No início do mês de setembro do corrente ano o Ex-Primeiro-Ministro da Itália e Ex-Presidente do Banco Central Europeu, Mario Dragui, publicou o seu tão aguardado report sobre a competitividade da União Europeia. O documento, intitulado “The future of European competitiveness” (O futuro da competitividade Europeia), está dividido em duas partes: a Parte A: “A competitiveness strategy for Europe” (Uma estratégia de competitividade para a Europa) (69 páginas) e a Parte B: “In-depth analysis and recommendations” (Análise aprofundada e recomendações) (328 páginas).

O documento foi comentado pela Bloomberg e pelo comentarista-chefe de Economia do Financial Times, Martin Wolf, e este foi traduzido no Brasil pelos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. O comentário do Wolf é interessante desde o seu título: “Draghi está tentando salvar a Europa de si mesma”.

Wolf reproduz as palavras do relatório: "Se a Europa não se tornar mais produtiva, seremos forçados a escolher. Não seremos capazes de nos tornar, ao mesmo tempo, um líder em novas tecnologias, um farol de responsabilidade climática e um jogador independente no cenário mundial. Não seremos capazes de financiar nosso modelo social. Teremos que reduzir algumas, se não todas, as nossas ambições." Em suma, a UE (União Europeia) corre o risco de fracassar.

E Wolf continua: “O mundo de hoje, observa o relatório, é particularmente inadequado para a UE. A era do comércio dinâmico e do multilateralismo está morrendo. O bloco perdeu seu fornecedor mais importante de energia barata, a Rússia. Acima de tudo, está entrando em uma era de conflito geopolítico em que as dependências econômicas podem representar vulnerabilidade”.

Pior, avança Wolf, “a UE está entrando nesse novo mundo com muitas fragilidades. De acordo com o relatório, "a renda real disponível [per capita] cresceu quase duas vezes mais nos Estados Unidos do que na UE desde 2000". Uma grande parte da razão é que a UE ficou muito atrás dos EUA (e até da China) na revolução digital. Apenas quatro das 50 maiores empresas de tecnologia do mundo são europeias”.

E para fazer uma síntese de sua resenha, Wolf arremata: “Os preços da energia na UE são relativamente altos, especialmente em comparação com os dos EUA. A demografia da UE também é terrível. Assim, "[se] a UE mantivesse sua taxa média de crescimento da produtividade desde 2015, isso seria suficiente apenas para manter o PIB constante até 2050". Não menos importante, os europeus são incapazes de se proteger, como a guerra na Ucrânia mostrou”.

Desta forma, conclui Wolf: “A UE não pode mudar o mundo. Mas pode —e deve— mudar a si mesma, para lidar com ele. O que mais claramente emerge deste relatório são os fios comuns que conectam essas várias doenças. Os mais importantes são fragmentação, regulamentação excessiva, regulamentação inadequada, gastos insuficientes e conservadorismo indevido. Destes, a fragmentação é o mais prejudicial”.

Ficamos por aqui, nesta reprodução da leitura do Martin Wolf sobre o Relatório Dragui, fazendo a seguinte reflexão: se a União Europeia, formada por países mais avançados do que o Brasil, faz esta avaliação de si própria (ou pelo menos, sua elite mais esclarecida faz esta análise), que diagnóstico (e recomendações para o futuro) podemos fazer do nosso país?

Esta reflexão emerge diante de dois fatos relacionados, mas que ainda não foram articulados de uma maneira prospectiva. O primeiro fato, tratado na newsletter da semana passada (em relação à extensão aos incentivos à indústria de TICs no país), e o segundo diz respeito ao lançamento do Plano Brasil Digital 2030+, uma iniciativa do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS com apoio da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) e da empresa Oliver Wyman.

De acordo com o documento publicado pelo CDESS, o Plano Brasil Digital 2030+ propõe “que o Brasil tenha uma estratégia a longo prazo para o desenvolvimento e uso das tecnologias digitais, suportando as grandes ambições de desenvolvimento econômico e social do país”. Mas a pergunta que não quer calar, e que se relaciona com o primeiro fato acima aludido, é: os incentivos para o desenvolvimento desta estratégia proposta estão corretamente direcionados?

E vamos ainda mais longe, será que esta “estratégia” está aderente a uma visão do país sobre si mesmo, tal como a Comunidade Europeia está fazendo através do Relatório Dragui, diagnosticando seu papel neste novo e complexo mundo que estamos vivenciando, e vamos vivenciar nos próximos anos? Em resumo, qual é a visão do Brasil sobre qual deve ser seu lugar no mundo, e quais incentivos estamos criando para induzir nossa indústria de TICs para atingir tal visão?

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais o Relatório Dragui e sua relação com as TICs no país, não hesite em nos contatar!