Na newsletter da semana passada iniciamos uma série sobre o termo Shadow Banking System (Sistema Bancário Sombra), desenvolvido nos EUA, apontando sua maior visibilidade a partir da Grande Crise Financeira de 2007/09. Depois de indicarmos sua origem, apontamos brevemente para seu tamanho e importância. Mas o que é mesmo o Shadow Banking System?

O Shadow Banking se refere a empresas e atividades financeiras que desempenham funções similares àquelas dos bancos tradicionais. O shadow banking contrasta, de acordo com Murphy (2013), com o “luminated banking”, um termo que descreve os chartered banks (bancos com carta-patente do Banco Central), que criam fundos a partir dos depositantes de forma da oferecer empréstimos que os próprios chartered banks sustentam. Os chartered banks, como todas as formas de intermediação financeira, são sujeitos a riscos bem conhecidos, incluindo risco de crédito, risco de taxas de juros, desalinhamento de maturidade, e o potencial para corridas.

Cada setor do shadow banking é geralmente sujeito ao mesmo problema de intermediação financeira para o qual o setor é análogo (no luminated banking). Por exemplo, se um setor do shadow banking, tal como os de money market funds – MMF (fundos de mercado de moeda) tem investidores que são análogos aos depositantes no luminated banking, logo o potencial para sujeição às “corridas aos bancos” pode ser similar. Ou, se o setor depende de collaterized loans (empréstimos com garantias), tais como asset-backed comercial paper – ABCP (papeis comerciais baseados em ativos), logo, disrupções no mercado do collateral subjacente podem causar fire sales (queimas de vendas) que podem reforçar e magnificar quedas de preços.

Murphy (2013) analisa cinco setores do shadow banking. Este setores incluem: (1) repos (repo market – mercado de recompra, tratado na newsletter de 21-08-2022); non-bank-intermediaries (intermediários não bancários); (3) ABCP (papeis comerciais baseados em ativos); (4) securitization (securitização), e (5) MMFs (fundos de mercado de moeda). Em seu relatório, Murphy define cada setor, reconta a experiência do setor durante a crise financeira, e esboça algumas preocupações (à época, 2013) de política relacionadas.

Na definição de Pozsar et. al. (2010) (mencionado na newsletter passada) os exemplos do shadow banking incluem também companhias financeiras, veículos de investimento estruturado, companhias de financiamento de propósito limitado, credit hedge funds (fundos de proteção de crédito), money market mutual funds (fundos mútuos de mercado de moeda), security lenders (emprestadores de títulos), e empresas patrocinadas por governos.

Segundo Pozsar et. al. (2010), os shadow banks são interconectados ao longo de uma longa cadeia de intermediação verticalmente integrada, que intermedia crédito através de um leque de técnicas de securitização e de funding assegurado, tais como ABCP, asset-backed securities (títulos baseados em ativos), collaterized debt obligations (obrigações garantidas de dívida) e repo. Esta cadeia de intermediação amarra os shadow banks numa rede, que é conhecida como o shadow banking system.

O shadow banking system rivaliza com o sistema bancário tradicional na intermediação do crédito para famílias e empresas. Ao longo da primeira década deste século o shadow banking system ofertou fontes baratas de funding para crédito ao converter ativos opacos, arriscados e de longo prazo (em uma categoria de moeda) em passivos de curto prazo aparentemente sem risco. Logo, transformações na maturidade e no crédito no shadow banking system contribuíram significativamente para “bolhas de ativos” nos mercados residencial e de ativos imobiliários comerciais no período anterior à crise financeira de 2007/09.

E o que representa hoje (depois da crise financeira de 2007/09) o shadow banking system para o sistema bancário norte-americano, e para o sistema bancário global? É o que discutiremos na próxima newsletter!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o “shadow banking system”, não hesite em nos contatar”!