Como temos apontado em algumas newsletters (ver particularmente Scaling up Ecosystems (Escalando Ecossistemas) Parte 1, publicada em 13/05/2024), o foco do Grupo de Finanças Digitais da UFPE (o qual temos a honra de pertencer) é o da convergência de três importantes ecossistemas financeiros baseados em plataformas digitais: o CeFi – Centralized Finance, o DeFi- Decentralized Finance, e o que denominamos por PlatFi- Platform Finance. Esta convergência está na origem do próprio termo “Digital Finance” – Finanças Digitais) (ver Figura 1 à frente).

Destes três ecossistemas, o que vinha sendo menos analisado na literatura (tanto acadêmica quanto profissional) era o PlatFi, que compreende a inserção das plataformas digitais das bigh tech companies (Google/Alphabet, Amazon, Microsoft, Meta, e Apple, marcadamente) no setor financeiro. Como apontamos na newsletter Digital Finance (Finanças Digitais) (Parte Final) publicada em 30/11/2020, a emergência das big tech companies no setor financeiro não foi um fenômeno que passou totalmente despercebido. No Anual Economic Report 2019 do BIS – Bank of International Settlements é dedicado um capítulo específico ao tema “Big techs in finance”.

Segundo o BIS, as atividades das big techs em finanças são um caso especial de inovação fintech mais ampla. As fintechs se referem à inovação capacitada por tecnologia nos serviços financeiros, incluindo os resultantes novos modelos de negócios, aplicações, processos e produtos. Enquanto as empresas fintech se instalam para operarem primariamente em serviços financeiros, as empresas big tech oferecem serviços financeiros como parte de um conjunto muito maior de atividades.

Desde então, a presença das big tech in finance só tem aumentado. Felizmente, alguns autores especializados começaram a investigar esta inserção de forma mais sistematizada. Um deles é o Igor Pejic, especialista em mudanças nos setores bancário e financeiro, que publicou, em 2023, o livro intitulado “Big Tech in Finance: How To Prevail In the Age of Blockchain, Digital Currencies and Web3”.

Neste seu livro o autor parte de algumas constatações importantes. Segundo ele, o sistema monetário e financeiro global está sendo presentemente rebobinado a uma escala e passo nunca visto antes. Os bancos centrais estão lutando para manterem seus monopólios de impressão da moeda. E os bancos comerciais têm tido seu relacionamento com o consumidor rotineiramente apropriado pela big tech. Em paralelo, organizações autônomas compostas de códigos e algoritmos, sem humanos, estão lidando com cada vez mais complexas (e arriscadas) transações financeiras.

Tempo e, novamente, avanços tecnológicos, estão jogando a favor das big techs. Primeiro, o triunfo dos smartphones as tornou em gatekeepers, colocando-as numa posição única no coração da moeda: ou seja, no campo dos pagamentos. Depois as APIs – Application Programming Interfaces (*) dispararam uma corrida por serviços financeiros. APIs são como “colas” que permitem que dois programas de computador falem um com o outro. Para as empresas tech as APIs significaram que elas poderiam construir aplicações bancárias e conectá-las às máquinas backend dos bancos licenciados. Mas a ambição das big techs é maior do que controlar o frontend: capturar tudo da licença dos bancos!

O livro aqui resenhado conta a história de como um punhado de maveriks (inovadores ousados e rebeldes) inventou as cryptocurrencies (cripto moedas) para eliminarem instituições centralizadas, mas ao fazerem isso passaram para as big techs uma ferramenta para a maior draga de poder na história das finanças: blockchain.

Uma questão pivotal do livro é a de se a entrada das big techs no setor financeiro é uma benção ou uma maldição! A resposta só poderá ser obtida com o passar dos anos. De qualquer forma, este livro (que a Creativante recomenda fortemente) é um primeiro passo na direção de um maior conhecimento da inserção das big tech companies no mundo financeiro.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre as big techs in finance, não hesite em nos contatar!

(*) Para um pouco informação sobre a Economia das APIs, ver: https://www.tecsi.org/contecsi/index.php/contecsi/15CONTECSI/paper/download/5967/3384, bem como: https://creativante.com.br/newsletter/2016/a-economia-das-apis-confianca-e-a-teoria-dos-contratos

Figura 1 – Os três principais ecossistemas financeiros que dão origem às Finanças Digitais

Diagrama exibindo a ELG Readiness Matrix (Matriz de Prontidão para ELG)

Fonte: Grupo de Finanças Digitais da UFPE (2023)