Uma das importantes inovações financeiras das últimas décadas tem sido o surgimento das chamadas criptomoedas (moedas privadas baseadas em tecnologias tais como as de criptografia). Segundo trabalho do Prof. Michael C. Burda, da Humboldt-Universitat zu Berlin, na Alemanha, a publicação – no ano de 2009 - do protocolo Satoshi Nakamoto descrevendo a moeda denominada Bitcoin, moeda permissionless (sem necessidade de permissão de uma autoridade como um banco central), proof-of-work ledger (constituindo um registro ou livro-razão a partir de prova de trabalho), e baseada na tecnologia blockchain, configurou “uma das mais profundas revoluções em tecnologia de transações desde a invenção dos cheques negociáveis, e possivelmente desde a aparição do papel moeda na dinastia Song no século 11, ou na Europa do século 17”.

Para o Prof. Burda, uma valoração positiva de mercado para os ativos digitais privados parece estar fora de dúvida, uma vez que ao final do ano de 2020 estava na casa dos US$ 800 bilhões, e por volta de abril de 2021 atingira mais de US$ 2 trilhões, flutuando para baixo e chegando a US$ 1,5 em junho. Pelas nossas investigações mais recentes a capitalização do mercado global de cripto estava em US$ 1,07 trilhões, o que parece demonstrar certa resiliência depois dos escândalos que abalaram este novo mercado em 2022.

Logo, o Prof. Burda se pergunta: o quanto esta inovação realmente vale? O que podem a macroeconomia e os modelos macroeconômicos dizer sobre valoração de criptomoedas? Como um meio de trocas, elas derivam valor em termos dos bens que elas provêm. Como um outside asset (ativo “de fora”), elas são um veículo de sustentação de riqueza, mas não representam ainda exigíveis sobre outros agentes econômicos, bancos centrais ou governos, mas sim tokens em um sistema de manutenção de registro (livro-razão) coletivamente monitorado.

Elas não são perfeitamente correlacionadas umas com as outras, nem com retornos em outras classes de ativos. Tal como outros ativos financeiros, elas podem ajudar em assegurar contra o risco de consumo. Finalmente, criptomoedas resolvem o problema da dupla coincidência de desejos, tanto ao longo do tempo como ao longo dos Estados do mundo, tal como o filósofo David Hulme via a moeda como “nenhuma das rodas do comércio, mas sim uma facilitadora do trade/comercialização”.

Para o Prof. Burda a economia da entrada e da valoração de mercado das criptomoedas são dimensões subpesquisadas da digital finance, nome dado hoje às Finanças Digitais, que envolvem complexas formas de pagamentos futuros na forma de “smart contracts” (contratos inteligentes) ou pagamentos condicionais. A emissão de novas criptomoedas incorpora o matching (pareamento) de tecnologias de transações com casos de uso em um mercado rapidamente evolvente com custos fixos de desenvolvimento e significativos prêmios de sucesso.

Neste sentido, o trabalho do prof. Burda pesquisa a capacidade de simples modelos macroeconômicos darem conta das persistentes valorações positivas das moedas privadas emitidas baseadas em blockchain. Os modelos utilizados foram o de demanda de transações para meios de pagamentos, o modelo de capital asset pricing (precificação de ativos de capital) baseado em consumo, e o modelo de search (busca) e matching (pareamento).

Sem aprofundarmos neste espaço os detalhes técnicos dos três modelos, o Prof. Burda nos aponta que enquanto cada modelo ilumina um importante aspecto dos pagamentos digitais, nenhum é suficientemente rico para capturar todas as dimensões da valoração das criptomoedas adequadamente. Ele conclui que pelo fato das características conjuntamente produzidas pelos modelos interferirem umas com as outras, uma expansão duradoura do uso e utilidade das criptomoedas provavelmente irá requerer novas inovações tecnológicas que possam separar estas características.

A contribuição do Prof. Burda não para neste trabalho. Em recente discussão para a revista Digital Finance, comentando o artigo intitulado “Programmable money: next-generation blockchain-based conditional payments”, publicado em 2022 por Ingo Weber e Mark Staples, o Prof. Burda aponta para um número de questões que devem ser resolvidas antes que esta inovação (programmable money – moeda programável) se mostre factível como moeda em um trade/comércio análogo ou finanças digitais. E isso inclui secondary tradability (comercialização secundária), acesso permissionado/permitido, padronização e transparência.

Eis aí um conjunto de questões super interessantes para discutirmos neste novo universo da Digital Finance (Finanças Digitais), e para a qual precisamos urgentemente de formar quadros para a compreensão e uso das metodologias, técnicas e ferramentas deste novo mundo digital!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre valoração de criptomoedas, não hesite em nos contatar!