Na newsletter da semana passada vimos, a partir do livro de Philipp Herzog, que na cultura da inovação é percebida a existência de “construtos orientadores” relacionados com inovação, ou “mentalidades orientadoras”, ou “facetas” da cultura inovadora. Ou seja, existe a mentalidade “orientada ao mercado”, a mentalidade “orientada à tecnologia”, a mentalidade “orientada ao espírito empreendedor”, e a mentalidade “orientada ao aprendizado”.

A questão que fica em aberto na literatura é a seguinte: o que acontece quando uma “faceta” ou “mentalidade” da empresa passa a dominar sua cultura inovadora? Em outras palavras, o que acontece se a empresa está “impregnada” pela mentalidade “orientada à tecnologia”, e como isso afeta, marcadamente, as orientações voltadas ao espírito empreendedor e ao mercado?

Nesta segunda parte defendemos o argumento de que a grande maioria das empresas de TICs do Brasil está “impregnada” pela “mentalidade orientada à tecnologia”, em detrimento de uma “mentalidade orientada aos negócios”, e isso tem afetado enormemente o desempenho de nossas empresas neste importante segmento econômico!

Para defender este argumento, valemo-nos de um modelo analítico que está sendo desenvolvido pelo C.E.S.A.R., intitulado “Modelo de Quatro Níveis de Competências”, e que foi primeiramente sugerido pelo seu Executivo Chefe de Negócios, o Engenheiro Eduardo Peixoto.  Descrito de forma bastante sucinta, neste modelo hierárquico o primeiro nível – N1 (e o mais básico) é denominado de Recursos, onde o recurso essencial (nas empresas de TICs) é gente, ou seja, profissionais de variada formação existentes nas empresas.  Acima deste nível encontramos o nível Capacidades (N2), onde os recursos das empresas (gente ou outros) são agrupados em formas específicas (a partir de competências e habilidades) com vistas a determinados fins.  Acima deste nível se encontra o nível Soluções (N3), que faz parte do que se pode denominar da rubrica “como fazemos”, e não do item do “quê dispomos” (próprio dos níveis anteriores). Finalmente, tem-se o último nível hierárquico, o de Negócios/Empreendimentos (N4), onde são encontradas as competências e habilidades voltadas ao entendimento dos ciclos de inovação e dos negócios, e ao desenho de empreendimentos que visem ganhos mútuos entre os interessados.

Tendo como base este modelo hierárquico, é possível identificar (de forma grosseira, e não amparada em qualquer análise quantitativa mais aprofundada) que, na grande maioria das empresas de TICs do Brasil, há uma relativa “hegemonia” (supremacia, influência preponderante) da “mentalidade da tecnologia”, própria dos níveis 1 e 2  do modelo acima descrito, em detrimento dos outros níveis (3 e 4).

Essa hegemonia é identificada a partir tanto do numerário de profissionais de tecnologia nas empresas de TICs (com predominância nas formações básicas da indústria de TICs, tais como bacharéis em Ciência da Computação, em Sistemas de Informação, Engenheiros em geral - Elétricos e Eletrônicos, de Computação, de Software, Mecânicos, etc.- e áreas correlatadas), quanto nas práticas e normas e valores básicos compartilhados, como apontado por Philipp Herzog (ver newsletter da semana passada).  São características dominantes nos níveis 1 e 2 discussões sobre novas tecnologias, novos padrões tecnológicos, e, no limite, sobre padrões internacionais, tais como enaltecimentos de melhores práticas de gestão de projetos tecnológicos (tais como PMI- Project Management Institute e seu PMBOK- Project Management Book of Knowledge).

Ou seja, nas empresas de TICs no Brasil os profissionais que preencheriam os requisitos essenciais dos níveis 3 (marcadamente com competências na análise de negócios, e sua cultura associada, como a de certificações internacionais, tais as do International Institute for Business Analysis -IIBA e o seu BABOK – Business Analysis Book of Knowledge – ver newsletter de 04-10-2015) e 4 (como desenho de novos negócios) são raros, ou no limite, ainda não conseguiram ser percebidos como estratégicos e vitais para o crescimento das empresas.

Voltaremos em outra oportunidade para analisar o porque deste fenômeno, e como ele pode ser contornado, com vistas ao crescimento mais rápido de nossas empresas!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre “facetas” da cultura de inovação, não hesite em nos contatar!