Esta pode ser uma pergunta descabida, sem sentido para os “humildes mortais”. No entanto, ela está inserida em uma discussão que era considerada (até então) como eminentemente “técnica”, mas que tem adquirido conotações sub-racionais (tais como as emocionais) em função dos históricos, vastos e complexos interesses que estão a ela associados.

Uma das principais razões que podem explicar tais comportamentos é fácil de identificar, já que está associada à própria evolução da humanidade, a saber: trata-se de algo vinculado à moeda (ou o dinheiro), seu crucial papel na economia e na sociedade, bem como seu destino futuro!

Existem algumas tentativas para dar breve significado ao termo “padrão monetário”. O Cambridge Dictionary aponta que é algo que é usado para medir o valor de uma moeda, ou no que o valor da moeda é baseado. Já The Oxford Encyclopedia of Economic History indica que um padrão monetário se refere ao conjunto de arranjos monetários e instituições governando a oferta da moeda. Apesar de diretos e objetivos, tais significados pouco contribuem para a questão colocada no título desta newsletter, ou seja: por que precisamos de um padrão monetário?

Na busca de respostas para a pergunta, deparamo-nos com o livro intitulado “The Federal Reserve: A New History” (A Reserva Federal: Uma Nova História), publicado este ano por Robert L. Hetzel (Afiliado Senior do Mercatus Center da George Mason University, nos EUA), através da University of Chicago Press, e dentro dele, com o primeiro capítulo intitulado “In Seach of the Monetary Standard” (Em Busca do Padrão Monetário).

Antes de examinarmos tal capítulo, devemos reforçar que a perspectiva do autor é a de um ex-funcionário do Federal Reserve Bank of Richmond (Banco Central dos EUA) de 1973 a 2018; portanto, um defensor do padrão monetário fiat (no caso, do dólar estadunidense). No sumário daquele capítulo, Hetzel afirma que “bancos centrais criam o padrão monetário” (grifos nossos!). A retórica do FED é que o Federal Open Market Committee – FOMC (equivalente, no Banco Central do Brasil, ao seu COPOM – Comitê de Política Monetária) persegue seu mandato dual legislado pelo Congresso dos EUA. Durante um longo horizonte de tempo, o FOMC assegurou o público que ele conduzia sua política de um modo a atingir “máximo emprego” e “estabilidade de preço”. Mas como? indaga Hetzel!

O autor assevera que em uma economia de mercado não há planejamento central. Não há controles de preço de período de guerra que dite como empresas estabeleçam seus preços. Não há racionamento de período de guerra para controlar os gastos das famílias. O sistema financeiro é livre para alocar crédito. O que, então, é o padrão monetário? Como um banco central, o FED tem a única responsabilidade de ofertar moeda (o dólar) a um valor bem definido, isto é, determinar o comportamento do nível de preço.

Uma regularidade econômica empiricamente perene (observa Hetzel) é a ocorrência conjunta de instabilidade monetária (nível de preço) e a instabilidade real (flutuações cíclicas em produto/PIB e emprego). O que, então, é responsável pelas flutuações no valor da moeda durante de longos períodos, e o que é responsável pela interação conjunta do valor da moeda com as flutuações na economia real?

Uma resposta, segundo Hetzel, não somente para a questão “o que é o padrão monetário”, mas também para a questão “o que é o padrão monetário ótimo”, requer um “modelo”. O modelo deve explicar como o comportamento do banco central/FED (ao estabelecer seus instrumentos) interage com o sistema de preços para influenciar o comportamento das famílias e empresas. Esse modelo deve trazer coerência com a história monetária, no caso do Hetzel, a dos EUA, marcadamente. Esse modelo deve fazer isso ao organizar um sumário da evolução do padrão monetário, e por informar quando o padrão estabilizou a economia e quando ele desestabilizou a economia.

Depois de recorrer a autores consagrados na literatura econômica (tais como Knut Wicksell; James Tobin; Milton Friedman e Robert Lucas), buscando elementos para uma justificativa teórica para o modelo por ele sugerido, Hetzel argumenta que descobrir a natureza do padrão monetário, como ele evoluiu no tempo, e o que constitui o padrão monetário ótimo, é um exercício de “identificação”.

A razão para isso, aponta Hetzel, é que o FED funciona como parte da macroeconomia em que todas as variáveis estão correlacionadas. A identificação do padrão monetário requer, então, um modelo que permita a separação de como o FED influencia o comportamento da economia, e como o comportamento da economia influencia o FED. Isto é, tal exercício requer a separação entre causação e correlação.

Finalmente, perguntamos: Hetzel teve sucesso na sua “busca do padrão monetário”? Como o livro é composto por vinte e nove densos capítulos, deixaremos para avaliar sua jornada na próxima newsletter!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre padrões monetários, não hesite em nos contatar!