Antes de tudo, alguns conceitos. De forma simplificada, um modelo de negócio é definido como sendo a descrição de como sua organização gera valor, entrega valor e captura valor.  Em termos do ciclo de vida da organização, ela pode ser uma empresa emergente (startup), ou seja, uma organização que está à procura de um modelo de negócio repetível e escalável, pode ser uma que está executando um modelo de negócio (empresa incumbente/estabelecida), ou pode ser uma que está inovando seu modelo de negócio.

Um modelo de negócio não é uma estratégia de negócio. O modelo é uma descrição de como seu negócio opera; no entanto, a estratégia explica como você irá fazer melhor do que seus rivais. E isso pode ser feito ao oferecer um modelo de negócio melhor, mas também pode ser ao oferecer o mesmo modelo de negócio para um mercado diferente.

Uma definição que é também muito útil na compreensão destes conceitos é aquela que distingue o modelo de negócio (nas dimensões de geração e captura de valor) do modelo operacional, como sendo o modo como a empresa entrega o valor para os seus consumidores e acionistas. E por que esta definição é útil? Porque ela permite visualizar que cada vez mais o modelo operacional está deixando de ser “baseado em humanos” e está cada vez mais sendo “baseado em não-humanos (robôs/agentes/tecnologia)”.

Um dos exemplos mais marcantes desta transformação recente (de humanos para não-humanos) na natureza dos modelos de negócios, é aquele que vem ocorrendo por conta dos avanços em Inteligência Artificial - IA. Apesar de existir há algum tempo, somente mais recentemente é que a IA tem atravessado, de forma impactante, nosso cotidiano. Mais especificamente, desde o ano de 2023 com o advento de ferramentas chamadas Large Language Models (LLMs), como o ChatGPT da OpenAI (ver newsletter A Economia do ChatGPT), que revelou ao mundo a emergência de um vasto e complexo ecossistema de IA (ver newsletter The AI-Artificial Intelligence Ecosystem (O Ecossistema de IA-Inteligência Artificial)).

Este advento tem deflagrado uma verdadeira corrida pela hegemonia tecnológica entre os tradicionais incumbentes (big players) da indústria das tecnologias de informação. Mas um aspecto menos revelado, ou menos perceptível ao senso comum, é aquele do impacto deste advento nas transformações dos modelos de negócios até então desenvolvidos.

Um destes big players, a Salesforce, tem dado uma enorme contribuição para um melhor entendimento do efetivo impacto do advento desses avanços em IA nos modelos de negócios incumbentes.  A empresa foi pioneira na introdução do modelo SaaS – Software as a Service no início do século 21, inaugurando a era da “cloud-based CRM solution” (solução de customer relationship management – gestão de relacionamento do cliente – baseada na nuvem).  Ao contrário do software tradicional, que requeria instalações físicas e inicializações complexas, as aplicações baseadas no browser da Salesforce eram acessíveis de qualquer lugar com qualquer conexão internet.

Esta inovação abriu acesso a poderosas ferramentas, permitindo negócios de todos os tamanhos abraçarem software sofisticados. Não havia mais necessidade para robustos investimentos em infraestrutura.  O sucesso da Salesforce pavimentou o caminho para a revolução do SaaS, sinalizando uma mudança em direção a soluções digitais mais dinâmicas e acessíveis (Imran, 2024).

Pois bem; esta mesma Salesforce vem agora e anuncia que “a era do SaaS está próxima do seu fim”! Em sua mais recente iniciativa, hashtag#Agentforce, a empresa anuncia que ela está se movendo do tradicional per-seat SaaS model (modelo SaaS por assento) para um modelo consumption-based pricing for their AI agents (de precificação baseado em consumo dos seus agentes de IA).

Esta é uma grande mudança em termos de modelo de negócio porque sinaliza o fim do pagamento somente para se ter acesso à tecnologia. Ao invés, move-se em direção ao pagamento por resultados – o verdadeiro valor entregue. Ou seja, parte-se do acesso aos resultados.  Empresas irão pagar pelo que a IA cumpre na realidade. Migra-se, então, das subscrições para o valor: a precificação se ajusta baseada em uso e resultados.

Todavia, esta não é a única mudança que o advento da IA vem promovendo nos modelos de negócios.  Está havendo uma mudança na filosofia do tratamento com o software: “Programming is becoming Prompting” (Programação está se tornando Solicitação). Logo, programar é uma condição necessária mas não suficiente para lidar com as novas ferramentas de IA.

Precisamos também definir que padrão de arquitetura de sistemas desejamos operar: se num Open Source AI ou num Closed Source AI (sistema aberto ou fechado).  Igualmente, precisamos definir se vamos trabalhar com Large Language Models – LLMs ou com Small Language Models – SLMs, sendo estes últimos customizados para domínios específicos de negócios cobrindo da TI ao Customer Support. Adicionalmente, precisamos definir que tipo de IA devemos usar: se uma Predictive AI (IA Preditiva) ou uma Generative AI (IA Generativa).

Em resumo, a IA está proporcionando uma enorme revolução nos modelos de negócios, demandando habilidades e competências não somente tecnológicas, mas também de uma compreensão de como se organiza o novo ecossistema de IA, suas novas plataformas e suas novas arquiteturas.  Mas o mais preocupante é o novo hiato que está surgindo entre os ofertantes de ferramentas de IA e aquelas empresas que ainda não definiram seus modelos de negócios utilizando as ferramentas de IA!

E você: já definiu seu modelo de negócio usando IA? Nós estamos com uma iniciativa que visa preencher este hiato, particularmente para uma cauda longa de pequenas e médias empresas que estão ansiosas para avançarem neste domínio, mas ainda não encontraram meios de como obter vantagens competitivas com a IA! Portanto, não hesite em nos contatar!

(Imran, 2024). A evolução e as tendências futuras do SaaS: uma visão geral abrangente (https://onestream.live/blog/saas-trends-and-evolution/)