Na newsletter da semana passada começamos a tratar do livro “Making Money Work: How Rewrite the Rules of Our Financial System” (Fazendo o Dinheiro Trabalhar: Como Reescrever as Regras do Nosso Sistema Financeiro), publicado pelos economistas Matt Sekerke e Steve H. Hanke (ambos da Johns Hopkins University, nos EUA) em abril do corrente ano.
Como citado naquela oportunidade, logo no primeiro capítulo (de um total de quatorze capítulos), intitulado “How Money Works: Institutions of the Monetary Economy” (Como o Dinheiro Trabalha: Instituições da Economia Monetária), os autores ousadamente argumentam que a moeda (dinheiro) desapareceu do pensamento econômico, absorvido em “Interest and Prices” (Juros e Preços). Ou seja, neste momento os autores estão fazendo uma crítica ao livro intitulado “Interest and Prices: Foundations of a Theory of Monetary Policy” (Juros e Preços: Alicerces de uma Teoria da Política Monetária) do Prof. Michael Woodford, publicado em 2003.
E para darmos ênfase à crítica de Sekerke e Hanke ao livro do Prof. Woodford, fizemos questão de explicitar que este livro se tornou uma referência central na literatura de política monetária nos anos que se seguiram à sua publicação. Segundo o Prof. Woodford, seu livro buscou oferecer alicerces para um enfoque de política monetária baseado em regras, cujos exemplos mais destacados são a famosa Taylor Rule (Regra de Taylor) (1) e a adoção do Inflation Targeting (Regime de Metas de Inflação) (2).
Mas antes de retomar às principais contribuições do livro de Sekerke e Hanke, consideramos oportuno dar um pouco mais de detalhes das inovações trazidas pelo livro do Prof. Woodford para reforçar ainda mais que conjunto de ideias e soluções os primeiros autores estão tentando avançar. Sendo assim, podemos afirmar que encontramos na literatura várias revisões do livro do Prof. Woodford apontando para suas inovações tanto teóricas quanto para a política monetária. Uma delas é aquela produzida pelos economistas Pierrrick Clerc e Mauro Boianovsky e publicada em 2023.
De acordo com estes autores, quando se pensa nas principais contribuições do livro Interest & Prices, três vêm logo à mente. A primeira é que o livro desempenhou um papel pivotal na transição de um arcabouço “neo-monetarista” (3) em direção a um arcabouço “neo-Wickselliano” (4) no paradigma Novo Keynesiano dos modelos DSGE (5). Até a transição para este século, modelos neste paradigma usualmente compreendiam uma bem definida demanda por moeda, e tomavam a oferta de moeda como o instrumento de política monetária.
Depois da publicação do livro do Prof. Woodford, a oferta de moeda e a demanda por moeda foram “removidos da análise”, e a taxa de juros nominal de curto-prazo substituiu a oferta de moeda como o instrumento de política. A segunda contribuição foi a de que o livro do Prof. Woodford impôs o conceito de uma “taxa natural de juros”, especialmente nos economistas trabalhando nos bancos centrais. Esta taxa é percebida como uma variável por trás da dinâmica da inflação, e muitas tentativas foram tomadas para mensurá-la.
A terceira contribuição é que o livro Interest & Prices ofertou um método geral para derivar um critério de bem-estar baseado em utilidade consistente com os modelos usados para determinar a política monetária ótima. O livro mostra que maximizando o bem-estar do agente representativo pode prover também um arcabouço para a avaliação e planejamento da política monetária. Este método, desenvolvido ao longo das linhas primeiramente depositadas na teoria das finanças públicas, tem sido amplamente adotada por pesquisadores.
Como nota final deste resumo das contribuições do livro do Prof. Woodford, cabe registrar a crítica dos economistas Clerc e Boianovsky de que o tópico da estabilidade financeira é completamente ausente do livro Interest & Prices. A ausência de bancos comerciais e intermediários financeiros em geral no livro foi, depois da Grande Crise Financeira – GCF de 2008, percebida como uma grande deficiência do livro.
E partir desta importante lacuna no livro do Prof. Woodford, é que vamos voltar (na próxima newsletter) às contribuições do livro de Sekerke e Hanke, que partem da crítica à “Macroeconomia sem Moeda” (vista brevemente nesta newletter) para uma de um amplo conceito de moeda, do papel do sistema bancário, dos intermediários financeiros, da criação de crédito, e do papel das criptomoedas na economia.
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