Em 2019 os economistas Avi Goldfarb e Catherine Tucker publicaram no Journal of Economic Literature (Revista de Literatura Econômica), uma das mais conceituadas revistas de Economia do mundo, o artigo intitulado “Digital Economics” (Economia Digital). De forma resumida, neste artigo os autores argumentam o seguinte:

Tecnologia digital é a representação da informação em bits. Esta tecnologia tem reduzido o custo de armazenamento, computação, e transmissão de dados. A pesquisa em economia digital examina se e como a tecnologia digital muda a atividade econômica. Nesta revisão, nós enfatizamos a redução em cinco custos econômicos distintos associados com a atividade econômica digital: custos de busca, custos de replicação, custos de transporte, custos de rastreamento, e os custos de verificação.”

A análise dos autores é longa (mais de quarenta páginas), mas aqui vamos fazer uma breve síntese, mesmo sabendo que este exercício possa comprometer o real entendimento geral do excelente esforço empreendido. Neste sentido, os autores iniciam o trabalho argumentando que entender os efeitos da tecnologia digital não requer uma nova teoria econômica.

No entanto, tal tarefa requer uma ênfase diferente. Estudar a economia digital começa com a questão de “o que é diferente?” O que é mais fácil fazer quando informação é representada por bits mais do que átomos? A tecnologia digital frequentemente significa que os custos podem limitar ações econômicas. Portanto, a economia digital explora como modelos econômicos padrão mudam à medida que certos custos caem substantivamente e talvez se aproximem de zero. Logo, os autores enfatizam como essa mudança em custo pode ser dividida em cinco tipos: (i) Baixar os custos de busca; ii) Baixar os custos de replicação; iii) Baixar os custos de transporte; iv) Baixar os custos de rastreamento; e, v) Baixar os custos de verificação.

Custos de busca são menores em ambientes digitais, aumentando o escopo potencial e a qualidade da busca. Bens digitais podem ser replicados a custo zero, significando que eles são frequentemente não-rivais (ou seja, não competem entre si). O papel da distância geográfica muda à medida que os custos de transporte para bens digitais e informação é aproximadamente zero. Tecnologias digitais tornam mais fácil o rastreamento do comportamento de um indivíduo. Por último, a verificação digital pode tornar mais fácil para certificar a reputação e a confiança de qualquer indivíduo, empresa, ou organização na economia digital. Cada uma dessas mudanças em custos se apoia em um conjunto diferente de modelos econômicos bem estabelecidos, primariamente os de busca, bens não-rivais, custos de transporte, discriminação de preços, e modelos reputacionais.

Sendo assim, os autores começam com uma discussão dos efeitos de baixar os custos de busca, definidos como os custos de procurar informação. Em seguida, eles se voltam para os custos de replicação zero, os quais também afetam decisões de precificação, incluindo a decisão de ofertar um bem gratuitamente. Por conta dos custos de transportar informação armazenada em bits ser próxima de zero, isto tem mudado o papel dos limites baseados nos lugares sobre a atividade econômica, se devido a custos de transporte físico ou políticas. A digitalização muda as maneiras como os governos podem controlar o fluxo de informação, das restrições de propaganda aos apagões da mídia.

A partir daí, os autores se voltam para examinar uma literatura mais recente que tem identificado duas outras mudanças em custos: custos de rastreamento e verificação. Custos de rastreamento são custos associados com conectar um indivíduo ou empresa com informação sobre eles. Baixos custos de rastreamento possibilitam novos modos de discriminação de preço bem como novas maneiras de direcionar propaganda e outras informações. Ao mesmo tempo, um melhor rastreamento tornou a privacidade uma questão chave, gerando muita pesquisa e discussão de políticas.

Os autores concluem com a discussão das mudanças em custos detalhando mudanças em custos de verificação. A emergência dos sistemas de reputação online tem facilitado confiança, e tem criado novos mercados. Ao mesmo tempo, tais sistemas são imperfeitos, e podem servir como plataformas para fraudes e discriminação.

Em resumo, os autores finalizam o trabalho discutindo as consequências da digitalização para países, regiões, empresas e indivíduos. A digitalização tem afetado a produtividade, o comércio, o papel econômico das cidades, a terceirização doméstica e internacional, os excedentes do consumidor, e como as pessoas gastam seus tempos de lazer.

Eis aí uma abordagem interessante e que traz muitas reflexões para o dia a dia das tomadas de decisão, marcadamente pelo fato de que absorvemos tecnologias digitais sem ao menos termos consciência do que ela estão nos proporcionando.

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