Nas newsletters dos dias 24/01/2021 e 31/01/2021 apontamos para a necessidade hoje de prover líderes de negócios com um “menu/cardápio” multifacetado e multidimensional de teorias consagradas e emergentes, bem como de novos insights, modelos, e ferramentas, para que eles próprios, nas suas escolhas de caminhos estratégicos em suas jornadas de definição de estratégias, possam (com seus times) acessar (de forma inteligente) teorias, bem como projetar (design) e implementar as estratégias que mais lhe aprouverem.
Na newsletter de 31/01/2021 argumentamos que os trabalhos então resenhados (consagrados e emergentes) de certa forma ignoram a importância da área do Design (e de modo particular, Design Thinking) na concepção e na implementação de novas estratégias de processos, produtos, serviços, mecanismos, e mesmo de negócios.
Neste sentido, nesta newsletter trazemos para esta discussão mais uma teoria emergente, e ainda pouco conhecida, que é a C-K Theory – Concept Knowledge Theory, ou seja, a Teoria do Conceito - Conhecimento, que percebe o pensamento criativo (e a criatividade) como uma lógica racional, rigorosa e consistente, e que demonstra como a área do Design tem muito a contribuir na definição e na implementação de novas estratégias de negócios.
Antes, porém, uma brevíssima introdução das principais características do método do Design Thinking - DT. Em contraste com Ciência, onde o foco em geral repousa em explorar a solução enquanto o problema inicial está dado, o DT trata ambos, o problema e a solução, como algo a ser explorado. Logo, o DT trata de dois pares de termos: os espaços problema e solução de um lado, e o pensamento divergente/convergente de outro lado. Assim, o DT é sempre uma interação entre a exploração divergente dos espaços problema e solução, e os processos convergentes de síntese e seleção (ver Figura 1 à frente). Desta forma, as características básicas do DT são: (i) Explorar o Espaço Problema; (ii) Explorar o Espaço Solução; e, (iii) Alinhar interativamente ambos os espaços.
E ao tratarmos de DT, estamos lidando eminentemente com a criatividade. Esta, por sua vez, tem sido estudada como um fenômeno psicológico, e a pesquisa a ela relacionada tem focado nos fatores que influenciam a variabilidade humana e a aquisição de tal capacidade. No entanto, o processo criativo permaneceu metaforicamente descrito, com nenhuma formalização rigorosa. Além do mais, a bagagem de conhecimento para a ideação tem sido ignorada, bem como a interação entre a ideação criativa e a geração de conhecimento.
É aí que entra a C-K Theory (proposta em Hatchuel and Weil 2003, 2009) que supera tais vieses, e assume que o pensamento criativo pode ser formalmente descrito com sólidas premissas teóricas, e que podem ser testadas experimentalmente. A C-K Theory mostra que interpretações clássicas da criatividade (tais como associação de ideias, analogia, mistura, divergência e convergência) têm que ser revisitadas. Ela aponta que tais conceitos dão conta de certos aspectos da ideação, mas perdem importantes operadores que descobrem a lógica geradora e expansiva do pensamento criativo.
Além disso, a C-K Theory revela que estruturas específicas de conhecimento são necessárias para permitir a geração criativa. Ela captura dentro do mesmo modelo formal tanto a ideação e aprendizado criativos, quanto invenção e descoberta, e fixação e expansão de conhecimento. Graças ao seu poder explanatório e preditivo, ela permite uma nova articulação entre teoria e observação no campo da criatividade.
O nome C-K Theory espelha a hipótese de que o Design criativo pode ser modelado como a interação entre dois espaços independentes tendo diferentes estruturas e lógicas: o espaço dos conceitos (C) e o espaço dos conhecimentos (K). As estruturas e expansões destes dois espaços determinam as proposições centrais da C-K Theory.
De acordo com a C-K Theory, o design procede no espaço dos conceitos (C) através de um particionamento, por etapas, de conjuntos de C usando proposições vindas de K. Ou seja, se estamos projetando um novo produto, serviço, processo ou mecanismo, começamos com um primeiro conceito C0, e a operação de particionamento do conceito é repetida tanto quanto for possível, e haja uma proposição em K, até que um conceito “Ci” se torne um novo objeto “Ki”, isto é, um objeto cuja existência é garantida por proposições em K (ver Figura 2 à frente).
Em resumo, a concepção, o design e a implementação de novas estratégias é hoje um amplo e evolvente campo de trabalho que vem crescentemente incorporando novas temáticas, teorias, e insights que impõem um novo mindset para o tratamento de problemas e soluções. Mas uma questão que ainda necessita de abordagem é a do uso das mais recentes ferramentas para a implementação das novas estratégias, particularmente as ferramentas de tecnologias digitais. Mas este é o tema da próxima newsletter desta série!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre teorias, design e implementação de estratégias, não hesite em nos contatar!