Atualmente a noção de Segurança tem adquirido uma dimensão jamais imaginada na História. Segurança advém da condição humana e da permanente busca de estabilidade e desenvolvimento num ambiente de riscos. Damo-nos conta disto quando percebemos, com mais intensidade recentemente, o aumento da insegurança climática, a insegurança pública, a insegurança jurídica, e a insegurança econômico-financeira, dentre outras.

Em se tratando desta última, assistimos a paulatina corrosão do poder de compra das moedas nacionais, as intensas transformações nos tradicionais mecanismos e instituições financeiros, levando-nos a uma concomitante busca de formas alternativas de proteção dos ativos pessoais, familiares e comerciais. É neste contexto que nos apercebemos da necessidade e da importância de ativos/bens seguros (safe assets).

Mas o que são ativos seguros hoje em dia? Um profissional que vem pesquisando sobre este tema já há bastante tempo é o Professor de Economia da Universidade de Princeton, nos EUA, Markus Brunnermeier. Autor de consagrados livros, tais como “A Crash Course on Crises”, “The Resilient Society” (resenhado na newsletter Macrofinanças e Resiliência em 05/02/2024), e “The Euro and the Battle of Ideas”, o Prof. Brunnermeier tem desenvolvido uma teoria de ativos seguros que se baseia em sua “I Theory of Money”, ou seja, uma teoria da moeda que dá um lugar de destaque aos intermediários financeiros.

Segundo o Prof. Brunnermeier, instituições financeiras são aptas a criarem moeda – quando elas fazem empréstimos aos negócios e aos compradores de imóveis, elas creditam os tomadores com depósitos, e desta forma criam inside money (moeda interna ao sistema bancário). Criação de moeda por intermediários financeiros depende crucialmente da saúde do sistema bancário e da presença de oportunidades lucrativas de investimento.

O enfoque do Professor difere em formas importantes daquele do proeminente enfoque Novo Keynesiano e do enfoque Monetarista. O enfoque Novo Keynesiano enfatiza o canal da taxa de juros. Ele estressa o papel da moeda como uma unidade de conta e considera rigidezes em preços e salários como as fricções chave. Rigidez de preço implica que uma diminuição da taxa nominal de juros também reduz a taxa real de juros. As famílias consomem e projetos de investimento se tornam mais lucrativos.

Em contraste, a I Theory estressa o papel da moeda como uma reserva de valor e o canal distributivo da política monetária. As fricções chave são financeiras. Preços são completamente flexíveis. A transmissão da política monetária opera primariamente através de ganhos de capital, tal como no canal da precificação de ativos. Como os ativos são mantidos assimetricamente no contexto da teoria, a política monetária redistribui riqueza e, portanto, mitiga problemas de dívida pendente. Em outras palavras, ao invés de enfatizar o efeito substituição de mudanças nas taxas de juros, a I Theory estressa efeitos de riqueza/renda de mudanças da taxa de juros.

No contexto da teoria todos os agentes têm a mesma propensão a consumir e a política monetária redistribui riqueza em direção ao balanço patrimonial de setores prejudicados, e afeta risco endógeno e o prêmio de risco. Tal como no Monetarismo, uma redução endógena do multiplicador de moeda (dada uma base monetária fixa) leva à desinflação no contexto da I Theory. Enquanto inside and outside money (i.e., moeda criada pelo sistema bancário e moeda emitida pelo Banco Central, respectivamente) têm perfis idênticos de risco-retorno, e desta forma são substitutos perfeitos para investidores individuais, elas não são o mesmo para a economia como um todo. Inside money cumpre uma função especial. Ao criarem inside money, os intermediários diversificam riscos e fomentam crescimento econômico. Então, na I Theory uma intervenção monetária deve ter como alvo recapitalizar tomadores subcapitalizados, mais do que simplesmente aumentar a oferta de moeda de maneira geral.

Uma característica chave da I Theory é que há um foco mais no papel da moeda como uma reserva de valor, ao invés do papel transacional da moeda (este último enfatizado pela Nova Economia Monetarista). Em outras palavras, ao invés da “visão da moeda”, o enfoque privilegiado na I Theory é mais próximo da “visão do crédito” na economia.

Há mais aspectos diferenciadores do enfoque da I Theory para aqueles tradicionais da Macroeconomia tradicional. O que nos cabe aqui apontar, mesmo que resumidamente, é que uma “teoria de ativos seguros” deve estar ancorada em uma teoria de moeda. Neste sentido, é importante destacar que, a partir da I Theory, o preço de um ativo seguro reflete não somente esperados fluxos de caixa futuros descontados, mas também fluxos de futuros serviços.

As questões centrais a serem entendidas são: a) num contexto em que os sistemas monetário e financeiro internacionais se tornaram inextricavelmente entrelaçados ao longo das últimas décadas, levando a fortes e voláteis fluxos de capital transfronteiras, bem como a poderosos transbordamentos de política monetária, como os ativos seguros são identificados? b) quais são as políticas monetárias, macroprudenciais, de intervenções no câmbio, e de controle de capitais em um sistema financeiro global interconectado que afetam a estrutura e a dinâmica dos ativos seguros? c) qual o papel dos governos na questão dos ativos seguros?

Eis aí um conjunto de questões a serem tocadas na próxima newsletter!

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