Na newsletter da semana passada iniciamos uma revisita aos trabalhos do advogado e economista Ignácio Rangel, e, de modo particular ao seu livro intitulado “A Inflação Brasileira”, publicado em 1963, e à sua reedição de 1978. Pelas características inovadoras sobre como pensar a inflação brasileira, acreditamos que um recurso ao pensamento de Ignácio Rangel pode ser um caminho para a busca de novas interpretações sobre o que pode estar acontecendo com a economia brasileira.

Indo direto ao ponto, a interpretação de Rangel sobre o desenvolvimento econômico e político do Brasil estava apoiada em dois conceitos centrais: os ciclos econômicos de longa duração e a sua “dualidade básica”. Os ciclos que ele privilegiou foram os ciclos longos identificados pelo economista russo Kondratieff (*).

Para um entendimento atual do significado desses ciclos de Kondratieff, fazemos aqui uma brevíssima descrição do que eles representam. De acordo com Nefiodow e Nefiodaw (2014), os economistas provaram empiricamente cinco ciclos de Kondratieff desde o final do século 18 (Figura 1 à frente), e tais autores apontam para um sexto ciclo. O primeiro ciclo longo foi disparado pela invenção do engenho a vapor e inovações na manufatura têxtil. As estradas de ferro e o conversor Bessemer (o primeiro processo industrial de baixo custo para a produção em massa de aço a partir de ferro gusa fundido) lideraram a economia para o segundo Kondratieff. Foi a grande era do aço.

O terceiro Kondratieff foi o primeiro ciclo longo que foi conduzido pelas aplicações práticas do conhecimento científico de então. A descoberta do princípio elétrico-dinâmico por Werner von Siemens possibilitou a conversão da energia mecânica em energia elétrica (o que viabilizou os investimentos em grandes sistemas de energia elétrica), e os achados da composição da matéria através da física quântica transmitiram o conhecimento da manipulação material – a fundação da química moderna.

O terceiro Kondratieff acabou com a crise econômica global do final dos anos 20 e início dos 1930s. A nova ascensão, o quarto Kondratieff, veio com a indústria automobilística e com a petroquímica. Ele marcou o ápice da sociedade industrial e trouxe o trânsito das massas para as ruas e para o ar. O quarto Kondratieff desenhou um fechamento com os massivos aumentos dos preços do petróleo cru pela OPEP no final dos anos 1970s.

O quinto Kondratieff começou no início dos anos 1950s. Sua força motriz se originou na tecnologia da informação baseada no computador. Com crescente aumento de velocidade, a tecnologia da informação permeou todas as áreas da sociedade e tornou o mundo em uma vila global de informação. Durante o quinto Kondratieff, a sociedade industrial mudou para uma sociedade da informação. Desde então, o crescimento econômico tem sido primariamente definido como crescimento no setor de informação (Nefiodow & Nefiodow, 2014).

O quinto Kondratieff terminou na virada deste século. Ao mesmo tempo em que ele findou, o sexto ciclo de Kondratieff começou. E segundo Nefiodow & Nefiodow (2014) o condutor deste ciclo de Kondratieff será a Saúde em um senso holístico (a pandemia da COVID 19 parece confirmar a previsão desses autores).

Voltaremos a tratar sobre estes ciclos mais à frente. Na próxima newsletter vamos apontar as questões mais relevantes do conceito de “dualidade básica” no pensamento de Rangel, bem como extrair insights para uma posterior análise da sua forma de tratar a economia brasileira, voltando-nos aos ciclos de Kondratieff mais recentes (o quinto e o sexto, que não foram estudados por Rangel – que falecera em março de 1994).

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre os aspectos históricos e atualidades da inflação brasileira, não hesite em nos contatar!

(*) Rangel também se valeu em seus escritos dos Ciclos de Juglar, ciclos de investimento fixo de 7 a 11 anos identificados em 1862 por Clément Juglar. No entanto, a literatura econômica contempla alguns outros autores que trataram os ciclos econômicos e sua relação com o crescimento econômico, tais como Kuznets, Schumpeter, Samuelson, Keynes, Kaldor e Kalecki, Goodwin, Minsk, e mais recentemente Kydland e Prescott e Carlota Perez. Em breve falaremos dos novos ciclos das criptomoedas.

 

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