Na semana que passou iniciamos um tratamento sobre a questão da criação de dinheiro (moeda) na economia moderna. Depois de apontarmos para o papel dos bancos comerciais nesta atividade, mostramos como a política monetária age como último limite na criação de moeda. Depois de indicarmos que em tempos normais os bancos centrais implementam políticas monetárias ao fixarem a taxa de juros sobre as suas reservas, deixamos para esta oportunidade o tratamento em tempos excepcionais.

Pois bem, em tempos excepcionais, quando as taxas de juros estão em seus limites inferiores, a criação de moeda e o gasto na economia podem estar muito baixos para serem consistentes com os objetivos da política monetária dos bancos centrais. Uma possível resposta é empreender uma série de compras de ativos, o chamado “quantitative easing (QE)” (afrouxamento quantitativo). O QE intenciona reforçar a quantidade de moeda na economia diretamente pela compra de ativos, principalmente de companhias financeiras não bancárias (1).

O QE inicialmente aumenta a quantidade de depósitos bancários que aquelas companhias detêm (no lugar dos ativos que eles vendem). Aquelas companhias irão, portanto, desejar balancear seus portfólios de ativos ao comprarem higher-yielding assets (ativos de maiores rendimentos), elevando o preço daqueles ativos e estimulando gastos na economia (1).

Como um subproduto do QE, novas reservas do banco central são criadas. Mas estas não são uma parte importante do mecanismo de transmissão (2). O trabalho do Banco da Inglaterra (1) explica como, tal como em tempos normais, estas reservas não podem ser multiplicadas em mais empréstimos e depósitos, e como estas reservas não representam “dinheiro livre” para os bancos.

Há bem mais aspectos a serem considerados tanto na criação como na circulação de moeda nas modernas economias, particularmente com a entrada de novos players/ativos no sistema financeiro internacional, como são as moedas criptografadas tais como o Bitcoin, e stablecoins, os quais competindo com os bancos comerciais.

Por ora, o que intencionamos registrar é que o dinheiro (moeda) em circulação é criado não pelas impressoras dos bancos centrais, mas sim pelos próprios bancos comerciais: ou seja, bancos criam moeda a qualquer momento em que eles emprestam a alguém na economia, ou compram um ativo de consumidores.

E, ao contrário das descrições encontradas em alguns livros-texto, os bancos centrais não controlam diretamente a quantidade tanto da base monetária quanto da moeda ampliada (3). Os bancos centrais, de toda forma, ainda são capazes de influenciar a quantidade de moeda na economia, em tempos normais ou em circunstâncias excepcionais.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre como o dinheiro (moeda) é criado nas modernas economias, não hesite em nos contatar!

  1. https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/quarterly-bulletin/2014/money-creation-in-the-modern-economy
  2. O mecanismo de transmissão monetária é o processo pelo qual preços de ativos e condições econômicas gerais são afetados como um resultado de decisões de política monetária.
  3. A base monetária, ou moeda total, é a medida mais líquida da oferta de moeda e inclui a moeda em circulação e reservas bancárias nos bancos centrais. A moeda ampla, por outro lado, compreende a base monetária junto com outros ativos menos líquidos que podem ser facilmente convertidos em cash (dinheiro) para a compra de bens e serviços, tais como depósitos de poupança, contas de mercado de moedas, e certificados de depósitos.