Na semana que passou iniciamos uma discussão sobre a necessidade de um “padrão monetário”. Para tanto, recorremos ao livro intitulado “The Federal Reserve: A New History” (A Reserva Federal: Uma Nova História), publicado este ano por Robert L. Hetzel, afiliado Senior do Mercatus Center da George Mason University, nos EUA, através da University of Chicago Press.

O primeiro capítulo deste livro, intitulado “In Seach of the Monetary Standard” (Em Busca do Padrão Monetário) é o que dá o tom do trabalho, e o que deu o mote para nossa pergunta da semana passada: afinal, o autor teve sucesso na sua “busca do padrão monetário”? Esta não é uma pergunta fácil de responder, já que o livro é composto por trinta densos capítulos, estruturados de forma histórica, com os seguintes títulos:

  • Cap. 2 - A Organização do Livro;
  • Cap. 3 – O que causa a Desordem Monetária que produz Desordem Real? ;
  • Cap. 4 – A Criação do Fed;
  • Cap. 5 – Porque o Fed falhou na Depressão: Os Antecedentes dos anos 1920;
  • Cap. 6 – Um Padrão Moeda Fiat: Reservas Livres Operando Procedimentos e Ouro;
  • Cap. 7 – O relato narrativo dos anos 1920;
  • Cap. 8 – Atacando a Mania Especulativa;
  • Cap. 9 – A Grande Contração: 1929-33;
  • Cap. 10 – A Era Roosevelt;
  • Cap. 11 – O Papel Guia do Governador Harrison e o NY Fed;
  • Cap. 12 – Críticas Contemporâneas na Depressão;
  • Cap. 13 – Da II Guerra Mundial à Recessão de 1953;
  • Cap. 14 – LAW (Lean-Against-the-Wind) (Posicione-se contra o Vento) e Hiatos Longos e Variáveis;
  • Cap. 15 – O Martin Fed Inicial;
  • Cap. 16 – Da Estabilidade de Preço à Inflação;
  • Cap. 17 – O Burns Fed;
  • Cap. 18 – Stop-Go (Pare-Siga) e o Colapso da Âncora Nominal Estável;
  • Cap. 19 – O Volker Fed e o Nascimento de um Novo Padrão Monetário;
  • Cap. 20 – O Greenspan FOMC;
  • Cap. 21- A Grande Recessão;
  • Cap. 22- A Crise Financeira de 2008;
  • Cap. 23 – A Crise da Eurozona;
  • Cap. 24 – Recuperando da Grande Recessão;
  • Cap. 25 – Covid-19 e a Política de Crédito do Fed;
  • Cap. 26 – Covid-19 e a Política Monetária do Fed: Meta Flexível da Média de Inflação;
  • Cap. 27 – Como o Fed pode Controlar a Inflação?
  • Cap. 28 – Tornando o Padrão Monetário Explícito;
  • Cap. 29 – O que é o Padrão Monetário Ótimo?
  • Cap. 30 – Por que aprender é tão difícil?

Depois de um esforço fenomenal para recuperar a trajetória da história monetária recente dos EUA, Hetzel tenta responder ao seu principal objetivo de investigação mais diretamente nos capítulos 28 e 29 do livro. No capítulo 28 o autor procura apontar se é possível perceber se a atuação do Fed (e de modo particular o FOMC, equivalente, no Banco Central do Brasil, ao seu COPOM – Comitê de Política Monetária) torna o padrão monetário explícito. Depois de examinar como os instrumentos do Fed são utilizados (se através de regras ou através de práticas discricionárias), Hetzel revela que os tomadores de decisões não decidem usando um arcabouço analítico estabelecido; eles o fazem, sim, na forma de julgamentos.

Já o capítulo 29 examina como o padrão monetário explica como as ações do banco central transladam para o comportamento das empresas e famílias. Para entender a natureza do padrão monetário é necessário explicar como o banco central varia seus instrumentos em resposta às novas informações da economia, dados seus objetivos: e a isto se denomina “função de reação”! Logo, faz-se necessário explicar como a função de reação opera para produzir o desejado comportamento coletivo das empresas e famílias dada a estrutura da economia.

A partir daí, Hetzel passa a apontar para os atributos dos modelos teóricos econômicos dominantes, que “informam” os tomadores de decisão quais políticas implementar. Sobressaem na análise o modelo macroeconômico Novo Keynesiano, particularmente o DSGE – Dynamic, Stochastic, General Equilibrium Model, em diálogo competitivo constante com os modelos dos monetaristas.

Como resultado de sua investigação, Hetzel assevera que os bancos centrais não possuem procedimentos institucionais para um aprendizado sistemático da experiência do passado. Aprender requer que os bancos centrais admitam que eles cometem erros, e que eles podem aprender com esses erros. Para ele, tal admissão atenuaria o custo de ataques populistas.

Além disso, segundo Hetzel a literatura acadêmica se afastou do exame da política monetária (*). Como um resultado, apesar a experiência histórica acumulada, não há acumulação do conhecimento aceito sobre o que constitui uma política estabilizadora (ou desestabilizadora). Não há também um corpo de hipóteses testadas genericamente aplicáveis ao desenho de padrões monetários ótimos.

Concluindo, pelo que se pode inferir do livro resenhado (que aponta para um sucesso relativo do seu autor), a busca do padrão monetário é uma jornada ainda em aberto, o que abre diversas portas para a percepção, por parte da sociedade, de que novas formas de moeda e de padrão monetário podem ser constituídas.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre padrões monetários, não hesite em nos contatar!

(*) Temos um posicionamento diferente do Hetzel, uma vez que já constatamos um renascimento de tal exame. Mas isso é para uma outra oportunidade!