Dois anos atrás o editor desta newsletter escreveu um artigo para o Jornal do Commercio (de Pernambuco) com o título “2017 será melhor que 2016”. As premissas básicas daquele artigo ainda hoje se mantêm, e servem como cenários plausíveis (que competem entre si) para o ano de 2019.
Segundo aquele artigo, existem hoje no mundo duas grandes visões macroeconômicas sobre o futuro. Uma primeira visão, mais pessimista, enxerga o mundo como estando submetido a duas estagnações (que são percebidas independentemente). Uma primeira estagnação, cujo maior “evangelista” é o ex-Secretário do Tesouro dos EUA, e Professor da Universidade de Harvard, Larry Summers, diz respeito à demanda agregada da economia (é a chamada “Estagnação Secular”). Ela emerge quando todo mundo tenta poupar dinheiro ao mesmo tempo. Ou seja, as pessoas gastam menos, e daí as empresas produzem menos coisas, e, portanto, demitem trabalhadores, causando recessão. A segunda, popularizada principalmente pelo Prof. Robert Gordon, dos EUA, é a chamada “Estagnação Tecnológica”. Segundo esta visão (que é mais ligada à oferta econômica) a humanidade já atingiu o pico dos frutos da ciência e da tecnologia, e as coisas que estamos inventando não vão trazer mais benefícios do que aquelas que já inventamos.
Uma segunda visão, mais otimista, é aquela que vem sendo defendida por profissionais como os Profs. Erik Brynjolfsson, Andrew McAfee e Joel Mokyr (dos EUA). Segundo essa visão, nós estamos no limiar do surgimento de uma nova era de invenções e inovações, como terapias genéticas para prolongar a vida, e sementes milagrosas que podem alimentar o mundo sem a necessidade de fertilizantes. Além do mais, estamos começando também uma era onde a tecnologia “aumenta” as capacidades humanas, de forma que as pessoas possam fazer coisas que antes eram impossíveis. A Inteligência Artificial e a Robótica, por exemplo, cada vez mais assumem tarefas repetitivas, possibilitando que os humanos desempenhem tarefas cognitivas cada vez mais complexas com auxílio das máquinas.
Este editor tem se manifestado publicamente como defensor da segunda visão acima exposta, e sua posição foi recentemente publicada em documento contratado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI (instituição ligada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC). Ao propor uma “Nova Estratégia Nacional para o Setor de TICs”, este editor parte de uma premissa central, a qual se contrapõe a uma visão estabelecida na chamada “Economia do Desenvolvimento”.
A Economia do Desenvolvimento tradicionalmente enxerga a produção de commodities, particularmente petróleo e gás (P&G), como uma atividade de limitado potencial para “elos para trás” (backward linkages), e para desenvolvimento industrial e inovação. Esta leitura se coloca em visível contraste com a realidade de empresas como, por exemplo, as da indústria de P&G, a qual tem uma cadeia de valor complexa, global e de multi-camadas, e é intensiva em P&D e inovação, particularmente à medida que as empresas de petróleo desenvolvem recursos mais desafiadores, tais como pesquisas offshore em águas profundas e em reservatórios não convencionais.
Esta premissa vista de um novo ângulo, ou seja, o de enxergar as “commodities” com “um novo olhar”, é aquela que hoje pode ser estendida aos produtos naturais (natural products) em geral e, em particular, aos produtos manufaturados baseados em recursos naturais (manufacturing products natural resources-based). Tal premissa faz parte da essência da nova tese que vem sendo recentemente defendida, entre alguns profissionais, pela especialista em tecnologia e inovação, e internacionalmente reconhecida, Profª. Carlota Perez.
A Profª. Perez tem argumentado que as razões para não ver as indústrias de recursos naturais entre aquelas com altas oportunidades para a maior parte do século 21 são largamente históricas, e que o contexto mudou significativamente. Segundo ela, as TICs, juntamente com o paradigma tecno-econômico que se desenvolveu como o caminho ótimo para usar seus potenciais ao máximo, estão mudando o espaço de oportunidade para inovação nos recursos naturais, que aumentam o dinamismo tecnológico na rede completa de atividades, upstream e downstream, do investimento inicial e exploração até o uso final.
Para ela, tomados em isolado, os dotes dos países em recursos ou capacidades são insuficientes. O que é crucial entender no contexto contemporâneo dos recursos naturais é a importância que as redes (particularmente as redes capacitadoras de TICs) desempenham no desenvolvimento.
Em resumo, ao invés de ficarmos apontando que o Brasil vem perdendo pujança relativa, que estamos desindustrializando, que estamos atravessando uma “especialização regressiva da economia nacional e uma concentração de suas vendas externas em produtos de baixo valor agregado e baixa intensidade tecnológica”, deveríamos olhar a nossa vantagem comparativa em recursos naturais como algo positivo, e que precisamos transformar essa vantagem em vantagem competitiva sustentável agregando conhecimento e tecnologia (marcadamente TICs) naquilo que for essencial para colocarmos o país numa posição mais altiva no cenário mundial!
E que venha 2019!