As crises financeiras de 2008-10 nos Estados Unidos e a crise da dívida soberana na região do Euro de 2010-2012 são claros exemplos de como colisões financeiras podem trazer para baixo economias inteiras. Ao contrário de décadas passadas, estas colisões não estiveram limitadas a oscilações selvagens em preços de ativos, nem a grandes ganhos e perdas para tubarões e tolos. Elas não somente afligiram países onde problemas institucionais e claras linhas de falhas no modo como os mercados financeiros operam tornam uma crise uma matéria de tempo. Mais que isso, elas foram crises macro-financeiras.

Tais crises trouxeram dificuldades econômicas para famílias em todo o mundo. Economistas financeiros naturalmente exerceram muito esforço entendendo manias e pânicos em mercados financeiros, enquanto macroeconomistas estiveram sempre somente ocupados em dar senso às grandes recessões e depressões.

Ao longo da última década, ao contrário, tem havido uma enorme quantidade de pesquisa na intersecção da macroeconomia e das finanças devotada aos momentos quando mercados e a macroeconomia se movem violentamente. Pesquisadores têm explorado novas ideias, novas evidências, e novas explicações para o que nós vimos, e aplicaram-nas para não somente as crises globais recentes, mas também para dar senso às colisões regionais ao longo dos 30 anos passados. Este livro oferece uma curta introdução a algumas dessas ideias.”

Os três parágrafos acima são uma tradução literal dos três parágrafos iniciais que compõem a Introdução do livro “A Crash Course on Crises: Macroeconomic Concepts for Run-Ups, Collapses, and Recoveries” (Um Curso de Colisão em Crises: Conceitos Macroeconômicos para Corridas, Colapsos e Recuperações), publicado em 2023 pelos Profs. Markus Brunnermeier (Princeton University) e Ricardo Reis (London School of Economics).

Na definição dos professores, uma crise financeira é muito mais do que uma forte queda em preços ou em volumes de comércio em algum mercado. Ela é um momento quando muitos mercados financeiros mostram o mesmo padrão de perdas, quando más notícias numa esquina rapidamente se espalham para várias outras, e quando falhas em uma instituição as tornam padrão em compromissos para outras, todas chocadas como numa fila de dominós.

Uma crise macro-financeira é muito pior do que isso. Ela acontece quando problemas financeiros transbordam para a economia real e retornam para os problemas financeiros. Essas crises vêm recessões rápidas e profundas, onde milhões perdem seus empregos, a renda cai, e as instituições democráticas ficam pressionadas para achar outros a quem reclamar. Estas colisões são tópico deste excelente livro.

Para os autores, novos conceitos para entender essas colisões têm sido desenvolvidos. Apesar disso, eles são somente vagamente conhecidos para os economistas trabalhando fora da intersecção da macroeconomia com a economia financeira. Estudantes de economia ao nível de graduação, e, frequentemente, em nível de mestrado são, na maior parte, desconhecedores dessas colisões. O moderno estudo das colisões ainda não vazou para os livros texto. Como resultado, em debates públicos ou discussões de políticas, colisões são algumas vezes ainda referidas como aberrações na ciência econômica.

Mesmo quando as pessoas usam conceitos modernos e modelos de colisões, elas frequentemente não têm o entendimento de como elas (colisões) operam, como eles (conceitos) podem ser aplicados, e como eles se encaixam. Como ressaltado pelos autores, o alvo do livro é introduzir estas ideias na intersecção entre a macroeconomia e as finanças.

O livro é composto de quatro partes e dez capítulos, além da Introdução e da Conclusão:

  1. Parte 1 (Fragilidades Crescentes: A Corrida para Crises);
  2. Parte 2 (Colisões: Disparadores e Amplificadores);
  3. Parte 3 (Política e Recuperações);
  4. Parte 4 (Palavras de Partida).

Como pode ser visto ao longo do livro, dez conceitos de macro-finanças, que são centrais em uma crise, são introduzidos aos leitores. Resumidamente, numa corrida para crises, bolhas emergem e persistem à medida que cada investidor tenta antecipar o que os outros farão. Depois de um choque inicial, espirais de liquidez e queimas de vendas geram complementaridades estratégicas que amplificam o choque ou criam múltiplos equilíbrios levando a falha sistêmica no mercado financeiro, propagando para a atividades real. Na recuperação, o investimento fica deprimido, e a depreciação da taxa de câmbio machuca os devedores, desacelerando a economia. Os bancos centrais podem oferecer liquidez aos bancos e ajudar os mercados a distinguirem entre solvência e uma crise de liquidez, mas para lutar com a recessão, eles devem contar com política monetária não convencional, sob diversas formas. Adicionalmente, a política fiscal deve domar a demanda por segurança ao elevar despoupanças públicas, ou ofertando estabilizadores automáticos, enquanto prestando atenção à composição do gasto e seus multiplicadores associados.

Finalmente, apontam os autores, juntos e relacionados uns com os outros, esses dez conceitos oferecem ferramentas para entender como crises macro-financeiras emergem, crescem, e podem ser atenuadas.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre crises macro-financeiras, não hesite em nos contatar!