Na semana que passou iniciamos uma breve resenha do livro intitulado “The Art of Economic Catch-Up Barriers, Detours, and Leapfrogging In Innovation Systems” (A Arte do Alcance Econômico: Barreiras, Desvios, e Saltando em Sistemas de Inovação), do Professor Keun Lee, da Seoul National University, editado em 2019 pela Cambridge University Press. 

Neste livro o autor constata que as economias retardatárias devem adotar desvios (caminhos alternativos) por conta da presença de dois fracassos e uma barreira: fracassos na capacidade e no tamanho das empresas, e a proteção de direitos de propriedade do Norte (hemisfério) incumbente. A existência desses dois fracassos e dessa barreira tem forçado as economias retardatárias a explorar novos caminhos em construir suas capacidades inovadoras, ao invés de ficarem replicando práticas empregadas em países avançados. A questão que prevalece é a de como fazer isso!

Logo, o livro explicita os três desvios/caminhos para construir tais capacidades. O primeiro é promover inovação imitativa sob um regime de direitos de propriedade intelectual frouxo, na forma de pequenas patentes e marcas, ao invés de promover e fortalecer direitos de patentes regulares. O segundo é focar nas cadeias globais de valor (ou Global Value Chains – GVCs em inglês), especificamente, uma sequência não linear de primeiro aumentar e depois reduzir, e aumentar novamente a participação nas GVCs. E o terceiro significa se especializar primeiro em setores baseados em tecnologia de ciclo curto e produtos (i.e., Tecnologias de Informação - TI) e, somente num estágio posterior, em sectores de longo ciclo e segmentos (i.e., farmacêuticos).

Além desses três caminhos, o livro elucida “leapfrogging” (dar um salto) como o estágio final de catching up ou de ultrapassar. O leapfrogging requer o envolvimento dos retardatários em cumprir algo à frente dos precursores, portanto, saltando sobre eles. Esta técnica se torna necessária como um meio para contornar os direitos de propriedade intelectual que os precursores sustentam, ao saltar à frente com novas gerações de tecnologias.

Mas tudo isso requer competências estratégica e gerencial, algo que o Brasil está devendo há décadas, e um fato que vem sendo constatado em pesquisas internacionais. Neste sentido, é possível destacar a World Management Survey, o primeiro banco de dados cruzados de países e de indústrias do mundo, construído há quase duas décadas para medir a qualidade das práticas gerenciais em estabelecimentos.

A principal premissa do projeto é a de que as práticas de gerenciamento são fortemente ligadas ao desempenho e produtividade das economias. Segundo a pesquisa, um dos fatores que afetam o PIB das nações são as práticas gerenciais, algo pouco considerado nas pesquisas tradicionais de Economia. Ou seja, conforme as expectativas, os países que possuem maior PIB são os que também possuem melhores práticas gerenciais.

E quando observamos o Brasil na pesquisa, constatamos que nosso país não está muito bem na foto já algum tempo (perdendo para países como os da América Latina, como o México, o Chile e a Argentina), como mostra a Figura 1 a seguir (*). Se considerarmos os problemas que o país vem passando desde 2014, é bem provável que a situação tenha se agravado ainda mais.

Esta constatação nos leva a argumentar que precisamos superar no Brasil uma “terceira armadilha” (além da “armadilha do desenvolvimento” e da “armadilha da renda média” apontadas na newsletter da semana passada), que é a “armadilha cognitiva” (**) presente no país, a qual nos limita em perceber que temos uma “doença gerencial”, ou seja, uma incapacidade de identificar problemas e apontar soluções que consigam conciliar desejabilidade, factibilidade e viabilidade dos pontos de vista econômico, social, político e ambiental.

Em resumo, se desejamos recuperar nossa economia, tirando-a do “pântano em que foi colocada, e recolocando-a nos trilhos” de forma sustentada, temos que inicialmente reconhecer que, enquanto país, temos uma “doença gerencial” que precisa ser urgentemente curada!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre nossa “doença gerencial”, não hesite em nos contatar!

 

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(*) Para detalhes mais nítidos da figura, ver página 53 do seguinte documento:

https://worldmanagementsurvey.org/wp-content/images/2014/05/The-New-Empirical-Economics-of-Management-Bloom-Lemos-Sadun-Scur-and-Van-Reenen.pdf

(**) Situações que nos impedem de ver as coisas como elas são, e nos remetem mais à pensamentos ilusórios ou desejosos

(ver: https://www.thechelseapsychologyclinic.com/mood-management/thinking-traps/)