Um livro texto de Economia faz, de forma habitual, a seguinte distinção: a Microeconomia é o estudo de como empresas e famílias tomam decisões; já a Macroeconomia é o estudo da Economia como um todo! Há uma boa razão para esta bifurcação, mas deixaremos esta discussão para outro momento (*).

Mas o que dizer da Micro Finance (Micro Finança) e da Macro Finance (Macro Finança), e como relacioná-las com as Finanças Digitais? As Finanças são amplamente reconhecidas como um dos recursos cruciais para o desenvolvimento empresarial e para a atenuação da pobreza, marcadamente nos países em desenvolvimento.

De forma geral, a teoria identifica três categorias de recursos importantes: (1) recursos físicos, (2) recursos humanos, e (3) recursos organizacionais. Estes recursos cobrem finanças, processos organizacionais, pessoas e informação (conhecimento). Isto representa uma sinergia de recursos que é importante para a sobrevivência, crescimento e desenvolvimento de qualquer organização. No entanto, pequenas e médias empresas (PMEs) continuam a enfrentar significativos obstáculos para preencher seu potencial para crescer, inovar, e criar empregos devido ao hiato de finanças e inadequado acesso a fontes confiáveis de finanças.

Como resultado, elas falham em executar suas estratégias eficientemente, crescer, e construir vantagens competitivas sustentáveis. Esta falha é relacionada com várias razões, incluindo um setor financeiro formal subdesenvolvido em muitos países em desenvolvimento, os quais são caracterizados por aversão ao risco, tamanho limitado, e um viés contra pequenos negócios, fazendo com que os requisitos dos pequenos negócios não sejam suficientemente endereçados pelas grandes instituições financeiras e bancos.

Sendo assim, ao longo das últimas três décadas, tem havido um amplo reconhecimento das instituições de microfinanças (Microfinance Institutions – MFIs) e uma crescente provisão de serviços de microcrédito em países em desenvolvimento em todos os setores. Este é o contexto da Micro Finança. Alguns trabalhos tentam qualificar qual é o foco de interesse principal desta área. Um destes trabalhos, fazendo uso de uma revisão sistemática de literatura, endereça três objetivos de pesquisa: (a) identificar as tendências presentes nos resultados da literatura de micro finança; (b) examinar os estudos e temas mais influentes neste campo; e, (c) discutir as estruturas intelectuais dos resultados da pesquisa em micro finança e as tendências subjacentes (**).

Por outro lado, a Macro Finança estuda a relação entre preços de ativos e flutuações econômicas. Suas teorias são construídas a partir de alguns fatos simples. Os preços dos ativos e retornos são correlacionados com ciclos de negócios. Ações sobem em bons tempos, e caem em termos ruins. As taxas de juros reais e nominais crescem e caem com o ciclo de negócio. Os retornos das ações e os rendimentos de títulos também ajudam a prever eventos macroeconômicos tais como crescimento do PIB e inflação (***).

Ações têm um retorno médio substantivamente maior do que os títulos. Estimativas típicas colocam o prêmio das ações entre 4% e 8%. Mesmo 4% são intrigantes. Por que as pessoas não tentam sustentar mais ações, dado o poder dos retornos compostos para aumentar dramaticamente a riqueza em longos horizontes de tempo?

A resposta, é claro, que ações são arriscadas. Mas as pessoas aceitam muitos riscos na vida. Em loterias e em cassinos elas buscam riscos. A resposta deve ser que ações têm uma categoria especial de risco, que os valores das ações caem em tempos particularmente inconvenientes, ou estados da natureza particularmente inconvenientes (***).

Em resumo, duas questões emergem: a) O que há em recessões, ou em alguma outra medida de tempos econômicos ruins, que faz as pessoas particularmente tenham medo de que as ações irão cair durante tempos ruins – e daí as pessoas demandam um grande prêmio avançado para enfrentar o risco? b) O que há em recessões, ou em alguma outra medida de tempos econômicos ruins, que faz que o prêmio suba – que faz as pessoas, em tempos ruins, mesmo mais temerosas de tomar o mesmo risco, irem em frente? (***).

Para explicar estes fatos, a literatura de Macro Finança explora um amplo leque de preferências alternativas e estruturas de mercado. Uma amostra coloca o seguinte: 1- Hábitos; 2 – Utilidade recursiva; 3 – Riscos de longo prazo; 4 – Risco idiossincrático; 5 – Preferências heterogêneas; 6 – Desastres; 7 – Utilidade não separável entre bens; 8 – Alavancagem; balanços contábeis; finanças institucionais; 9 – Aversão à ambiguidade, preferências mini-max; 10 – Finanças comportamentais; erros de probabilidade (***).

E como as Finanças Digitais entram nesta discussão? Na próxima newsletter iremos argumentar que as Finanças Digitais introduzem novas questões ao tratamento das Finanças, e promovem uma ponte entre a Micro Finança e a Macro Finança apontando para novas soluções e modelos de negócios!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre Micro Finança, Macro Finança e Finanças Digitais, não hesite em nos contatar!

(*) Os interessados podem contar com este texto para esclarecimentos preliminares!

(**) https://fbj.springeropen.com/articles/10.1186/s43093-023-00195-3

(***) https://academic.oup.com/rof/article/21/3/945/3060346