Desde a newsletter de 21-03-2021, que tratou das razões pelas quais as economias principais do mundo irão enfrentar pressões inflacionárias nas próximas décadas, a Creativante passou a considerar que tais pressões também afetariam a economia brasileira, e isso a levou a revisitar as explicações históricas para as causas da inflação no Brasil (ver newsletters de 28-03-2021; 04-04-2021; 11-04-2021; 18-04-2021; e 25-04-2021).
A tese formalizada pela Creativante a partir dessa análise foi a de que para pensarmos o Brasil de forma inovadora (enfrentando seus problemas atuais e apontando perspectivas para o futuro) nós precisaríamos estar preparados para 03 (três) questões relevantes: a) Em primeiro lugar, entender as estratégias em estão em curso tanto na China (com a sua estratégia de “dual circulation” da Xinomics - de Xi Jinping – tema visto na newsletter de 02-05-2021) como nos EUA (com a sua estratégia da “two-track economy” da Bidenomics - de Joe Biden – tema tratado da newsletter de 09-05-2021); b) Em segundo lugar, analisar o Brasil a partir de um framework econômico dual (daí o porquê do recurso ao pensamento do economista Ignácio Rangel nas newsletters de 28-03-2021 à 25-04-2021); e, c) Finalmente, definir um posicionamento estratégico que esteja alinhado tanto com a “dual circulation” da Xinomics quanto com a “two-track economy” da Bidenomics.
Nesta newsletter a Creativante começa a discutir uma estratégia que responda aos itens b) e c) acima citados, aqui denominada de “Estratégia de Duas Trações” (1): uma externa (ou internacional, baseada em 3C´s: Cooperação, Competição e Confronto), e uma doméstica, baseada em 3 (três) dimensões, ou pilares da vida contemporânea: o Figital (integração entre as dimensões Física e Digital), o Biológico e o Social.
Iniciando pela “tração externa”, podemos argumentar que desde a crise do modelo promovido pelo Estado Nacional, de “industrialização via substituição de importações” (2) na década de 1980, com a crise fiscal do Estado (3), o Brasil vem perseguindo, sem sucesso, um modelo econômico alternativo (4).
Na década de 90, com os Governos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso envolvidos num contexto de dominância do tema da “estabilidade econômica” (o qual envolveu os esforços de controle da hiperinflação), deu-se início a uma tentativa de busca de um novo modelo a partir da “abertura econômica” e do “aumento da competitividade da indústria nacional”.
Os policymakers econômicos de então se dividiram entre aqueles que defendiam a estabilidade monetária (com o controle do nível de preços) e aqueles que defendiam a necessidade de uma “política industrial” no país como um ingrediente fundamental para a retomada do crescimento econômico de forma sustentada. Os últimos iniciaram estudos para determinar quais seriam os setores (ou “complexos” econômicos) com capacidade competitiva, quais aqueles com deficiências competitivas, e quais seriam aqueles difusores de progresso técnico.
Com a “Queda do Muro de Berlim”, e com a efetiva constatação de que o Estado já não mais poderia ser o promotor da desejada “competitividade”, os estudos de tais policymakers passaram a caracterizar a indústria nacional a partir das “cadeias produtivas integradas”, observando aquelas cadeias que sofreriam menores ameaças com a liberalização, as cadeias com sérias deficiências competitivas, as cadeias em que oportunidades e ameaças seriam localizadas e ou se anulariam, e cadeias que participavam da corrente de comércio.
A partir dos anos 2000, acredita-se que tais estudos proporcionaram o desenho de políticas industriais no aparato estatal nacional. Dessa maneira, observou-se a emergência de políticas industriais tais como a PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, seguida do Plano de Desenvolvimento Produtivo - PDP, do Brasil Maior, e do Brasil Mais Produtivo.
Infelizmente, o que a evidência tem nos demonstrado é que tais políticas industriais se mostraram incapazes de estabelecer a retomada do crescimento econômico de forma sustentada. Como vem apontando mais recentemente o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, o “Brasil ficou para trás” (5). Até 1980, Brasil crescia a 7,5% a.a. Depois disso, houve uma transição – a chamada “década perdida” – ao final da qual se estabeleceu um novo padrão de crescimento de apenas 2,5% a.a. (ver Figura 1 à frente).
Para dar uma noção mais real do nosso atraso, o Edmar Bacha faz umacomparação do Brasil com os EUA para passar uma ideia da distância que o país tem a percorrer para se tornar rico; no entanto, ele deu ênfase à experiência mais recente, a partir da 2ª. Guerra (ver Figura 2 à frente). E ele vai mais longe, aofazer a comparação com um país que há menos de cinquenta anos tinha uma renda per capita menor do que a do Brasil, a Coreia do Sul (Figura 3 à frente).
Em resumo, e como veremos nas próximas newsletters, estamos ficando para trás na corrida do desenvolvimento econômico e social, e ao que tudo indica, não podemos mais insistir em políticas que se apoiam unicamente no conceito de competitividade. E é por essa razão que a Creativante passou a defender para o Brasil uma estratégia de integração à economia internacional que se apoia em três pilares centrais, ou 3C´s: Cooperação, Competição e Confronto.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre nossa Estratégia de Duas Trações, não hesite em nos contatar!
(1) Para um conhecimento maior sobre o termo “tração” aqui usado, ver: a href="https://ptwikipedia.org/wiki/Tração_(física)" t" r">h"tps://pt.wikipedia.org/wiki/Tra%C3%A7%C3%A3o_(f%C3%ADsica)
(2) Ver: a href="ttps://pt.wikipedia.org/wiki/Substituição_de_importações" ta" re">ht"ps://pt.wikipedia.org/wiki/Substitui%C3%A7%C3%A3o_de_importa%C3%A7%C3%B5es
(3) Ver: http://www.bresserpereira.org.br/papers/1988/97aDaCriseFiscalAReducaoDaDivida.pdf e
(4) O Modelo de Substituição de Importações, com o Estado promovendo o desenvolvimento, substituiu o Modelo Agro-Exportador vigente no país até as primeiras décadas do século 20.
(5) Bacha, Edmar (2019). Porque Ficamos para Trás. Notas para conferência na Academia Brasileira de Letras. 22 de agosto de 2019