O conceito de escassez é central na Ciência Econômica. Muitos afirmam até que a Economia é a “Ciência da Escassez”. O economista Lionel Robbins forneceu uma das principais (e mais reproduzidas) definições de Economia e toda uma teoria acerca do conceito de escassez no seu livro “a href="https://www.amazon.com/-/pt/dp/1610160398/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&keywords=An+Essay+on+the+Nature+and+Significance+of+Economic+Science&qid=1670069616&sr=8-1" tar" rel">An "ssay on the Nature and Significance of Economics” (Um Ensaio sobre a Natureza e Significado da Economia), de 1932: “A Economia é a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre determinados fins e meios escassos os quais têm usos alternativos”.
A compreensão mais popular é a de que a Economia é o campo do conhecimento que estuda como nós usamos nossos meios limitados para atingir nossos ilimitados desejos; ou seja, como as pessoas e sociedades gerenciam a escassez física. Se você gasta seu dinheiro em um novo dispositivo, você terá menos dinheiro para jantar fora. Se o governo gasta dinheiro em um procedimento experimental para uma determinada doença, haverá menos dinheiro para segurança nas estradas. No limite, ao fazermos determinada escolha estamos necessariamente sendo impelidos a abdicar de fazer outra (o que os economistas chamam de “trade-off”).
Mas o que gostaríamos de apontar nesta newsletter é um olhar diferenciado sobre a escassez. Em Economia, a escassez é ubíqua (onipresente). Todos nós temos uma limitada quantidade de dinheiro; mesmo as pessoas mais ricas não podem comprar tudo. No entanto, dois autores sugerem que enquanto a escassez física é ubíqua, o sentimento de escassez não é.
Imaginem um dia de trabalho onde sua agenda contém algumas reuniões e sua lista do que fazer é gerenciável. Você gasta seu tempo “não marcado” estendendo seu almoço, um encontro, ou ligando para um colega. Agora, imagine um outro dia de trabalho onde sua agenda está repleta de reuniões. Logo, sobra pouco tempo para terminar um projeto que já está fora de prazo. Em ambos os casos o tempo foi fisicamente escasso. Você teve o mesmo número de horas para trabalhar, e você teve mais atividades a fazer do que tempo para cumprir. No entanto, em um caso você estava completamente consciente da escassez, da finitude do tempo; no outro ele era uma realidade distante, se você o sentiu de alguma forma. O sentimento da escassez é distinto de sua realidade física.
De acordo com Sendhil Mullainathan e Eldar Shafir, autores do livro “Scarcity: Why having too little means so much” (Escassez: Porque ter tão pouco significa muito) a escassez não é somente um limite físico. Ela é também um mindset (estado mental). Quando a escassez captura nossa atenção, ela muda a forma como nós pensamos – seja ela ao nível de milissegundos, horas, ou dias ou semanas. Ao permanecer no topo da mente, ela afeta o que nós percebemos, como nós ponderamos nossas escolhas, como nós deliberamos, e, em última instância, o que nós decidimos e como nós nos comportamos.
Segundo os autores, quando nós operamos sob escassez, nós representamos, gerenciamos, e lidamos com problemas diferentemente. Alguns campos têm estudado mindsets criados por instâncias particulares de escassez: como dietas afetam o humor, ou como um contexto particular de cultura pode afetar as atitudes de localidades mais pobres. Todavia, os autores propõem algo muito mais universal: a escassez, em qualquer forma, cria um mindset similar. E este mindset pode ajudar a explicar muitos dos comportamentos e das consequências da escassez.
Quando a escassez captura a mente, nós nos tornamos mais atentos e eficientes. Há muitas situações em nossas vidas onde mantermos o foco pode ser bastante desafiador. Nós procrastinamos no trabalho porque nos mantemos distraídos. Nós compramos itens acima do preço porque nossas mentes estão em outros lugares. Um horário apertado ou uma carência de dinheiro nos foca em uma tarefa às mãos. Com nossas mentes rebitadas, nós estamos menos inclinados a erros descuidados. Isto faz senso: a escassez nos captura porque ela é importante, e vale nossa atenção.
Em resumo (mesmo correndo o risco de super simplificar um trabalho tão fascinante), o argumento do livro é bastante simples (como ressaltam os autores). A escassez captura nossa atenção, e isso oferece um benefício estreito: nós fazemos um trabalho melhor ao gerenciar necessidades prementes. Mas, mais amplamente, isso nos custa: nós negligenciamos outras preocupações, e nós nos tornamos menos efetivos no resto da vida. Este argumento não somente ajuda a explicar como a escassez conforma nosso comportamento; ela também produz alguns surpreendentes resultados, e trazem novas luzes sobre como nós podemos gerenciar nossa escassez.
Em última instância, este livro descreve uma “science in the making” (ciência em construção), uma tentativa de revelar os fundamentos psicológicos da escassez, e para usar aquele conhecimento para entender uma grande variedade dos fenômenos sociais e comportamentais.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre os fundamentos da escassez, não hesite em nos contatar!