A dimensão nacional/doméstica da Estratégia de Duas Trações (que a Creativante vem defendendo para o Brasil desde a newsletter de 25-04-2021) se inicia com a defesa de uma maior abertura da economia nacional, tal como vem propondo o economista Edmar Bacha (ver newsletter de 06-06-2021). No entanto, uma pergunta permanece em aberto: por que a economia brasileira é ainda tão fechada? Ou seja, por que a parcela do comércio exterior no nosso PIB é tão baixa?
Sem adentrar numa discussão acadêmica, é possível apontar que isso tem muito a ver com as consequências da adoção, no século 20, do modelo de industrialização via um processo de substituição de importações, modelo esse protagonizado pelo Estado. Com a crise fiscal do Estado a partir dos anos 80, o país não foi capaz de erigir um modelo alternativo (como o de criação de uma plataforma de exportação para outros mercados), tal como o fizeram o Japão, os tigres asiáticos e a China).
No modelo de substituição de importações se objetiva criar capacidade produtiva local inibindo importações. O modelo tem uma fase inicial, onde uma indústria doméstica é incentivada. No entanto, com o passar do tempo, e tendo como único objetivo uma maior exploração de um mercado “cativo”, os incumbentes neste mercado passam a criar trincheiras de proteção, levando a uma conduta que inibe processos de inovação em função da ausência de competição externa.
Ao não se promover uma substituição desse modelo, optou-se pela escolha de políticas industriais que penalizaram a indústria, ao invés de desenvolvê-la. Enquanto países emergentes como o Brasil buscavam integrar-se mais ao comércio internacional, aqui a estratégia adotada foi a de mais “conteúdo local”, compras governamentais, a oferta de benefícios fiscais, e a tentativa de criação de cadeias de produção do setor industrial associadas ao papel das estatais e dos governos. Ao optar por esse caminho, sem se integrar às cadeias de valor globais, as atividades industriais que procuraram se instalar no país passaram a competir com os similares nacionais, e tiveram como único objetivo o mercado brasileiro.
O mais inquietante disso tudo, é perceber que as organizações que congregam a indústria no Brasil têm adotado uma postura “defensiva” equivocada, acreditando que políticas de maior abertura do mercado brasileiro são um “risco para a competitividade do país”. Tal postura de baseia na crença arcaica de que a competição se dá ao nível dos mercados de produtos (nacionais versus estrangeiros), e que acordos comerciais com países (tais como os asiáticos) trazem “prejuízos ao país”.
Como já argumentamos na newsletter de 23-05-2021, a competição acontece em dois níveis, sendo o mais visível o nível dos mercados de produtos (onde a competividade é mais lembrada), e o segundo, e menos visível, o dos mercados de fatores/insumos (tais como trabalho, capital e outros recursos). No mercado de insumos, o mais importante (para os propósitos da prosperidade social) é o mercado de trabalho, onde pessoas competem por empregos.
Neste sentido, seria fundamental que os representantes da indústria nacional observassem com maior atenção a experiência da Lei de Informática, que possibilitou a criação no país de diversos e relevantes ecossistemas de inovação ao redor de universidades e institutos públicos e privados de P&D inovador no Brasil como um todo (tais como o Porto Digital e o CESAR/CIN em Pernambuco), que ajudaram (mesmo sem contar com uma política nacional apropriada) tanto a gerar capacitação tecnológica para as empresas quanto o desenvolvimento de novas habilidades e competências necessárias para os mercados locais dentro do território nacional, bem como para o mercado internacional.
Em resumo, uma Estratégia de Duas Trações para o Brasil, visando uma maior abertura de sua economia, tem que partir de um maior entendimento de que a competição no mundo de hoje se processa mais intensamente no mercado de fatores de produção, tais como o mercado de trabalho, e de trabalho intensivo em conhecimento, como é o caso do setor de tecnologias de informação e comunicação - TICs.
Se sua empresa, organização ou instituição, deseja saber mais sobre a Estratégia de Duas Trações para o Brasil, não hesite em nos contatar!