Na newsletter da semana passada argumentamos que um aspecto relevante que não vem merecendo a devida atenção na discussão internacional sobre a introdução das CBDCs – Central Bank Digital CurrenciesMoedas Digitais dos Bancos Centrais (como o Real Digital), são os efeitos de rede que emergem nos negócios e transações digitais.

De forma a trazer mais luzes ao debate, vamos aprofundar um pouco mais sobre a importância do conceito de efeitos de rede para o tema das CBDCs, e sua relação com outros conceitos, tais como os de economias de rede. O conceito de efeitos de rede (apesar de introduzido pela primeira vez em 1974) ganhou popularidade através do livro de 1998 intitulado “Information Rules: A Strategic Guide to the Network Economy”, dos economistas Carl Shapiro e Hal Varian.

O conceito de efeito de rede diz o seguinte: um bem (produto) ou serviço exibe efeitos de rede se o valor, para um novo usuário ao adotar o bem (ou serviço), cresce no número de usuários que já o adotaram. Isso gera um “positive feedback loop” (ciclo positivo de realimentação): quanto mais usuários adotam o bem, mais valioso o bem se torna para potenciais adotadores. Tal ciclo positivo de realimentação também funciona de forma reversa: se a adoção falha em atingir uma massa crítica de usuários, o bem ou serviço pode fracassar em uma “espiral de morte” e, em última instância, pode desaparecer!

Apesar de cristalino, o conceito de efeitos de rede é muito confundido com outros conceitos que foram muito usados na era industrial (tais como economias de escala do lado da oferta, e learning by doing – aprendendo ao fazer). Neste sentido, é importante qualificar alguns conceitos cruciais para a era digital.

As definições mais relevantes que gostaríamos de destacar são:

Demand side economies of scale (Economias de escala do lado da demanda) – O valor de adotar um serviço por um usuário incremental é maior quando mais usuários já o têm adotado (Network effects, network externalities);

Supply side economies of scale (Economia de escala do lado da oferta) – O custo médio de produzir um output (produto) é menor em níveis maiores de output (produto) (Retornos crescentes de escala);

Learning by doing (Aprendendo ao fazer) – O custo por unidade é menor (ou a qualidade é maior) quanto mais output é produzido (Curva de aprendizado, curva de experiência).

E por que entender tais conceitos é importante para a questão do desenvolvimento das CBDCs? Como avançamos na newsletter passada, as CBDCs - como o futuro Real (R$) Digital - existirão num complexo mundo de redes de computadores e de dispositivos computacionais, computadores e dispositivos esses que serão ofertados por empresas e organizações que desenharam (desenham ou desenharão) estratégias (para seus ativos e negócios digitais) que usaram (usam ou usarão) os conceitos aqui apontados.

No coração das principais empresas da era exponencial que vivemos, há aquelas que ofertam soluções que se utilizam de algoritmos de Inteligência Artificial - IA. Nessas empresas os efeitos de rede podem se manifestar da seguinte forma: dados geram IA (como Machine Learning- ML, ou Aprendizado de Máquina), que gera melhores produtos, que geram mais dados, que geram mais, e melhores, IAs, que geram melhores produtos. É o que Azeem Azhar denomina de “AI Lock-in loop” (Ciclo de Aprisionamento de Inteligência Artificial) (ver Figura 1 à frente).

Se por um lado a existência de um AI Lock-in loop numa empresa pode gerar mais dados, melhores produtos, melhores IAs, por outro lado, os usuários dessa empresa podem ficar “aprisionados” ao seu produto ou serviço gerando também efeitos negativos de rede (que tanto podem ser do mesmo lado (ou mercado) de usuários, quanto de usuários cruzados em outros lados (ou mercados).

Se trocarmos as palavras “usuários” por “moedas, ativos e negócios digitais”, poderemos ver que os mesmos efeitos podem prevalecer, e para isso ainda não há caldo de cultura suficiente para uma análise mais profunda do que pode ocorrer; afinal, qual moeda digital, ou ativo e negócio digital gerarão mais (ou menos) efeitos de rede no mercado internacional de moedas, ativos e negócios digitais, e como? Os usuários em geral estão conscientes desses efeitos?

Eis aí algumas das indagações para as quais ainda não estamos percebendo discussões mais aprofundadas!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o Real (R$) Digital, Efeitos de Rede e Economias de Rede, não hesite em nos contatar!

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