Há duas semanas iniciamos uma série com um breve relato sobre a contribuição da Inteligência Artificial na Modelagem das Finanças Corporativas. Fizemos um sucinto resumo de algumas das principais contribuições das literaturas acadêmica e profissional de Finanças Corporativas, e apontamos como o modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) evoluiu para a APT (Arbitrage Pricing Theory), e desta para a Artificial Intelligence Pricing Theory (AIPT). Nesta newsletter tratamos como estamos evoluindo da AIPT para o Artificial Intelligence Pricing Model (AIPM).

De acordo com Kelly et. al. (2025) (1), a revolução dos “large language models - LLMs” - grandes modelos de linguagem – emergiu de dois discernimentos de modelagem complementares. Primeiramente, modelos de linguagem que estudam palavras sem consciência do contexto circundante do texto, não podem representar fielmente o significado do texto e, portanto, sofrem em tarefas como predição de palavras e tradução. No entanto, capturar relacionamentos contextuais entre palavras é um problema dimensional extraordinariamente elevado. O chamado modelo “transformer” (que tratamos na newsletter A Economia do ChatGPT) é uma descoberta divisora de águas que torna possível modelar palavras em contexto mantendo computational tractability (tratabilidade computacional) flexivelmente.

O segundo discernimento é que desempenho sem precedente fora-da-amostra pode ser atingido através de exorbitantes parametrizações do modelo, ou da “complexidade”. Este surpreendente fenômeno empírico estimulou uma busca por alicerces teóricos da virtude da complexidade. A tratabilidade computacional dos transformers é o primeiro nível em direção à implementação de grandes parametrizações. E ainda, recentemente os LLMs tais como GPT-4 empurram os limites da complexidade do modelo avante ao adotarem componentes de escalagem que proliferam a parametrização.

Estes discernimentos que fundamentam o sucesso dos LLMs têm também estimulado uma revolução de IA mais ampla, propulsando ganhos em visão computacional, biologia computacional, e outras aplicações de IA ao alavancarem eficientemente informação contextual em modelos de larga escala.

A literatura em finanças tem focado primariamente em modelos de predição de ativos próprios (own-asset prediction) de pequena escala, ou seja, aqueles em que previsões para um ativoi dependem de variáveis condicionais que são específicas para o ativoi. A experiência recente com IA sugere que a previsibilidade do ativo próprio pode ser a mais limitante restrição mantida em precificação de ativos. Tal como um modelo de linguagem de bag-of-words (saco-de-palavras), modelos de previsão de ativos próprios abstraem o contexto ao falharem em usar informação sobre o universo mais amplo dos ativos para descrever risco e retorno de cada ativo individual. A tipicamente pequena parametrização em modelos de finanças tende a mascarar a extensão completa da previsibilidade encoberta nos dados financeiros.

Neste sentido, os autores (1) introduzem o conceito de Artificial Intelligence Pricing Model – AIPM. Eles definem um modelo AIPM como um modelo que implanta no stochastic discount fator – SDF (fator de desconto estocástico) (2) a mesma context-aware and large-scale transformer architecture – arquitetura transformer consciente do contexto e de larga escala – dos LLMs do estado da arte e outros AI. Os atributos críticos de um AIPM são: (i) que ele flexibiliza ações condicionando informação ao longo dos ativos a chegarem a previsões conscientes do contexto; (ii) que o desempenho de modelo out-of-sample é maximizado ao empurrar os limites da parametrização do modelo.

Há muito ainda o que desenvolver na aplicação de IA na modelagem de finanças corporativas. A preocupação central desta série de newsletters foi unicamente a de apontar como alguns dos desenvolvimentos em IA estão também contribuindo para o desenvolvimento das finanças.

Se sua empresa, organização ou instituição desejam saber mais sobre inteligência artificial na modelagem das finanças corporativas, não hesite em nos contatar!

  1. Kelly, Bryan T., Boris Kuznetsov, Semyon Malamud, and Teng Andrea Xu (2025). “Artificial Intelligence Asset Pricing Models”. Working Paper 33351, National Bureau of Economic Research – NBER. USA. January.
  2. https://en.wikipedia.org/wiki/Stochastic_discount_factor