Tivemos a oportunidade de ler recentemente o livro intitulado “The Art of Economic Catch-Up Barriers, Detours, and Leapfrogging In Innovation Systems” (A Arte do Alcance Econômico: Barreiras, Desvios, e Saltando em Sistemas de Inovação), do Professor Keun Lee, da Seoul National University, editado em 2019 pela Cambridge University Press. 

Ao definir o significado de “catch-up” como sendo o fechamento do hiato entre a economia retardatária e a economia precursora (ou na liderança), o Prof. Lee nos recorda do seu conceito de “catch-up paradox” (paradoxo do alcance), avançado na edição anterior deste seu livro, o qual atesta que o “catching up” não pode ser atingido se meramente se continua a tentar alcançar ou imitar os líderes.

Seus livros (em suas duas edições) discutem os problemas econômicos que as economias retardatárias enfrentam à medida que elas tentam ir além da “armadilha do desenvolvimento” (*). No entanto, tais livros diferem em certos aspectos. O primeiro focou na especialização setorial para ir além da “armadilha da renda média” (**), enquanto o segundo discute várias outras dimensões, nomeadamente, três desvios e três paradoxos que são necessários superar os dois fracassos e uma barreira que as economias retardatárias enfrentam.

Prof. Lee aponta que o livro best-seller intitulado “Kicking Away the Ladder” (Chutando a Escada), de Ha-Joon Chang, observa que a passagem (escada) de nação pobre para nação rica é bloqueada ou “chutada para longe”. Em contraste, Prof. Lee argumenta em seu livro que transicionar de uma economia retardatária para uma economia rica permanece algo possível caso as economias tomassem desvios e, daí, “voassem em um balão”, nomeadamente, saltando em novas tecnologias.

Segundo o autor, economias retardatárias devem adotar desvios por conta da presença de dois fracassos e uma barreira: fracassos na capacidade e no tamanho das empresas, e proteção de direitos de propriedade do Norte (Hemisfério) incumbente. O fracasso na capacidade das empresas se refere à dificuldade intrínseca de construir capacidades inovadoras em países em desenvolvimento. Este tipo de fracasso difere radicalmente da convencional “falha de mercado”, que afirma que subsídios de P&D ajudam a atingir um P&D ótimo (ou aumentado).

Esta visão é válida somente sob a suposição subliminar de que as empresas já são capazes de conduzir P&D. De outra forma, nada acontecerá mesmo com incentivos ou subsídios aumentados. Uma crítica similar se aplica à noção de que proteção forte de direitos de propriedade leva à mais inovação, o que é válido somente sob a suposição de que a empresa já é equipada com capacidades de inovação. O fracasso no tamanho se refere à falta de negócios de classe mundial em países em desenvolvimento, os quais são presentemente preenchidos com empresas com pequeno e médio portes, as quais são consideradas insuficientes em liderar um país em direção ao status de alta renda.

A existência desses “dois fracassos e uma barreira” tem forçado, como aponta o Prof. Lee, as economias retardatárias a explorar um novo caminho em construir suas capacidades inovadoras, ao invés de ficarem replicando práticas empregadas em países avançados. Apesar desse caminho de consolidar capacidades tecnológicas ter sido sugerida por muitos como um componente de alcance econômico, detalhes que guiem este processo estão ausentes. Logo, o livro do Prof. Lee tenta explicar os três desvios em construir capacidades.

Na próxima newsletter continuaremos com a discussão sobre este interessante livro. No entanto, desde já gostaríamos de avançar aqui nosso argumento (aprendido com décadas de experiência em P&D e inovação neste país, e reforçado pela leitura do livro) de que precisamos superar no Brasil uma “terceira armadilha”, que é a “armadilha cognitiva” (***) presente no país.  Esta armadilha nos limita em perceber que temos uma séria “doença gerencial”, ou seja, uma incapacidade de identificar problemas e apontar soluções (de ampla natureza) que consigam conciliar desejabilidade, factibilidade e viabilidade dos pontos de vista econômico, social, político e ambiental.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre nossa “doença gerencial”, não hesite em nos contatar!

(*) Círculo vicioso que limita a capacidade de certos países em se mover em direção a níveis mais elevados de desenvolvimento (armadilha na qual o Brasil se encontra)

(ver: https://www.oecd.org/dev/americas/LEO-2019-Chapter-3.pdf)

(**) De forma simplificada, é uma situação de desenvolvimento econômico na qual um país que atinge uma certa renda fica preso nesse nível (como é o caso do Brasil)

(ver: https://en.wikipedia.org/wiki/Middle_income_trap)

(***) Situações que nos impedem de ver as coisas como elas são, e nos remetem mais à pensamentos ilusórios ou desejosos

(ver: https://www.thechelseapsychologyclinic.com/mood-management/thinking-traps/)