“Hoje, a grande maioria do dinheiro em circulação em virtualmente todas as economias avançadas existe na forma de depósitos bancários. Os depósitos representam os passivos, ou seja, as obrigações - as promessas contratualmente aplicáveis do seu banco para aceitar, transferir, e retornar seu dinheiro de acordo com suas instruções”. (1) Além de apontar para tal fato da moderna economia, o Prof. Dan Awrey, Professor de Direito da Cornell University nos EUA, faz a seguinte pergunta em seu mais recente livro: “Por que nós confiamos tanto nestas empresas privadas (bancos, grifos nossos) com nosso dinheiro tão duramente conquistado?” (1).
A resposta é que os bancos não são empresas privadas quaisquer. Nem os depósitos bancários são somente quaisquer contratos. De fato, bancos e depositantes bancários se beneficiam de algumas das mais sofisticadas engenharias legais que o mundo já viu. Mais importante, a lei provê os bancos com uma rede de segurança pública não geralmente disponível para outros tipos de empresas privadas.
Esta rede de segurança inclui acesso às facilidades de empréstimos de emergência dos bancos centrais e aos arcabouços de resolução especial para bancos em dificuldades. Mas há um outro imperativo para este status especial dos bancos: a maioria do dinheiro (moeda) na moderna economia é criada por bancos comerciais ao fazerem empréstimos.
E como esses depósitos bancários são criados? O Banco da Inglaterra nos proporciona algumas respostas (2). Sempre que um banco faz um empréstimo, ele simultaneamente cria um depósito pareado na conta bancária do tomador do empréstimo, e, deste modo, cria dinheiro (moeda) novo(a).
A realidade de como o dinheiro (moeda) é criado hoje difere da descrição encontrada em alguns livros texto de Economia:
- Mais do que bancos recebendo depósitos quando famílias poupam e, então, os emprestam, empréstimos bancários criam depósitos. Ou seja, bancos não agem simplesmente como intermediários, emprestando depósitos que poupadores depositam neles;
- Em tempos normais, o banco central não fixa a quantidade de dinheiro em circulação, nem o dinheiro do banco central é multiplicado em mais empréstimos e depósitos.
Apesar dos bancos comerciais criarem dinheiro através de empréstimos, eles não podem fazer isso livremente sem um limite. Bancos são limitados em como eles podem emprestar, se eles querem permanecer lucrativos em um sistema bancário competitivo.
Regulação prudencial também age como uma restrição nas atividades bancárias de forma a manter a resiliência do sistema financeiro. E as famílias e companhias que recebem o dinheiro criado pelos novos empréstimos podem tomar ações que afetem o estoque de dinheiro – eles poderiam rapidamente destruir dinheiro ao usarem ele para pagar suas dívidas existentes, por exemplo.
E aqui a política monetária age como o último limite na criação de dinheiro. Os bancos centrais objetivam assegurar que a quantidade de dinheiro criada na economia seja consistente com inflação baixa e estável. Em tempos normais, os bancos centrais implementam políticas monetárias ao fixarem a taxa de juros sobre as suas reservas. Isto, por sua vez, influencia um leque de taxas de juros na economia, incluindo os empréstimos dos bancos.
Na próxima newsletters voltaremos a tratar sobre a criação de dinheiro em circunstâncias excepcionais. Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre como o dinheiro (moeda) é criado nas modernas economias, não hesite em nos contatar!
- Awrey, Dan. (2024). Beyond Banks: Technology, Regulation, and the Future of Money (p. 1). Princeton University Press. Edição do Kindle.
- https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/quarterly-bulletin/2014/money-creation-in-the-modern-economy