Essa é uma questão que vem ocupando o pensamento dos profissionais de TICs, e dos fazedores de políticas públicas há anos. No entanto, somente pouquíssimos países podem apresentar evidências concretas e robustas a este respeito (marcadamente no que se relaciona com a produtividade – um dos indicadores econômicos mais relevantes), e um deles são os EUA, detentor da maior indústria de TICs do mundo, e um dos mais preocupados em mensurar o impacto deste setor. 

A importância dos computadores, microprocessadores de computadores, e de software incrementadores de produtividade, em contribuir para o crescimento da produtividade dos EUA na segunda metade dos anos 1990 é bem estabelecida (como nos relembram Byrne and Corrado, 2017). Todavia, a Internet e a telefonia móvel – duas das grandes invenções do século 20 – têm estado largamente ausentes nos trabalhos macroeconômicos sobre o desempenho da produtividade dos EUA até recentemente.

Como ainda nos apontam Byrne and Corrado (2017), a pesquisa em tecnologia de comunicações e as medidas de preços de equipamentos de comunicações e suas implicações para interpretação da produtividade americana, colocam tais inovações como centrais, e oferecem uma história em que as comunicações e as redes de comunicação (tanto quanto o desempenho computacional) guiaram os desenvolvimentos em produtividade nos anos 1990s e início dos anos 2000s.

A tecnologia das comunicações continuou a avançar no início dos anos 2000s, e velocidades de conexão crescentes tornaram possível emergência da cloud e das plataformas móveis, que estão transformando como as organizações usam recursos computacionais e exploram dados. Mas o crescimento medido da produtividade tem diminuído dramaticamente. A deterioração no crescimento da produtividade do trabalho nos EUA é devida em parte ao crescimento historicamente lento no investimento real em equipamentos e software de TICs, os quais não mais ofertam um reforço extra no output geral por hora. De fato, não somente o investimento nominal em equipamento e software relativo ao PIB dos EUA se moveu lateralmente desde 2010 (ver Figura 1 à frente no painel A), mas também os preços de TICs mostraram declínios extremamente pequenos mais recentemente, depois de terem gradualmente perdido força desde 2004 (Figura 1 painel B).

Por que o investimento em TICs nos EUA está tão fraco? Existem algumas explicações sendo colocadas na discussão. No entanto, a que parece (ao nosso ver) ser a mais plausível é aquela que vem sendo colocada por Byrne, Corrado e Sichel (2018), e que está relacionada com a emergência dos modelos de negócios de cloud computing. Segundo esses autores, pelo fato da cloud ser uma tecnologia nova, e de ser um insumo intermediário para outras indústrias, ela é difícil de rastrear no sistema de estatísticas dos EUA. Além do mais, há uma pobreza de informação sistemática nos preços dos serviços de cloud.

Para superar esse problema, os autores definiram os diferentes segmentos de cloud computing e documentaram seu explosivo crescimento. Em segundo lugar, eles desenvolveram novos conjuntos de preços índices para serviços de cloud baseados em dados trimestrais para computação, bases de dados, e serviços de armazenamento oferecidos pela Amazon Web Services (AWS) de 2009 a 2016. Esses índices caíram rapidamente ao longo do período amostral, com rápidas taxas de declínio para os três produtos começando no início de 2014 (quando entram em operação os serviços de cloud da Microsoft e de Google). Finalmente, os autores decifraram o enigma do porquê do investimento em TI estar tão baixo (nas estatísticas oficiais), enquanto os gastos de capital explodiram para equipamentos de TI associados com infraestrutura de cloud. Os autores sugerem que os ofertantes de serviços de cloud estão fazendo grandes investimentos em equipamentos de TI por sua própria conta, e alguns desses investimentos podem não estar sendo capturados nas estatísticas do PIB americano.

Em resumo, mesmo na maior economia do mundo, a avaliação do impacto das TICs é uma questão que ainda está sob intenso debate. No entanto, cabe destacar que a ausência de evidências mais substantivas se deve ao fato de que este setor é bastante dinâmico, e sujeito a intensas inovações tecnológicas, como é o caso da cloud computing.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o impacto das TICs na economia, não hesite em nos contatar!

 

Byrne, David and Carol Corrado (2017). “ICT Services and Their Prices: What Do They Tell Us About Productivity and Technology? International Productivity Monitor 33 (Fall), 150-181.

Byrne, David, Carol Corrado and Daniel E. Sichel (2018). “The Rise of Cloud Computing Minding Your P´S, Q`S and K´S”. National Bureau of Economic Research. Working Paper 25188. October.

 

l44F1

 

banner