Na newsletter da semana passada introduzimos o conceito que cunhamos de Incerteza Disruptiva a partir da leitura do livro “Radical Uncertainty: Decision-making for an unknowable future” (Incerteza Radical: Tomada de decisão para um futuro incognoscível)”, publicado em 2020 pelos economistas John Kay e Mervin King, onde eles trabalharam o conceito de Incerteza Radical.

Mas antes de dissertar sobre incerteza disruptiva, o que os autores acima entendem por incerteza radical? Indo direto ao assunto, os autores consideram incerteza como o resultado de nosso conhecimento incompleto do mundo, ou sobre a conexão entre nossas ações presentes e seus resultados futuros. Dependendo da natureza da incerteza, tal conhecimento incompleto pode ser estressante ou prazeroso.

Os autores escolheram substituir a distinção clássica (da literatura econômica) entre risco e incerteza, empregada pelos economistas Frank Knight e John Maynard Keynes, por uma distinção entre incerteza solucionável e incerteza radical. Incerteza solucionável é a incerteza que pode ser removida ao procurar algo (eu estou incerto sobre qual cidade é a capital da Pensilvânia), ou que pode ser representada por uma probabilidade de distribuição de resultados (o giro de uma roleta). Com incerteza radical, no entanto, não há meio similar de resolver a incerteza – nós simplesmente não sabemos. Incerteza radical tem muitas dimensões: obscuridade; ignorância; vagueza; ambiguidade; problemas mal definidos; e um hiato de informação que em alguns casos, mas não todos, nós esperamos retificar numa data futura. Estes aspectos da incerteza são o material da experiência cotidiana.

Quando os autores descrevem incerteza radical eles não estão tratando de “caudas longas” – eventos imagináveis e bem definidos cuja baixa probabilidade pode ser estimada, tais como perder uma raia numa roleta. Eles estão não somente tratando de “cisnes negros” identificados por Nassim Nicholas Taleb – eventos surpreendentes que ninguém tenha antecipado até que eles ocorram, apesar de que “cisnes negros” são exemplos de incerteza radical. Eles enfatizam o vasto leque de possibilidades que repousam entre o mundo de eventos improváveis que podem de alguma forma ser descritos com a ajuda de distribuições de probabilidade, e o mundo do inimaginável. Este é um mundo de futuros incertos e de consequências imprevisíveis, sobre os quais há necessária especulação e desacordos inevitáveis – desacordos que frequentemente nunca serão resolvidos. E é este mundo que a maioria de nós encontra.

Desta forma, os autores apresentam três principais proposições ao longo do livro. Primeiramente, o mundo da economia, negócios e finanças é “não-estacionário” – não é governado por leis científicas imutáveis. Os mais importantes desafios nesses mundos são eventos únicos, de forma que respostas inteligentes são inevitavelmente julgamentos que refletem uma interpretação de uma situação particular. Diferentes indivíduos e grupos irão fazer diferentes avaliações e chegar a diferentes decisões, e frequentemente não haverá objetivamente uma resposta certa, tanto antes quanto depois do evento. E porque o que nós observamos não é o resultado de um processo estacionário, inferência estatística convencional raramente se aplica e projeções são frequentemente baseadas em areias movediças.

Em segundo lugar, indivíduos não podem otimizar e nem otimizam; nem eles são irracionais, vítimas de “vieses” que descrevem os modos em que eles desviam do “comportamento racional”. O significado do comportamento racional depende criticamente do contexto da situação e há geralmente muitos modos diferentes de ser racional.

Terceiro, humanos são animais sociais e comunicação desempenha um importante papel em tomada de decisão. Os autores estruturaram seu pensamento em termos de narrativas. Líderes hábeis – nos negócios, na política, ou na vida cotidiana – tomam decisões, pessoais e coletivas, ao falar com outros e ao estarem abertos ao desafio dos outros. Humanos, de forma única, produzem artefatos de extraordinária complexidade e são aptos a fazer isso somente pelo desenvolvimento bem sucedido de redes de confiança, cooperação e coordenação. Economias de mercado funcionam somente por virtude de serem incorporadas em um contexto social.

De acordo com os autores, política pública e estratégia de negócio sensíveis – e adaptativas – não podem ser determinadas por avaliações quantitativas de políticas e projetos, feitos por uma indústria de modeladores profissionais usando raciocínio probabilístico. No livro os autores explicam como é que tantas pessoas inteligentes acreditaram de outra forma – e porque elas estão erradas. Eles reafirmam a distinção entre risco e incerteza, e sugerem que “se nós controlarmos o risco, nós não somente gerenciaremos, mas iremos desfrutar positivamente da incerteza”.

Em resumo, ao criticarem a noção de que é possível “quantificar a incerteza”, ou que se pode seguir o “preciosismo dos números”, como defendido por alguns especialistas, os autores dão preferência à busca de uma postura mais próxima à de um mistério (mais do que um quebra-cabeças), do tipo “what is going on here?” (o que está acontecendo aqui?), ao reconhecerem nossa limitação diante do desconhecido!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre incerteza disruptiva, não hesite em nos contatar!