Context Changes Everything, em português, O Contexto Muda Tudo, é a marca da empresa estadunidense Bloomberg (1) que enfatiza a importância da reportagem factual e da pesquisa guiada por dados para entender as questões globais modernas. A iniciativa objetiva prover uma perspectiva atualizada sobre novidades nos negócios, e demonstrar o poder transformador do contexto.
O conceito de contexto difere do conceito zeitgeist, termo alemão que significa espírito da época ou sinal dos tempos, ou espírito do tempo. Enquanto ambos os termos dizem respeito ao entendimento das tendências culturais e societais, zeitgeist é mais focado numa era histórica específica, ao passo que contexto é um termo mais geral que incorpora um leque mais amplo de fatores, e é aplicável a vários domínios e situações.
De um ponto de vista mais acadêmico, onde são usadas teorias mais que contextos, uma teoria (ou, uma teoria científica) é uma explicação de um aspecto do mundo natural e do universo que pode ser (ou a fortiori, que tenha sido) repetidamente testada e corroborada de acordo com o método científico, usando protocolos aceitáveis de observação, mensuração e avaliação dos resultados. Onde possível, teorias são testadas sob condições controláveis em um experimento. Em circunstâncias onde o teste experimental não é possível, teorias são avaliadas através de princípios de inferência lógica (2).
Neste domínio das teorias, e das teorias e modelos (representações da realidade) econômicos em particular, quando a incerteza está ao nosso redor, e os fatos não são claros, como podemos tomar boas decisões? Nós não sabemos o que o futuro irá trazer, particularmente no meio de uma crise, mas nós devemos tomar decisões de qualquer modo, ou em qualquer contexto. Nós, humanos, regularmente almejamos certezas as quais não podem existir, e inventamos conhecimento que nós não temos, esquecendo que humanos têm sucesso porque nós temos que nos adaptar a um ambiente que nós entendemos ainda que imperfeitamente (3).
Na newsletter Disruptive Uncertainty (Incerteza Disruptiva)(Parte I), publicada em 28/02/2021, nós iniciamos uma resenha (em três partes) do livro, intitulado “Radical Uncertainty: Decision-making for an unknowable future” (Incerteza Radical: Tomada de decisão para um futuro incognoscível)”, publicado em 2020 pelos economistas John Kay, Professor Visitante da London School of Economics e Fellow do St. Johns College, da Oxford University, e Mervin King, membro honorário dos King´s e St. John´s Colleges da Cambridge University, e foi Governador do Banco da Inglaterra.
Depois de apresentarmos o conceito de incerteza radical dos autores em (3) e (4), e de nos posicionarmos em outra direção, nós avançamos nosso conceito de incerteza disruptiva (5). A incerteza disruptiva é aquela que permite que os futuros desejados e antecipados sejam mais facilmente determinados; ou seja, é a incerteza que viabiliza a identificação antecipada de condições para que diferentes contextos possam surgir, transformando os contextos do presente. Como os humanos têm diferentes habilidades e competências para tais antecipações, somente aqueles mais aptos em antecipar tais futuros (e construí-los) é que obterão vantagens competitivas diferenciadoras. A incerteza não-disruptiva, em contraste, é aquela que não permite que futuros desejados e antecipados sejam determinados. A explicação para isso pode estar associada ao “conhecimento imperfeito” apontado na incerteza radical defendida pelos autores do livro acima comentado.
E por que estamos tratando sobre esses conceitos de contexto, zeigeist, teorias, modelos, fatos, incerteza, incerteza radical, e incerteza disruptiva? O argumento que queremos defender é composto por duas dimensões. Em primeiro lugar, estamos ficando saturados de teorias, e teorias e modelos econômicos em particular, que já não estão ajudando muito na compreensão dos contextos que estamos vivenciando neste século XXI. E, em segundo lugar, ao que tudo indica tais teorias e modelos, como artefatos mentais, parecem estar perdendo poder explicativo em função do não acompanhamento da dinâmica (velocidade, extensão, profundidade e consequentes impactos) das transformações nos contextos das realidades socioeconômicas de um mundo cada vez mais complexo, globalizado e integrado por redes, e agora mediado por relações tanto humanas quanto não-humanas (i.e., por algoritmos, assistentes e agentes inteligentes, processos automatizados, robôs etc.).
