Os Estados Unidos da América - EUA têm um novo Presidente este ano. Ele se chama Joe Biden e está introduzindo o que estão chamando de “Bidenomics” (a economia do governo Biden). Mas o que é a Bidenomics

No princípio do governo Biden vimos um pacote de US$ 1, 9 trilhões ser anunciado para o enfrentamento da Covid 19, financiado inteiramente com dinheiro tomado emprestado pelo governo. Agora, o governo americano está propondo gastar outros US$ 4,5 trilhões em infraestrutura e programas sociais. Só que agora o Presidente Biden está propondo este novo conjunto de recursos sem aumentar os déficits; ou seja, ele está propondo que isso seja feito com aumento de impostos sobre os mais ricos e sobre as corporações para pagar programas que variam de estações de carregamento de veículos elétricos ao subsídio de cuidados com crianças.

Vistos só pelas manchetes na mídia, não é possível identificar o real significado desses gastos. Mas quando se analisa a história econômica recente dos EUA, percebe-se que tais pacotes de gastos representam o “fim da Era Reagan” (1), ou, como manifestou o Prof. Larry Summers (ex-Secretário do Tesouro dos EUA entre 1999 e 2001) em entrevista ao canal Bloomberg no dia 01-05-2021, a “maior transformação do papel do Estado na economia desde a Era Reagan” (isto é, do Governo Ronald Reagan, entre 01-01-1981 e 01-01-1989), apesar de suas advertências sobre os riscos que tais programas correm.

Como apontado por Noam Smith (1), pelo teor, passo, e escopo dos programas propostos pelo Presidente Biden, e pela natureza muda da oposição ideológica, tudo isso sugere que os EUA estão entrando num novo paradigma de política, tanto quanto Roosevelt entrou no poder em 1933, ou Reagan entrou em 1981. Este último paradigma de política econômica foi baseado em cortes nos impostos, desregulamentação, cortes nos programas de bem-estar, e política monetária apertada. Tais políticas foram pensadas como remédios para dois dos principais problemas econômicos dos anos 1970s – baixo crescimento e inflação, ou seja, estagflação.

Segundo Smith, nos anos 2000 e 2010 o paradigma Reagan não estava fazendo o que era suposto fazer. Os cortes de impostos para investidores não impulsionaram os investimentos. De fato, como visto na Figura 1, os cortes em impostos falharam de forma geral em parar a queda do investimento entre 1980 e 2020. Igualmente, se os cortes de gastos em impostos fizessem as pessoas trabalharem mais, isto certamente não é aparente nos dados agregados de produtividade (Figura 2).

Os programas de gastos de Biden representam o novo paradigma: a Bidenomics. Apoiado em três pilares (benefícios diretos em dinheiro, empregos de cuidadores para desabilitados e idosos, e investimentos em novas pesquisas e inovações, construção massiva de novas infraestruturas de energia limpa, e reparo de infraestruturas de estradas e pontes), tais programas representam a substituição da Reaganomics.

Mas segundo Smith, a Bidenomics se destina a criar uma nova economia “em duas vias” (two-track economy): um setor de inovação dinâmico e competitivo internacionalmente, e um engenho domesticamente focado de emprego em massa e prosperidade distribuída. A exemplo do Japão, que começou a cultivar nos anos 1970 e 1980 um setor exportador (que era apenas 20% da sua economia), seu setor econômico focado no doméstico não era produtivo quando comparado com o americano. No entanto, isso tudo mudou, e hoje o Japão construiu um dos mais efetivos estados do bem estar corporativo (welfare state) do mundo.

O Presidente Biden e seu povo, como defendido por Smith, não querem que seus setores da economia focados no doméstico sejam improdutivos. Eles querem que tais setores façam um upgrade em termos de proporcionar aos americanos um emprego, tal como foi feito no Japão. Esses setores domésticos incluem a economia dos cuidados, onde a equipe de Biden acredita que muito do emprego futuro virá.

Mas todos esses potenciais benefícios não estão isentos de riscos, como vem apontando o próprio Prof. Larry Summers (2). De toda forma, as semelhanças entre o período do Presidente Roosevelt e este período novo que se inicia com o Presidente Biden, observadas por gente importante do setor financeiro (3), dão um demonstrativo de que algo realmente relevante está mudando na economia americana.

Resta-nos saber como essa “two-track economy” lidará com a de “dual-circulation” da China (também chamada de Xinomics, devido ao líder chinês Xi Jinping), tratada na newsletter de 02-05-2021, e, por decorrência, como o Brasil se posicionará estrategicamente diante desses dois novos paradigmas econômicos (4). Mas isso fica para uma próxima newsletter!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a economia de duas vias dos EUA, não hesite em nos contatar!

  1. https://bit.ly/3eP7sdI
  2. https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-03-31/summers-lauds-biden-infrastructure-plan-after-attacking-stimulus
  3. https://www.linkedin.com/pulse/biden-roosevelt-analogue-ray-dalio/?trk=eml-email_series_follow_newsletter_01-hero-1-title_link&midToken=AQGomg-GblSZ0g&fromEmail=fromEmail&ut=3gUnPgu0R9Y9I1
  4. A Creativante está defendendo o que denomina a “Estratégia de Duas Trações”: uma doméstica, baseada em 3 dimensões, ou pilares da vida contemporânea: o Figital (integração entre as dimensões Física e Digital), o Biológico e o Social, e a outra externa (baseada em 3C´s: Colaboração, Competição e Confronto).

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