Uma matéria recente em The Wall Street Journal, com o título “Some Tech Firms Ask: Who Needs Managers?” (Algumas Empresas de Tecnologia se Perguntam: Quem Precisa de Administradores?) chamou a atenção desta newsletter. O argumento colocado na matéria é o seguinte.
A Administração tem sido tradicionalmente considerada como a melhor maneira do trabalhador dar “um passo à frente e aumentar seus proventos”. No entanto, nas startups, onde velocidade e autonomia são valorizados acima de qualquer outra coisa, os administradores são frequentemente dispensados como sendo “arcaicos”, ou pior, “peso morto”. Precisamos de “gente que faça o trabalho”, e não que “gerencie o trabalho”, é uma frase muito recorrente entre os fundadores de startups.
Esta é uma visão também compartilhada por muitas startups no Brasil, fundamentalmente nos anos recentes, onde houve um boom de surgimento de empresas de tecnologia. O que esta newsletter argumenta nesta edição é que por mais legítimo que seja este entendimento por parte dos fundadores das novas empresas de tecnologia (geralmente profissionais de tecnologia), esta é uma visão limitada tanto da estrutura quanto da dinâmica das empresas, e que pode limitar o potencial de crescimento daquelas startups.
Em um livro publicado em 1932 pela editora Macmillan, intitulado “The Modern Corporation & Private Property” (A Moderna Corporação & Propriedade Privada) Adolf Berle (especialista jurídico) e Gardiner Merle (economista) observaram que um elemento chave nas grandes corporações é a “separação entre propriedade e controle”. As implicações dessa separação dependem, argumentam aqueles autores, de o quanto os objetivos dos proprietários e gestores (isto é, daqueles que detêm o controle) diferem.
Um importante objetivo dos proprietários de uma empresa, escreveram aqueles autores, é “obter o maior lucro possível que seja compatível com um grau razoável de risco”. Os objetivos da gerência geralmente são difíceis de identificar. Os gestores podem desejar maximizar sua riqueza pessoal, e assim, podem perseguir estratégias que enriqueçam os próprios gestores, mesmo que os acionistas não se beneficiem. Os gestores podem desejar limitar seu risco pessoal e, assim, podem evitar iniciativas estratégicas arriscadas mesmo que os acionistas considerem esse risco “razoável”. Os gestores podem desejar ampliar suas perspectivas para outro emprego e, assim, podem tomar decisões que estimulem o desempenho no curto prazo mesmo que os acionistas sejam prejudicados no longo prazo. Finalmente, os gestores podiam simplesmente ser avessos a esforços excessivos – afinal, dedicar-se ao trabalho durante uma série de semanas de 80 horas fazendo planejamento estratégico é um trabalho pesado.
Apesar da existência destas questões na corporação moderna, percepção que contribuiu para dar origem a uma teoria econômica chamada “Theory of Agency of the Firm” (Teoria da Agência da Empresa)(também denominada “Theory of Principal-Agent”), os administradores (ou gestores) são fundamentais para um conjunto de tarefas que não necessariamente podem/devem ser conduzidas pelos seus fundadores proprietários (principalmente se estes forem empreendedores inovadores), tais como juntar pessoas para cumprir metas e objetivos. Estas tarefas podem compreender planejamento, organização, recrutamento, liderança ou direcionamento, dentre outras.
Ademais, desde que a disciplina de Estratégia de Negócios passou a ser central na administração contemporânea, os gestores são preparados para lidar com um problema central nos negócios: a tensão entre duas realidades conflitantes nos negócios. A primeira realidade é que a vantagem é transiente. Mesmo a mais formidável posição de mercado pode ser vulnerável às rupturas tecnológicas, competição, fluxos de capital, novos regimes regulatórios, mudanças políticas, e outras facetas de um ambiente caótico e imprevisível dos negócios. A segunda realidade é que a identidade corporativa é difícil de mudar. As qualidades de uma organização, que as distingue das outras, são construídas gradualmente, decisão por decisão, e continuamente reforçadas através de práticas organizacionais e conversações.
Portanto, se você é fundador de uma startup de tecnologia e deseja crescer e ter sucesso, não prescinda da contribuição dos administradores/gestores. Eles podem ser exatamente o que você está precisando mais anda não sabe!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber um pouco mais sobre o papel dos gestores nas empresas contemporâneas, fique a vontade para nos contatar!