O processo de mineração de bitcoin (primeira moeda criptografada do mundo) é um de validar a informação (sobre uma transação) em um bloco (software) de uma cadeia de blocos (blockchain) ao gerar uma solução criptográfica que obedece a critérios específicos. Quando uma solução correta é alcançada, um prêmio, na forma de bitcoin, e de taxas pelo trabalho realizado, são dados aos mineradores que atingiram a solução em primeiro lugar. Por sua vez, os mineradores incorrem em custos para desenvolverem esse processo, e um dos principais é o do consumo de energia.
Com a crescente discussão global sobre transição energética (das fontes de energia baseadas em recursos fósseis para as fontes de recursos renováveis), vários países estão ofertando incentivos de suporte à geração de energia renovável. Apesar dos governos persistentemente trabalharem para estimular o estabelecimento de infraestruturas de energia renovável, significativos desafios operacionais e obstáculos de risco de investimento, ambos pré e pós operações comerciais, estão impedindo a rápida adoção de energia renovável.
Os recentes desenvolvimentos na indústria de blockchain, especialmente as criptomoedas grid-powered (energizadas nas redes tradicionais de energia elétrica) como bitcoin, têm exacerbado a situação. Numerosos estudos têm criticado o imenso uso de energia na mineração de bitcoin, e sua consequente pegada de carbono (*).
A demanda de eletricidade associada com operações de mineração de criptomoedas nos EUA tem crescido muito rapidamente nos últimos anos. Estimativas preliminares da EIA – U.S. Energy Information Administration sugerem que o uso anual de eletricidade na mineração de criptomoedas provavelmente representa algo como 0,6% a 2,3% do consumo de eletricidade dos EUA (**).
O uso adicional de eletricidade tem trazido a atenção dos policy makers e dos planejadores de redes elétricas preocupados com seus efeitos em custo, confiabilidade e emissões. Neste sentido, o governo estadunidense, através da EIA, está conduzindo uma pesquisa focada em avaliar sistematicamente o consumo de eletricidade associado com a atividade de mineração, de forma a produzir melhores decisões de planejamento e educação para o público (**).
Recente pesquisa de The New York Times identificou 34 operações de larga escala (bitcoin mines – “minas” de bitcoin) nos EUA, todas colocando imensa pressão nas redes de energia, e a maioria encontrando novos modos de lucrar por fazer tal negócio. Isso tem levado a um aumento nos preços. No Texas, onde 10 das 34 minas são conectadas à rede do estado, o aumento da demanda levou a um incremento nas tarifas de eletricidade aos consumidores em cerca de 5%, ou seja, US$ 1,8 bilhão por ano (***).
Segundo a pesquisa de The New York Times muitas das operações de bitcoin se promovem como ambientalmente amigáveis, e se estabelecem em áreas ricas em energia renovável, mas suas necessidades de energia são muito grandes para serem satisfeitas apenas por aquelas fontes. Como resultado, elas se tornaram um grande apelo para a indústria de combustíveis fósseis.
Seu consumo massivo de energia combinado com sua habilidade de parar suas atividades quase que instantaneamente, permite a algumas empresas pouparem dinheiro, e fazerem dinheiro ao habilmente puxarem os alavancadores dos mercados de energia dos EUA. Eles podem evitar impostos cobrados em horários de pico da demanda, podem revender sua eletricidade a um prêmio quando os preços disparam, e mesmo serem pagos por se desligarem. Outros grandes usuários, tais como fábricas e hospitais, não podem reduzir seu uso de energia rotineiramente ou dramaticamente sem severas consequências.
Em resumo, há uma enorme disputa global pelo uso de recursos energéticos (que são escassos), e as criptomoedas como bitcoin, estão no “olho do furacão” dessa disputa. Há muita controvérsia e informação técnica ainda muito esparsa. Vamos dar tempo ao tempo para ver como isso se desenvolve!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre mineração de criptomoedas e consumo de energia, não hesite em nos contatar!
(*) lal et al., 2024: https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2024.140799
(**) https://www.eia.gov/todayinenergy/detail.php?id=61364
(***) https://www.nytimes.com/2023/04/09/business/bitcoin-mining-electricity-pollution.html