Desde o dia 17/03/2025 estamos resenhando o artigo intitulado “Understanding the role of debt in the financial system”, publicado pelo economista Bengt Holmstrom (Professor de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA) no BIS – Bank for International Settlements – Working Paper de janeiro de 2015.
A principal contribuição do Prof. Holmstrom neste texto é mostrar que os mercados de moedas (monetários) são fundamentalmente diferentes dos mercados de bolsas (stock markets), e como eles são diferentes. Decidimos tratar deste artigo porque os criptomercados (mercados de cripto ativos), tais como criptomoedas, e de modo particular os emissores de stablecoins, operam de uma maneira semelhante aos fundos mútuos ou fundos de mercados de moedas tradicionais – somente, ou apenas, sem pagar juros diretamente aos detentores de stablecoins.
Vimos que o sistema financeiro internacional evoluiu dramaticamente ao longo das últimas décadas. Constatamos que hoje a maioria das transações financeiras não ocorre através de depósitos bancários, mas sim através da figura do Non-Bank Lending (Empréstimo Não-Bancário). Na sequência, começamos a examinar as características principais dos mercados de moeda, começando com a de que eles comercializam através de dívidas que são lastreadas, explicita ou implicitamente, por colateral (garantia), e que tal transação tem baixos custos de informação porque não necessita de descoberta de preço, registrando também que há múltiplas razões pelas quais dívida é um processo barato.
No entanto, o Prof. Holmstrom aponta que além da optimalidade da dívida, temos outras características relevantes deste instrumento, tais como sua proposital opacidade, as consequências nefastas de assumir dívida e sua inerente opacidade, o shadow banking – a atividade bancária sombra, e as implicações para a geração de políticas.
De forma breve, quanto à proposital opacidade, pelo fato de dívida ser information-insensitive (não sensitiva à informação), traders têm incentivo mudo para investir em informação sobre dívida. Isto ajuda a explicar por que poucas questões eram perguntadas sobre dívida altas: a probabilidade de default (não pagamento) era percebida como sendo baixa, e o valor da aquisição de informação privada sendo correspondentemente pequeno.
Com relação às consequências nefastas de dívida e opacidade, dívida super colateralizada, maturidades breves de dívida, precificação de referência, avaliação grosseira, opacidade e “ignorância simétrica”, todos fazem sentido em tempos bons, e contribuem para a liquidez dos mercados de moedas. Mas, há o reverso. Tudo o que adiciona para a liquidez em tempos bons empurra o risco para o fim. Se o colateral subjacente se torna emparelhado e a confiança prevalente é quebrada, as consequências podem ser cataclísmicas, com a ocorrência de pânicos.
Por último, o rápido crescimento do shadow banking (atividades bancárias sombra) e do uso de produtos estruturados complexos têm sido vistos como uma das principais causas de crises financeiras. É verdade que os problemas começaram no shadow banking system, mas antes de pular para a conclusão de que o shadow banking foi baseado em infundadas, e mesmo práticas sombrias, o Prof. Holmstrom aponta que é importante tentar entender sua impressionante expansão. Neste sentido, nós da Creativante indicamos nossas próprias investigações sobre o shadow banking system (ver newsletters de 25-06-2023; 03-07-2023; 10-03-2023; 17-03-2023; e 24-07-2023).
Finalmente, ao invés de examinar as implicações de política do que foi tratado pelo Prof. Holmstrom (acerca das características dos mercados de moedas, resenhadas nas duas últimas newsletters) na parte final do seu texto, perguntamo-nos: afinal, como podemos situar (à luz das caraterísticas dos mercados de moedas), os mercados de cripto ativos, tais como stablecoins, na Tabela 1 à frente, indicada pelo Prof. Holmstrom?
Este é o nosso desafio para a próxima newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o papel da dívida no sistema financeiro, não hesite em nos contatar!
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Fonte: Holmstrom (2015)