Pode parecer estranho ao leitor observar um título desta natureza, principalmente pelo fato do editor desta newsletter ser um engenheiro, professor e consultor nas áreas de inovação e tecnologia. No entanto, como também um profissional de Economia, não podemos nos abster de mergulhar nesta discussão, que tem fortes implicações para o futuro no nosso país, tão carente hoje de soluções que levem a mais crescimento econômico.
Esta discussão é antiga, mas recomeçou recentemente com inquietações teórico/práticas acerca do papel da produtividade econômica dos países desenvolvidos. E um aspecto desta discussão veio à tona com um post do Prof. Dietz Vollrath, em que ele se pergunta: “novas inovações realmente contribuem para um incremento do PIB?” Sua resposta foi que “talvez não, mas isso é uma falha do PIB, não da inovação!”. Prof. Vollrath partiu da constatação de outro economista, o Prof. Joel Mokir, que afirmou:
“Muitos bens e serviços novos são caros para projetar, mas uma vez que eles operam, eles podem ser copiados a baixo custo ou custo zero. Isto significa que eles tendem a contribuir pouco para o produto final medido, mesmo se seus impactos no bem-estar do consumidor sejam muito grandes. A avaliação econômica baseada em agregados, tais como Produto Interno Bruto se tornará crescentemente enganadora, à medida que a inovação acelera. Lidar com bens e serviços novos juntos não foi o objetivo a que estes números foram projetados, apesar dos esforços heroicos dos estatísticos do Bureau of Labor Statistics.”
Segundo o Prof. Vollrath nós medimos o PIB porque nós podemos, e porque ele nos dá uma boa indicação de variações de curto prazo na atividade econômica. Mas ele é só uma medida dos produtos e serviços presentemente produzidos. Isto é, o PIB mede os novos produtos e serviços em uma janela de tempo (por exemplo, o terceiro trimestre de 2014, ou tudo de 2013). Se todo o esforço em produzir um novo produto vem em desenvolvimento, mas ele então é copiado de graça, isto significa que há “uma-vez-por-todas” contribuição para o PIB no ano em que ele foi desenvolvido, e daí então, nada depois disso.
Coisas como refrigeradores, Diet Cokes, e carros contribuem para o PIB a cada período porque nós temos que fazer novas versões deles o tempo todo. Mas, em um senso, isto é um bug (erro), não uma caraterística. Imagine se, como aponta o Prof. Vollrath, tendo inventado a Diet Coke, você pudesse fazer cópias gratuitas dela. Isso iria rebaixar o PIB, à medida que a Coca-Cola perderia receitas para praticamente zero daqui por diante. Isto seria muito melhor, não seria, argumenta o Prof. Vollrath: Diet Coke de graça?
Ele vai além afirmando que se pudéssemos replicar os insumos físicos da Diet Coke de graça, mas que a Coca-Cola ainda possuísse a receita, e você tivesse que pagá-la para consumi-la. Isso iria reduzir ainda mais o PIB, já que a Coca-Cola não iria ganhar mais nada pela produção física da Diet Coke, e somente a partir do aluguel da receita cada vez que você desejasse uma Diet Coke. Isto ainda assim seria uma vitória, mesmo que o PIB caia. Muitas inovações são como fazer a Diet Coke de graça, mas possuindo a receita. Elas (as inovações) são valiosas apesar do fato de que elas não necessariamente contribuam muito para o PIB, e mesmo devem retirar dele.
Este é um tema interessante, já que muitos fazem hoje uma associação quase que imediata entre gerar mais inovações e “desejar” que isto contribua para o PIB. Voltaremos a esta discussão na próxima newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o papel da inovação no PIB, não hesite em nos contatar!