E para avançarmos na defesa deste argumento, vamos nos valer de uma discussão (ou de um palco de discussões como objeto de análise), de natureza mais acadêmica do que prática, de duas visões de mundo que têm percorrido a interpretação dos fatos econômicos no Brasil em sua história recente. Estamos tratando de duas vertentes do pensamento econômico que têm dominado, e, por sua vez, interditado, o debate sobre os problemas brasileiros e suas possíveis soluções. Ou seja, estamos focando no debate entre aqueles que se identificam com o liberalismo neoclássico econômico (que sucedeu o liberalismo clássico) e aqueles que se autointitulam como pertencentes ao campo do desenvolvimentismo econômico (6).
Sem que seja necessário fazer aqui um relato da gênese e da evolução desse debate, vamos apenas colocar um exemplo recente dos termos de tal debate. Em artigo de 15/10/2024, no jornal Folha de São Paulo, intitulado “Carta aberta ao Conselho Monetário Nacional”, seus autores defenderam que “Meta de inflação excessivamente baixa coloca pressão adicional sobre setores cujos preços não apresentam essa rigidez; propomos mudar de 3% para 4%”. Em 26/10/2024, no jornal Estado de São Paulo, foi publicado o seguinte artigo: “Galípolo subscreve a proposta de seu mentor de elevar meta de inflação ou fingirá que não é com ele?”, onde foi defendido que “Periodicamente a proposta reaparece e, a cada reaparição, continua errada; elevação da meta é um tiro no pé, especialidade dos nossos economistas heterodoxos”. Adicionalmente, no dia 28/10/2024 foi publicado o artigo “As escolhas de Galípolo no Banco Central”, onde se defendeu que a “Meta de inflação de 3% e reduzido intervalo de tolerância são incompatíveis com a estrutura da economia brasileira”.
Neste sentido, nas próximas newsletters vamos apresentar, de forma sucinta, quais são os principais pilares do pensamento econômico relacionado com o “mainstream” econômico (aqui reconhecido como escola que associa o “liberalismo neoclássico econômico”), e aqueles relacionados com o que aqui no Brasil se denomina por “desenvolvimentismo econômico”. Em seguida vamos apontar para suas principais virtudes e limitações, e vamos avançar aquilo que aqui denominaremos como “uma visão informacionista do avanço (ou progresso) socioeconômico” (7).
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre uma visão informacionista do avanço (ou progresso) socioeconômico, não hesite em nos contatar!
- Bloomberg L.P. é uma empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro e agência de notícias operacional em todo o mundo.
- https://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_theory
- https://creativante.com.br/newsletter/2021/disruptive-uncertainty-incerteza-disruptiva-parte-i
- https://creativante.com.br/newsletter/2021/disruptive-uncertainty-incerteza-disruptiva-parte-ii
- https://creativante.com.br/newsletter/2021/disruptive-uncertainty-incerteza-disruptiva-parte-final
- Outra roupagem desta discussão é muitas vezes demarcada como sendo uma disputa entre os campos da “ortodoxia econômica” (o que fora do país é conhecido como “mainstream economics”, a principal corrente do pensamento econômico) e a “heterodoxia econômica” (que critica o “mainstream”).
- O termo “informacionista” é uma conjunção abrasileirada dos termos information + -ist. Os conceitos informationista e informationismo foram primeiramente conhecidos como tendo emergido nos trabalhos de um grupo de poetas escoceses em um livro de 1994, intitulado “Contraflow on the SuperHighway”. Ver: https://en.wiktionary.org/wiki/informationist#cite_note-1 e
https://web.archive.org/web/20080509141306/http://www.worksys.com/infoist.htm