Em nossas mais recentes newsletters estivemos resenhando livros recentes que tratam da questão da moeda e suas instituições (particularmente a de 28-08-2023, a de 04-09-2023, e a de 25-09-2023). Uma característica comum aos livros resenhados é a de que eles pertencem ao campo da “mainstream economics” (principal corrente da Economia), apesar de suas diferenças de enfoque.
Desta feita, gostaríamos de apontar para um novo olhar sobre a moeda e suas instituições. Não chega a ser uma leitura de apologia, como já observamos neste mesmo espaço com as newsletters de 22-05-2022 e de 29-05-2022, que versaram sobre resenhas dos livros “O Padrão Fiat” e “O Padrão Bitcoin”, ambos de Saifedean Ammous.
Estamos tratando da contribuição da jovem engenheira Lyn Alden, transformada em especialista em pesquisa de ações e estratégias de investimento (ver https://www.lynalden.com/). Lyn Alden lançou recentemente o livro intitulado “Broken Money: Why Our Financial System Is Failing Us and How We Can Make It Better” (Moeda Quebrada: Como Nosso Sistema Financeiro Está Falhando Conosco e Como Podemos Torná-lo Melhor).
Neste seu livro, Lyn Alden lida com moeda através das lentes dos desenvolvimentos tecnológicos. Ele cobre a evolução da moeda no passado, porque a tecnologia e instituições presentes que nós usamos para a moeda estão falhando conosco, e algumas das possíveis soluções para os problemas monetários que agora enfrentamos. Ele foi escrito numa linguagem simples, e é modular no seu design, de forma que os leitores possam focar nas partes que lhes interessam mais.
O livro está subdividido em seis partes, a seguir reveladas pela autora. A Parte 1 encaminha o leitor através dos ledgers (livros-razão, em Contabilidade) da antiguidade e moedas mercadorias, para analisar por que a moeda emergiu naturalmente e por que certas moedas superaram competitivamente outras. Segundo a autora, isto nos ajuda a discernir quais são as propriedades ideais da moeda, e porque estas propriedades tendem a reemergir de tempos em tempos independentemente na história. Ele também explora a relação entre crédito social e moeda mercadoria para oferecer uma reconciliação para duas escolas do pensamento econômico que frequentemente estão em oposição.
A Parte 2 é sobre os primeiros serviços bancários e a emergência dos bancos de serviços completos. Ela examina como vários desenvolvimentos tecnológicos aceleraram transações monetárias e os abstraíram dos lentos processos dos acordos monetários físicos, os quais trouxeram muitos benefícios, mas também algumas desvantagens. Ela termina ao discutir como o crescente hiato entre transações e acordos no alvorecer da era das telecomunicações deu considerável poder aos bancos e bancos centrais, desde que eles se tornaram as entidades primárias capazes de transmitir moeda em todo o mundo.
A Parte 3 descreve o sistema financeiro global tal como tem sido estruturado desde o início do século 20, incluindo a geopolítica por trás de sua criação, e como ele tem mudado ao longo do tempo. Ela cobre o período das falhas da atrelagem ao ouro no tempo da I Guerra Mundial, o sistema Bretton Woods que existiu dos anos 1940 ao início dos anos 1970, e o Eurodollar/Petrodollar system que o substituiu dos anos 1970 até o presente. Finalmente, ela explica como alguns aspectos problemáticos da presente versão do sistema levou aos desbalanços estruturais em todo o mundo nas décadas recentes.
A Parte 4 analisa os detalhes de como a moeda é criada dentro do moderno sistema financeiro e como dívida desestabiliza inerentemente o sistema ao longo do tempo. Ela então examina alguns dos desbalanços e incentivos problemáticos causados pela constante desvalorização das unidades monetárias, à medida que poupadores tentam manter poder de compra ao comprarem outros ativos não monetários. Ela mostra como fazedores de leis têm sido empoderados com ledgers públicos flexíveis para engajarem em warfare (guerra) sem taxação, para desempenhar resgates seletivos através de desvalorização de outras poupanças das pessoas, e, em geral, para financiar despesas de maneiras opacas.
A Parte 5 olha para as inovações monetárias digitais no século 21, incluindo Bitcoin, stablecoins, contratos inteligentes, e central bank digital currencies (moedas digitais dos bancos centrais). Esta é, na opinião da autora, a parte mais especulativa do livro, porque é sobre o presente e futuro, mais do que sobre o passado. Ela descreve como novas tecnologias que estão disponíveis para nós, e olha especificamente para vários trade-offs e riscos que estas tecnologias surgem ao lado de oportunidades que elas podem oferecer.
Finalizando, a Parte 6 explora a ética da moeda e comunicação, os quais são os dois componentes do comércio. Ela discute o papel da criptografia em geral (uma parte crítica do moderno sistema bancário e da infraestrutura da internet), redes financeiras abertas versus fechadas, e a intersecção da tecnologia financeira e direitos humanos.
Como revela a autora, na sua essência a moeda é um ledger (livro-razão). A moeda mercadoria serve como um ledger governado pela natureza. A moeda de banco serve como um ledger governado por estados nação. A moeda open-source (de código aberto) serve como um ledger governado pelos usuários. Como o livro explora, a evolução da tecnologia muda as estruturas prevalentes de poder e incentivos ao redor da moeda de uma era para outra.
Em resumo, declara a autora, seu background consiste em uma mistura de engenharia e finanças, e ela usa o enfoque de engenharia de sistemas quando analisa vários aspectos do sistema financeiro global. A engenharia de sistemas é um campo multidisciplinar que foca no design, integração, operação e manutenção de sistemas complexos ao longo dos seus ciclos de vida. E ela trata o sistema financeiro global como o sistema “engenheirado” que ele é, e assim ela achou que este método de análise chega a conclusões novas que desafiam o pensamento econômico convencional.
Eis aí um livro interessante que se junta a outros que estão tentando entender as transformações por que passam a moeda e suas instituições. Como já manifestamos na newsletter de 28-08-2023, estamos no limiar de uma nova transição de padrão monetário, e na falta de um nome mais adequado, estamos chamando este novo padrão de Padrão Monetário Tecnológico PMT.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre moedas e suas instituições, não hesite em nos contatar!