Escalabilidade Social é um conceito que foi popularizado por Nick Szabo, o qual o define como “os meios e limites pelos quais participantes podem pensar sobre, e responder a, instituições e outros participantes à medida que a variedade e o número de participantes destas instituições ou relacionamentos cresce”.
Escalabilidade social é sobre as limitações sociais entre humanos, o que contrasta com escalabilidade técnica, a qual se refere ao consumo de recursos e eficiência computacional. Este conceito é importante para o ecossistema cripto porque as blockchains (os alicerces deste ecossistema) produzem um trade-off fundamental: elas “trade” (trocam) escalabilidade tecnológica por escalabilidade social.
No contexto do Bitcoin (a primeira e mais conhecida criptomoeda do mundo), a rede é assegurada por quebra-cabeças criptográficos intensivos em energia (conhecidos como proof-of-work), e qualquer um que inicie uma transação numa rede Bitcoin, necessita broadcast (transmitir) tal ação para cada nó na rede. Esses processos são considerados por alguns como inerentemente ineficientes e menos tecnologicamente escaláveis do que os sistemas de pagamentos tradicionais. No entanto, esse sistema “cripto econômico” remove a necessidade de terceiros e permite que qualquer um participe na rede tornando-a socialmente escalável.
Em outras palavras, escalabilidade social é a ideia central que está por trás do valor do Bitcoin e o torna uma tecnologia poderosa e importante atualmente. Em 2009, um indivíduo ou grupo usando o nome “Satoshi Nakamoto” criou a moeda mais socialmente escalável da história (ver o projeto inicial). Ao invés de se apoiar integralmente em um intermediário confiável único (como por exemplo, um Banco Central), Bitcoin se vale de um grupo descentralizado de intermediários.
Quando é possível assegurar uma rede financeira através de ciência da computação, mais do que por contadores, reguladores, policiais e advogados, parte-se de um sistema que é manual, local e menos seguro para um que é automático, global, e mais seguro. Quando adequadamente realizada, uma criptomoeda pode substituir um exército de intermediários por um exército de computadores. Porque é independente das instituições existentes para suas operações centrais, e pode operar perfeitamente através de fronteiras tradicionais (institucionais ou nacionais), a criptomoeda oferece altos níveis de segurança (*) e confiabilidade sem requerer intervenção humana.
De forma a atingir um crescente nível de escalabilidade social via globalização, ao longo do último século tivemos que escalar instituições humanas. Para fazer isso de forma confiável e segura, foi necessário grande número de contadores, advogados, reguladores e policiais. Segundo Taylor Pearson (ver sugestões de leitura à frente), o setor transacional da economia norte-americana (contadores, advogados, reguladores e policiais) em 1870 representava 24% do PIB. Este número passou a representar 46% do PIB em 1970.
Precisamos de mais e mais capacidade cognitiva humana para monitorar essas transações. Humanos hoje não têm habilidade para escalar suas capacidades cognitivas além daquelas que existiam em 1950, mas os computadores são muitas ordens de magnitude mais poderosos.
No entanto, em ciência da computação há mais tradeoffs entre segurança e desempenho. A segurança requerida para fazer uma criptomoeda socialmente escalável vem a um alto preço: seu uso de recursos, primariamente a eletricidade usada na mineração (**).
Esta segurança é necessária para qualquer ativo se tornar moeda. É muito difícil para qualquer participante ou intermediário forjar uma moeda. O ouro tem valor em parte porque é muito difícil minerá-lo, e há uma quantidade limite dele, de forma que não há outro meio de rapidamente fazer mais dele.
O benefício da segurança da criptomoeda é que a transação que requeria um exército de intermediários no passado para enviar dinheiro do Brasil para a Inglaterra, por exemplo, pode agora ser feita entre duas partes com uma conexão à Internet.
A criptomoeda sacrifica a escalabilidade computacional de forma a melhorar a escalabilidade social. A ineficiência computacional (uso de eletricidade e grandes quantidades de poder de processamento usado) possibilita sua escalabilidade social (a habilidade para duas partes pseudônimas transacionarem através de fronteiras institucionais e nacionais).
É impossível calcular o valor desse aumento em escalabilidade social, mas parece razoável colocá-lo na mesma ordem de magnitude do matchmaking facilitado pela Internet. À medida que o custo do poder computacional e das fontes de eletricidade renováveis caiam, enquanto a capacidade cognitiva humana permaneça estática, esse tradeoff é crescentemente benéfico.
Isto não quer dizer que adaptar nossas instituições a esse novo paradigma será fácil. Mas as moedas criptográficas, como o Bitcoin, abrem a possibilidade para expandir naquilo que tornam os humanos únicos, e trouxe os ganhos vistos ao longo dos últimos poucos séculos – a escalabilidade social.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre escalabilidade social, não hesite em nos contatar!
(*) Isto não quer dizer invulnerabilidade!
(**) Este tema do uso intensivo de energia vem sendo questionado: ver https://bitcoinmagazine.com/business/bitcoin-energy-use-compare-industry
Sugestões de leitura:
Money, blockchains, and social scalability, por Nick Szabo
What Gives Bitcoin Value? Or The Most Important Idea In Cryptocurrency, por Taylor Pearson (referência base desta newsletter)
PS: Agradecimentos ao colega Professor Ruy de Queiroz por indicação de leitura