Nas nossas últimas newsletters temos dado destaque à questão das Novas Teorias do Valor, particularmente à discussão dos determinantes contemporâneos das diferenças entre criação de valor e extração de valor. Na newsletter desta semana tratamos de um tema emergente entre economistas ecológicos.
Os economistas ecológicos desejam transformar nossas instituições econômicas de modo que a sociedade possa florescer nos limites planetários. Neste sentido, a mensagem principal de recente trabalho é que a extração privada de renda forma uma barreira chave para a realização deste objetivo.
A autora deste trabalho, Beth Stratford, do Sustainability Research Institute, da School of Earth and Environment, da University of Leeds, na Inglaterra, define rent (renda em inglês) como uma recompensa econômica que é sustentada através do controle de ativos que não podem ser fácil e amplamente replicados, e que excedem compensação proporcional pelo trabalho do recebedor. Ela argumenta que a menos que nós fechemos as oportunidades de extração de renda, e socializemos rendas inevitáveis, nossos governos serão compelidos a perseguir crescimento do produto, desrespeitando suas consequências ambientais, para prevenirem desigualdade e desemprego espirais.
A proposta positiva do trabalho é a de que o conceito de renda pode nos ajudar a identificar (e construir suporte democrático para) transformações institucionais necessárias para nos prepararmos para um futuro constrangido (limitado) de recursos. Medidas para reduzir e redistribuir o poder rentista podem ser emancipatórias para os mais pobres da sociedade, enquanto tornamos factíveis propostas que têm sido defendidas (na revista científica em que este trabalho foi publicado), incluindo redução de horas trabalhadas e limites de recursos.
Em contraste, se proteções ambientais são introduzidas antes que as oportunidades para extração privada de renda sejam fechadas, defende a autora, nós podemos ver intensificados a busca-de-renda, bolhas de preços de ativos, pobreza e insegurança econômica.
A argumentação da autora se baseia na sua seguinte contextualização. Nas décadas recentes, analistas de diferentes posições políticas têm notado uma mudança nos padrões de investimento, que se distancia do investimento produtivo, onde os retornos são atingidos através de inovação e crescimento do produto, em direção ao investimento não-produtivo, onde os retornos são atingidos pela extração de renda econômica.
Apesar de uma explícita preocupação com uma distribuição mais justa, tem havido relativamente pouca discussão sobre a crescente extração de renda entre os economistas ecológicos, talvez porque o redirecionamento do capital da atividade “extrativa de renda” para investimento produtivo possa, provavelmente, na ausência de proteções ambientais mais rígidas, resultar em taxas mais altas de consumo de recursos.
Para defender seu argumento, a autora divide seu trabalho em sete seções, além da Introdução. Na seção 2, a autora oferece uma introdução à teoria da renda de John Locke (*), a qual informa suas definições de renda, rent-seeking (busca de privilégios especiais) e poder rentista. Na seção 3 ela discute o modo como proteções ambientais poderiam direta ou indiretamente influenciar a mobilização do poder rentista, e apresenta algumas consequências prováveis para a sociedade. Na seção 4 ela propõe que há um paradoxo na relação entre renda e crescimento. Por um lado, amplas oportunidades para extração de renda podem minar as perspectivas de crescimento econômico. Por outro lado, a busca de renda e a extração de renda criam uma dependência sistêmica de crescimento. Na seção 5 a autora aponta as implicações da análise das seções anteriores para a macroeconomia ecológica e para a tarefa de redesenhar nossa economia para um planeta finito (grifos da autora). Na seção 6 ela reflete sobre as vantagens estratégicas potenciais de deslegitimizar e dispersar o poder rentista, comparado ao suporte em rendas mínimas ou máximas, e limites de riqueza, para limitar a desigualdade. A seção 7 conclui o trabalho.
Eis aí um tema interessante, e que traz mais luzes para um melhor entendimento das diferenças entre as atividades geradoras de valor e aquelas extratoras de valor na economia e na sociedade. E ganha importância ainda maior porque se trata de valores relacionados aos recursos ambientais do nosso planeta, cuja existência se mostra cada vez mais ameaçada!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a extração de renda na economia, não hesite em nos contatar!
(*) John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo", sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social. Locke ficou conhecido como o fundador do empirismo, além de defender a liberdade e a tolerância religiosa.