, e até que ponto, a “uberização” pode levar à substituição dos modelos tradicionais de negócios.
Apesar do crescimento do Uber, uma pergunta que não quer calar é a seguinte: o modelo de negócio do Uber é sustentável? Pode parecer uma pergunta estúpida (dado o fenômeno empresarial, em termos de inovação e de crescimento global), mas do ponto de vista da viabilidade econômico-financeira, a emergência do Uber ainda não convenceu alguns analistas sobre a sustentabilidade financeira do seu modelo de negócio (2).
Um dos primeiros analistas a questionar as valorações econômico-financeiras relacionadas com Uber foi o Prof. Aswath Damodaran, Professor de Finanças da Stern School of Business da New York University, nos EUA. Ainda em junho de 2014, o Prof. Damodaran escreveu um artigo intitulado “Uber Isn´t Worth $ 17 billion” (Uber Não Vale $ 17 bilhões de dólares). Neste artigo ele afirmava que Uber só valeria isso “se nós fizermos grandes hipóteses sobre o mercado de táxis e sobre a posição do Uber nele”. Como um bom analista, ele afirmava que o valor de qualquer negócio, não importando o que faz e onde ele está no seu ciclo de vida, é baseado na sua capacidade de geração de fluxos de caixa; e para empresas como Uber, os fluxos esperados de caixa estavam (em 2014, ano do artigo) em um futuro de distante, e as estimativas sobre elas iriam requerer “grandes hipóteses” sobre como o mercado e a competição iriam evoluir.
Sua avaliação (em 2014) dos fluxos de caixa (ajustados pelo risco) era que o Uber valeria algo como US$ 5,9 bilhões, o que levou o capitalista de risco Bill Gurley, sócio da Benchmark Capital, um dos investidores do Uber no Vale do Silício (e famoso por já haver investido em empresas como OpenTable, Zillow e eBay) a argumentar, em artigo que se tornou famoso, que a valoração de US$ 17 bilhões estava subestimada, e que o valor estimado pelo Prof. Damodaran estava abaixo por um fator de 25. Gurley questionou as hipóteses do Prof. Damodaran sobre o tamanho do mercado total e sobre a fatia de mercado do Uber, baseando seus cálculos no conceito de network effects (efeitos de rede), conceito que está na base do sucesso das plataformas online.
Transcorridos mais de dois anos desta discussão sobre a valoração do Uber, o Prof. Damodaran ainda fez outras duas re-avaliações da empresa, diante de novos dados e de novas hipóteses, fruto de novas contingências. Ele observa que da mesma forma que Uber vem rapidamente levantando capital de investidores, a empresa vem também “gastando à taxas surpreendentes”.
Para Damodaran, observando o chamado “cash burn” (queima de dinheiro)(2), que não é incomum nem usualmente preocupante, tudo parece indicar que, no que diz respeito ao caso das empresas como Uber, o “modelo de negócio”, que as trouxe tão longe em tão curto período de tempo, “tem falhas” porque o quê permitiu que elas crescessem incrivelmente tão rápido é o que está no caminho de converter receitas em lucros (critério chave para a sustentabilidade) uma vez que não há trincheiras para defender. Ou seja, aparentemente, a sustentabilidade econômico-financeira do modelo ainda não está comprovada!
Em resumo, ainda é cedo para afirmar, com absoluta segurança que o modelo de negócio por trás das plataformas online como o Uber é econômica e financeiramente sustentável, mas que do ponto de vista do questionamento dos modelos tradicionais de negócio ele vem causando muito frisson e muita discussão (que o digam os atuais candidatos a prefeitos das principais cidades do Brasil)!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre viabilidade econômico-financeira de plataformas online, fique a vontade para nos contatar!
(1) https://en.wikipedia.org/wiki/Uber_(company)
(2) A admissão de que a empresa “queimou” mais de US$ 1 bilhão em dinheiro em 2015 é um dos fatos arrolados nessa direção.