Temos referenciado com certa regularidade nesta newsletter o papel das criptomoedas na conformação de novos ecossistemas financeiros (ver newsletters dos dias 01-11-2020; 08-11-2020; 16-11-2020; 22-11-2020; 30-11-2020), bem como temos tocado em questões relacionadas com aplicações no mundo cripto (22-08-2021), e em problemas inerentes às estruturas desses novos mercados digitais (cripto ou não, tais como em 26-09-2021; 03-10-2021).
Porém, temos dado pouca atenção a um dos principais pilares deste novo mundo, como é o da tecnologia do Blockchain (fizemos algumas referências em algumas newsletters – ver dia 10-10-2021 - mas não colocamos esta tecnologia no centro da discussão). Mas ao fazermos tal reparo, ao invés de concentrarmos o foco no setor financeiro, preferimos tratar de um segmento econômico de grande importância, como é o da Energia.
A tecnologia do blockchain existe há algumas décadas, no entanto, somente recentemente (com a emergência do Bitcoin) é que ela mereceu ampla atenção tanto da academia quanto da indústria. Em recente artigo (de abril do corrente ano), intitulado “What blockchain can do for power grids” (O que blockchain pode fazer para redes elétricas), seus autores apresentam, através de uma compreensiva revisão, modos existentes e emergentes pelos quais a indústria de energia pode explorar a metodologia e prática da tecnologia do blockchain.
Segundo os autores o valor básico do blockchain é diretamente relacionado com o conceito de trust (confiança). Blockchain é um banco de dados descentralizado que permite entidades interagirem sem precisar confiar umas nas outras. Pessoas e organizações têm a habilidade de comercializar diretamente uns com outros, sem bancos ou qualquer organização de corretagem no meio, como é o caso das transações tradicionais.
Por conta disso, espera-se que blockchain mude o modo no qual nós desempenhamos transações de valor global. Portanto, é importante explorar o que esta tecnologia pode oferecer para o setor de energia. Sendo assim, além de uma breve introdução, o trabalho aqui resenhado está organizado da seguinte forma. Na seção 2 são ofertados os principais conceitos, é desenvolvido o background requerido sobre blockchain e sobre a próxima geração de redes elétricas, e são apontados os desafios que elas colocam. A seção 3 traz uma revisão dos estudos recentes semelhantes ao trabalho aqui referido. A seção 4 contém uma revisão dos artigos que apareceram em revistas científicas. A seção 5 apresenta os projetos associados financiados pela União Europeia, e a seção 6 apresenta outros esforços prometedores. A seção 7 traz as conclusões principais.
No trabalho os autores observam que nos anos recentes tem havido monitoramento da evolução das redes elétricas através das redes inteligentes, e ultimamente no que se denomina grid edge (borda da grade). As mudanças realmente interessantes que guiam os desenvolvimentos no setor de eletricidade ocorrem nas bordas da rede, onde consumidor encontra a grade (rede), compete com ela, proporciona sua disrupção e geralmente age de formas que estressam e testam seu modo tradicional de operação.
As mais importantes mudanças que estão acontecendo na rede elétrica são as seguintes:
● A produção é imprevisível e variável devido a um aumento no compartilhamento de fontes renováveis de energia;
● A transmissão e a distribuição se tornam mais controláveis e tolerantes a falhas devido à digitalização da rede;
● Prosumers (entidades que tanto produzem quanto consomem energia) têm o papel ativo dual de produzir e consumir;
● Cargas se tornaram mais interativas e dinâmicas.
Essas mudanças desafiam o modo tradicional em que as companhias concessionárias operam. Essas companhias são chamadas a dar respostas, a mudar e a se adaptarem. Um indicativo e interessante exemplo (onde se espera que blockchain tenha um papel crucial) de tal adaptação é a adoção prevista do conceito de Digital Twin (Gêmeo Digital) na indústria de energia. Gêmeos Digitais são entidades de software que consistem em réplicas digitais dinâmicas de ativos físicos, produtos e construções. Uma visão para os gêmeos digitais na rede elétrica é composta pelos seguintes modelos:
Negócios: Despacho ótimo de energia, marketing de energia e comercialização on-line;
Operacional: Fluxo de Distribuição ótimo de energia, aumentando a eficiência da transmissão e distribuição de energia, reduzindo custos;
Falha/Térmico: Predição de falha potencial, e.g. previsão de sobrecarga, otimizando estratégia de controle avançado;
Ativo: Gestão de desempenho de ativo, predição de saúde, detecção antecipada de falhas, otimização de eficiência de desempenho.
O trabalho avança por um amplo leque se aplicações da tecnologia de blockchain, particularmente devido ao relacionamento em duas vias entre a comercialização de energia e o custo de energia de operar os algoritmos de blockchain. Mas para apontar os mais emergentes casos de uso do blockchain em energia, os autores apontam para a Figura 1 à frente, e que podem ser transformadores para a indústria de energia.
Aqui na Creativante, nossa tese é a de que o papel mais relevante da tecnologia do blockchain deverá ser na área da segurança da prestação dos serviços de energia. E este papel ganha mais importância na medida em que a indústria de energia já é segunda no mundo em desenvolvimento de blockchain, perdendo apenas para o setor financeiro (Figura 2 à frente). Mas esta é uma questão para ser tratada com mais dedicação!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o papel do blockchain no setor de energia, não hesite em nos contatar.