Nas duas newsletters anteriores desta série (Parte 1 e Parte 2) iniciamos uma discussão sobre uma “Teoria de Ativos Seguros”, argumentando que tal teoria deve estar ancorada em uma “Teoria de Moeda”. Neste sentido, buscamos a contribuição do Prof. Markus Brunnermeir, da Universidade Princeton nos EUA, com sua “I Theory of Money”, e apontamos para o caso prático de mudanças de ânimo do mercado que levam a fluxos de capital de países emergentes para economias avançadas, as quais ofertam ativos seguros.
Segundo o Prof. Brunnermeier o foco do sistema monetário internacional tem se inclinado contra este “flight-to-safety” (voo para segurança) de fluxos de capital. O Fundo Monetário Internacional oferece várias facilidades de empréstimos que permitem governos tomarem emprestado de forma a contrabalançar esses outfluxos de capital. Similarmente, arranjos de linhas de swap internacional entre vários bancos centrais permitem que bancos centrais compensem outfluxos de capital repentinos. Na ausência destas facilidades, a estratégia primária de precaução dos países é adquirir grandes participações de reservas em tempos bons para que elas sejam empregadas em tempos de crises, para prevenir outflows repentinos.
Isto tem resultado em desbalanços globais os quais possivelmente distorcem taxas de juros e taxas de câmbio. Sustentar reservas também incorre em custos de carregamento para a economia emergente, à medida que os juros de ativos de reserva estrangeira é tipicamente e significativamente mais baixo que os ativos domésticos. Isto drena recursos, baixa o espaço fiscal de um país, e, daí, paradoxalmente pode tornar uma crise mais provável. No entanto, quando uma crise ocorre, sustentar reservas suaviza a severidade de uma crise à medida que elas podem ser usadas contra os repentinos outfluxos de capital.
Um alternativo, e mais direto enfoque, é endereçar a raiz do problema, nominalmente, que os ativos seguros são assimetricamente ofertados, uma vez que somente algumas poucas economias avançadas os oferecem. O Prof. Brunnermeier analisou este arranjo alternativo institucional, o qual envolve, segundo ele, a introdução de “sovereign bond-backed securities” – SBBS (instrumentos de dívida soberanos baseados em títulos) de forma a recanalizar os fluxos “flight-to-safety” desestabilizadores. Ao invés de enfrentar fluxos transfronteiras de economias emergentes para algumas economias avançadas, poder-se-ia redirecionar estes fluxos de capital para moverem-se ao longo de diferentes classes de ativos.
Sem que seja necessário avançarmos na efetividade de tal proposta, o que importa para os fins desta newsletter é que é fundamental entender como a dinâmica global dos ativos seguros se manifesta na prática. E aqui podemos registrar recente trabalho da economista Tsvetelina Nenova, intitulado “Global or Regional Safe Assets: Evidence from Substitution Patterns” (Ativos Seguros Globais ou Regionais: Evidência de Padrões de Substituição).
Em seu trabalho a economista oferece nova evidência empírica sobre rebalanceamento de portfólio em mercado de títulos através do prisma da demanda de investidores por títulos. Usando um conjunto de dados de participações de títulos de governo e de corporações globais por fundos mútuos domiciliados nas duas maiores áreas de moedas do mundo, ela estimou variações em heterogeneidade e tempo na elasticidade da demanda por títulos.
De acordo com a economista, ativos seguros como Títulos do Tesouro Estadunidense (US Treasuries) e Títulos Alemães (German Bunds) enfrentam, especialmente, demandas inelásticas de fundos de investimento quando comparados com títulos mais arriscados. Mas transbordamentos a partir desses ativos seguros para mercados de títulos globais são surpreendentemente diferentes. Fundos substituem US Treasuries com títulos globais, incluindo títulos corporativos arriscados e de economias emergentes, enquanto German Bunds são primariamente substituíveis no interior de um conjunto estreito de títulos governamentais seguros da área do euro. Finalmente, ela conclui que a substitutibilidade deteriora em tempos de stress, prejudicando a transmissão da política monetária.
Em resumo, no que diz respeito aos denominados “safe assets” (ativos seguros) há um enorme universo de aspectos a serem entendidos em termos de sua oferta e sua demanda. Como visto nesta série, inicialmente faz necessário partir de uma Teoria de Moeda (tal como a I Theory of Money sugerida pelo Prof. Brunnermeier), assumindo tais ativos mais como uma reserva de valor, e entendendo como se manifestam os fluxos de capital entre os países. Saliente-se, por final, que o papel dos intermediários na arquitetura do sistema monetário internacional é de vital importância, tal como apontando no caso, visto acima, dos ativos seguros das maiores áreas de moedas do mundo.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre ativos seguros, não hesite em nos contatar!